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Hoje é terça-feira, 29 de abril de 2025

Geni e o Zé Pellin

“De tudo que é nego torto do mangue, do cais, do porto ela já foi namorada...” (Geni e o Zepelim - Chico Buarque de Holanda)

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Geni e o Zé Pellin

Ouça o áudio de "Geni e o Zé Pellin", do colunista Júlio Vasconcelos:

Década de 70! Por mais que os negacionistas radicais de plantão queiram negar, o Brasil vivia em plena ditadura militar. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em 2012, documentou que pelo menos 434 pessoas foram mortas ou desapareceram devido à ação do regime militar entre 1964 e 1985. A Comissão e outras fontes estimam que milhares de pessoas foram torturadas pelos órgãos de repressão, como o DOI-CODI e o DOPS. As vítimas incluíam opositores políticos, estudantes, sindicalistas, intelectuais, artistas e pessoas suspeitas de atividades subversivas. Centenas de brasileiros foram forçados ao exílio para escapar da perseguição política, entre eles estavam figuras proeminentes do mundo artístico como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, e muitos outros intelectuais e ativistas políticos.

Nesse contexto, em 1978, é lançada a música “Geni e o Zepelim” da obra de Chico Buarque de Holanda, que fazia parte da peça “Ópera do Malandro”, logo em seguida, censurada. Nessa época a censura atuava fortemente sobre a produção cultural; obras que criticavam o regime, abordavam temas considerados subversivos ou utilizavam linguagem explícita ou mesmo metafórica eram frequentemente censuradas.

A peça “Ópera do Malandro” enfrentou resistência e censura devido ao seu conteúdo crítico e provocador, que incluía “Geni e o Zepelim”. A letra da música, que aborda a marginalização e a hipocrisia social, foi considerada problemática pelas autoridades censoras, resultando em restrições sobre sua execução pública e radiodifusão. Com a redemocratização do Brasil em 1985, a censura oficial sobre a produção cultural foi eliminada, permitindo a plena liberação de obras antes censuradas, incluindo “Geni e o Zepelim”. A letra narra a história da Geni, uma prostituta (ou travesti) que é marginalizada e desprezada pela sociedade em que vive. Ela é constantemente humilhada e maltratada pelos moradores da cidade. No entanto, a situação muda quando o dirigível Zepelim, pilotado por um estrangeiro ameaçador, chega à cidade e exige que Geni passe a noite com ele para poupar a cidade da destruição.

A música critica a hipocrisia da sociedade que marginaliza e despreza a Geni, mas, quando precisam dela para salvar a cidade, de repente a tratam como uma heroína, demonstrando de forma visceral como a sociedade pode ser seletiva e interesseira em sua moralidade. Geni é explorada e sacrificada pela sociedade quando lhes convém, evidenciando a exploração do corpo feminino e a ideia de que algumas vidas são consideradas descartáveis se isso significar um benefício para a maioria.

Confesso que a temática envolvida no enredo da música Geni e o Zepelin sempre me deixou fortemente tocado pela profundidade do conteúdo e daí para dar origem ao lançamento do meu novo livro “Geni e o Zé Pellin” foi um pequeno passo. O livro é um romance urbano de ficção cujo conteúdo procura seguir literalmente o roteiro proposto pela letra original, buscando dar vida aos personagens citados e relacionando-os a temas contemporâneos relevantes e polêmicos, entre eles a prostituição, a questão das desigualdades sociais e das invasões de terra, a questão dos abusos sexuais e estupros de menores, o narcisismo, um tipo de desvio comportamental muito comum no ambiente de trabalho, na política, no governo, no futebol e até na religião. Aborda ainda a relação entre política, a corrupção e o capitalismo selvagem, entre outros. Todos esses temas com seus pitorescos atores se juntam para formar uma trama que estampa de forma criativa uma triste amostragem da realidade que estamos vivenciando nesse nosso estranho mundo contemporâneo.

Todos os personagens descritos são fictícios, de forma que qualquer semelhança com fatos, lugares ou pessoas trata-se de mera coincidência e, vale ressaltar, não houve por parte do autor, absolutamente, qualquer intenção de julgar ou denegrir as instituições citadas, mas sim de estampar o quanto a hipocrisia e a maldade humana podem trazer consequências terrivelmente danosas para as pessoas e para os meios onde estão inseridas.

Convido a todos para o lançamento no dia 17 de agosto de 2024, a partir das 19hs, na Casa de Cultura – AML, em Mariana. Será um prazer contar com a presença dos caros leitores.

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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