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Hoje é quarta-feira, 16 de julho de 2025

Entre guerras e desastres: Valores esquecidos sob lama, sangue e cinza

“Há uma grande necessidade de oração, conversão, uma volta evangélica para a vida interior, para valores esquecidos que estão desaparecendo sob lama, sangue e cinza”. (Adélia Prado)

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Entre guerras e desatres

Ouça o áudio de "Entre guerras e desastres: Valores esquecidos sob lama, sangue e cinza", do colunista Júlio vasconcelos:

Recentemente tive a oportunidade de ter acesso a uma entrevista concedida pela grande poetisa, professora, filósofa, romancista e contista Adélia Prado, ao Jornal “O Globo” em 2015, falando com maestria sobre diversos temas contemporâneos, entre eles sobre o rompimento da Barragem de Fundão em Mariana. Apesar de a entrevista ter sido realizada há algum tempo, pareceu-me bastante atual. Chamou-me bastante a atenção a profundidade de seus comentários sobre a tragédia e creio que valha a pena trazer em pauta algumas reflexões sobre o assunto, visto que no fundo, de uma forma ou de outra, somos todos atingidos.

Adélia começava dizendo que não via sinais para otimismo, a não ser através da fé e da esperança no auxílio divino e que a lama que tomou conta do Rio Doce é simbólica e que deveria ter um efeito purgativo, tendo em vista o turbilhão de horrores que presenciamos diuturnamente no Brasil e no mundo. O termo purgativo aqui tem o sentido de algo que serve para purificar ou livrar impurezas ou erros e progredir para um contexto mais evoluído sob os aspectos morais, espirituais e psicológicos. A autora afirmava ainda que, em meio a tantas trevas, aguardava um renascimento na política e na igreja e eu acrescentaria, com muito mais força, no sistema capitalista ou comunista em que vivemos, fugindo das polarizações radicalizadas.

Fico pensando se essa lama realmente teve um efeito purgativo como dizia a Adélia, tendo em vista os horrores que presenciamos no Brasil e no mundo. Menos de 04 anos depois do rompimento da Barragem de Fundão, houve o rompimento da Barragem de Brumadinho e até hoje existe uma briga na justiça por reparação dos prejuízos causados, com um monte de políticos subindo nos palanques e querendo um quinhão cada vez maior para se projetar, sem contar que algumas comunidades que vivem nos arredores das barragens vivem pesadelos com a desocupação de suas moradias e o medo de serem atingidas. Mais distante de nós, duas guerras explodem, tirando a vida de um grande número de inocentes, uma entre a Rússia e a Ucrânia, que já dura mais de 03 anos e a mais recente entre Israel e Irã, com bombas explodindo por todos os lados, impactando de maneira traumática o mundo inteiro. É a infindável briga do grande império do Tio Sam com os Todo-Poderosos Aiatolás, onde, no final das contas, uma quantidade enorme de inocentes acaba pagando com a própria vida! Fica no ar uma pergunta que não quer se calar: onde e quando teremos um renascimento na política, na religião e nos sistemas de governo, com quase todos que se dizem cristãos, principalmente os donos do poder, explodindo “bombas” por todos os lados?

Mais à frente na sua fala, Adélia afirmava que não era respondendo com as mesmas armas, quer seja com politicagem, radicalismos, palavras de ódio e mensagens falsas, quer seja com bombas e metralhadoras que iríamos resolver o problema. A resposta, segundo ela, estaria em um recolhimento, a um silêncio que nos permitiria ouvir atentamente, encontrar e admitir a nossa culpa. Refletindo sobre o seu comentário, sinceramente tenho a impressão que vivemos em um mundo com uma enorme quantidade de surdos!

No final, de uma maneira fortemente espiritualizada, a grande escritora dizia que há uma grande necessidade de oração, conversão, uma volta evangélica para a vida interior, para valores esquecidos que estão desaparecendo sob lama, sangue e cinza. Dizia que era necessária uma comoção maior, que não se acabasse com flores e velas sobre os cadáveres e fotografias sentimentais sobre as filas de refugiados. Finalmente, em uma espécie de desabafo, ela dizia ainda que não sabia o que fazer e que só tinha uma única certeza: a de que deveria recomeçar em seu próprio coração, dentro da sua própria casa uma radical mudança para o amor, para o perdão, para a tolerância, para a atenção real para o próximo, segundo as palavras de Jesus e dos profetas!

Que bom se as palavras da escritora-filósofa iluminassem realmente os corações e nos trouxessem a tão esperada paz. Como dizia o grande poeta-cantor mineiro Beto Guedes na sua bela canção “Sol de Primavera”, a lição já sabemos de cor, só nos resta aprender!…

Quem tem ouvidos, que ouça!

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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