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Hoje é quarta-feira, 16 de julho de 2025

Entre o capitalismo e o comunismo e as massas de manobra

“O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O comunismo é o contrário". (Millôr Fernandes)

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Comunismo e capitalismo

Ouça o áudio de "Entre o capitalismo e o comunismo e as massas de manobra", do colunista Júlio Vasconcelos:

Nos últimos tempos tenho acompanhado nas mídias inúmeros discursos e mensagens radicais de um grande número de pessoas demonizando o comunismo e seus seguidores, muitas vezes de forma anticristã. Não sou comunista e nem quero ser, pois acredito que ele não é a solução, mas também não sou adepto desse capitalismo selvagem que impera no mundo em que vivemos, onde prevalece o pensamento maquiavélico de que os fins justificam os meios e onde existe uma concentração enorme de vultuosas quantias nas mãos de poucos e a miséria nas mãos de muitos.

Dizem que o ignorante mais perigoso é aquele que pensa que sabe, mas no fundo não sabe nada do que está criticando; é um mero mecanismo de manobra, como muitos que andam circulando por aí. Creio que um pouco mais conhecimento não faz mal a ninguém e, com certeza, ajuda a iluminar pensamentos distorcidos, portanto, permitam-me os caros leitores compartilhar algumas reflexões relacionadas ao assunto.

O capitalismo teve suas origens com a Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX com o surgimento das fábricas, da produção em massa e do trabalho assalariado e o desenvolvimento de bancos e grandes empresas. Desde o começo, criou uma divisão marcante entre proprietários dos meios de produção, a chamada burguesia e os trabalhadores assalariados, chamados de proletariado, assim chamados porque sua principal riqueza ou valor para o Estado eram os filhos (proles) que podiam gerar, ou seja, a sua capacidade reprodutiva para garantir a continuidade da população e do exército.

A acumulação de riquezas em poucas mãos trazida pelo capitalismo gerou enormes disparidades entre ricos e pobres, que se tornaram mais visíveis nas cidades industriais. Os trabalhadores passaram a enfrentar jornadas exaustivas de 12, 14 ou até 16 horas por dia, baixos salários e condições perigosas nas fábricas. O trabalho infantil e exploração de mulheres também eram comuns. O rápido crescimento das cidades industriais levou ao surgimento de favelas, falta de saneamento, moradias precárias, doenças, poluição do ar e da água e destruição do meio ambiente que, infelizmente, continuam até os dias de hoje.

No meio dessa confusão, lá pelos idos de 1848, surgem Marx e Engels com o Manifesto Comunista, um documento histórico que fazia uma dura crítica ao sistema capitalista. Alguns conteúdos marcantes que parecem ter sidos incrivelmente escritos nos dias de hoje acabaram por atrair inúmeros seguidores e valem a pena ser conhecidos:

“Hoje em dia tudo parece levar no seu ceio a própria contradição. Vemos que as máquinas, dotadas da propriedade maravilhosa de reduzir e tornar mais frutífero o trabalho humano, provocam a fome e o esgotamento do trabalhador. As fontes de riqueza recém-descobertas se convertem, por arte de um estranho malefício, em fontes de privações. Os triunfos da arte parecem adquiridos ao preço de qualidade morais.

O domínio do homem sobre a natureza é cada vez maior, mas ao mesmo tempo, o homem se transforma em escravo de outros homens ou de sua própria infâmia. Até a própria luz da ciência só parece poder brilhar sob o fundo tenebroso da ignorância. Todos os nossos inventos e progressos parecem dotar à vida intelectual as forças materiais, enquanto reduzem o ser humano ao nível de uma força material bruta”.

Pelo teor desse pequeno excerto, dá para sentir que, na sua essência, Marx tinha algum fundo de razão. Segundo ele, o comunismo, em sua fase final traria uma sociedade sem classes, sem Estado, sem propriedade privada, onde reinaria a igualdade plena e a abundância de bens, onde cada um receberia segundo sua capacidade e segundo suas necessidades. Seria algo como o que imperava nos princípios do cristianismo, onde os irmãos tinham tudo em comum!… Mera utopia!

O problema é que na prática, o comunismo não trouxe a solução; pelo contrário, trouxe inúmeros outros problemas com a ditadura do proletariado; houve um abismo enorme entre a intenção e a execução! Os regimes comunistas implantaram Estados altamente centralizados, violentos e autoritários, muitas vezes com um partido único. A intenção de eliminar a exploração de classes acabou dando lugar ao domínio de uma nova elite massacrante, burocrática e partidária, com a restrição da liberdade política, de expressão e de imprensa. Os dissidentes eram perseguidos, presos, exilados ou executados. Os regimes comunistas usaram e ainda usam o terror de Estado para manter o poder, com prisões, campos de trabalhos forçados e massacres.

Diante disso tudo, vivemos hoje uma enorme desilusão, onde nem um nem outro sistema trouxeram a solução para os problemas humanos, mas não pretendo aqui impor isto como uma verdade absoluta; como comentei anteriormente, é uma pequena reflexão. Deixo o espaço aberto para alguns críticos que porventura tenha pontos de vista diferenciados. O fato é que creio que nenhum sistema de governo irá definitivamente conseguir resolver os problemas da humanidade; a solução está dentro do próprio coração humano. Infelizmente, falta-nos a chave para desvendá-la!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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