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Hoje é sábado, 19 de julho de 2025

Transtornos mentais, medicamentalização e psicanálise

“A medicalização do sofrimento humano impede que o sujeito elabore o sentido de sua dor, o que o leva a repetir sintomas silenciados por medicamentos.” (Jaques Lacan)

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Transtornos mentais e psicanálise

Ouça o áudio de "Transtornos mentais, medicamentalização e psicanálise", do colunista Júlio Vasconcelos

As estatísticas sobre doenças mentais no mundo são assustadoras! Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 25% da população global sofre de algum tipo de doença mental.

Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com depressão, cerca de 275 milhões de transtornos de ansiedade, 60 milhões tenham transtorno bipolar, caracterizado por oscilações extremas de humor entre mania e depressão.

A esquizofrenia afeta cerca de 21 milhões de pessoas e cerca de 800.000 morrem por suicídio a cada ano, tornando-se uma das principais causas de morte no mundo.

A Síndrome de Burnout, um estado de exaustão física, mental e emocional causado pelo esgotamento prolongado em situações de estresse no trabalho afeta cerca de 25 a 30% dos trabalhadores em todo o mundo. Não é à toa que as doenças mentais são consideradas o mal do século.

O DSM, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é uma publicação da Associação Americana de Psiquiatria (APA) que traz uma classificação sistematizada dos transtornos mentais, com critérios diagnósticos, descrições clínicas e estatísticas de prevalência. É utilizado por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais da saúde mental como ferramenta de diagnóstico e padronização dos transtornos mentais. Sua primeira publicação foi em 1951, quando classificava cerca de 106 Transtornos; atualmente são mais 300, portanto um aumento de cerca de 283% de casos! Algumas crianças ou jovens já dizem com orgulho que tem Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH. Não é à toa que o número de drogarias e a venda de medicamentos vem aumentando assustadoramente, bem como o faturamento das indústrias farmacêuticas. A medicamentalização da saúde mental, que está relacionada ao uso excessivo ou inadequado de medicamentos psicoativos para tratar sofrimentos psíquicos, vem se tornando um padrão em alguns consultórios psiquiátricos, com o uso dos psicofármacos.

Psicofármacos são medicamentos que atuam sobre o sistema nervoso central (SNC) com o objetivo de modificar o humor, a percepção, o pensamento ou o comportamento. Eles são usados no tratamento de transtornos mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia, bipolaridade, insônia, entre outros. Eles não são vilões. Na verdade, eles podem ser essenciais em muitos quadros, mas devem ser usados com critério, supervisão médica e em articulação com acompanhamento psicoterapêutico e nesse contexto que surge a Psicanálise.

A Psicanálise é uma prática terapêutica criada por Sigmund Freud no final do século XIX, cujo principal objetivo é compreender e tratar o sofrimento psíquico por meio da escuta, da fala e da interpretação dos conteúdos inconscientes. A Psicanálise surgiu a partir das observações clínicas de Freud com pacientes histéricos, que apresentavam sintomas físicos sem causa orgânica aparente. Ao investigar essas manifestações, Freud descobriu que tais sintomas estavam ligados a conflitos psíquicos reprimidos, ou seja, experiências e desejos inconscientes que não podiam ser expressos livremente. A Psicanalítica baseia-se no desenvolvimento de terapêuticas, nas quais o paciente é convidado a dizer tudo o que lhe vier à mente, através de um processo chamado de Associação Livre. O Psicanalista escuta atentamente o paciente, identificando padrões, contradições, lapsos, sonhos, fantasias e repetições sintomáticas e utiliza técnicas de manejo para interpretar os sintomas, ajudando o indivíduo a se apropriar de seus conflitos e desejos, descobrindo a causa-raiz de seus problemas gravados no seu inconsciente e de como reelaborá-los. É o princípio fundamental dos 3R´s: Relembrar, Reviver e Ressignificar.

Nesse cenário, a Psicanálise oferece um espaço de escuta não medicalizante do sofrimento, disponibiliza uma via para o sujeito compreender suas repetições, culpas e angústias em um processo que favorece transformações estruturais da vida psíquica e não apenas alívio superficial dos sintomas, em uma abordagem que valoriza a singularidade de cada sujeito, em um caminho diferenciado da padronização das classificações diagnósticas. A psicanálise não promete “cura rápida”, mas oferece um caminho de escuta e elaboração que respeita a complexidade do sofrimento de cada ser humano.

Num mundo em que o mal-estar psíquico se intensifica, a Psicanálise convida o sujeito a reencontrar o sentido de sua existência, a responsabilidade pelo seu desejo de cura e a liberdade de ser quem é, para muito além dos meros sintomas e diagnósticos classificatórios e estigmatizantes.

Se você quiser se aprofundar no assunto, é só retornar: Júlio César Vasconcelos – Psicanalista Integrativo – Especialista em Perdas e Luto (31)99345-0515.

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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