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Hoje é quarta-feira, 15 de maio de 2024

As cinco fases do luto

“O contrário de nascer é morrer, mas o contrário de vida não é morte, visto que, para nós crentes, ela continua em com outra dimensão, de uma forma infinitamente mais esplendorosa”. (Vasconcelos, 2023)

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Nos últimos cinco anos sofri com a perda de cinco entes muito próximos e queridos: meu sogro, minha esposa, meu pai, minha mãe e, finalmente, minha sogra. Confesso que essas perdas abalaram profundamente meu estado psicológico e me levaram a uma forte busca de ressignificação.

Naturalmente, todos os dias têm alguém perdendo um ente querido, visto que, por mais que nos doa, a morte faz parte da nossa vida! Entender um pouco mais como isso funciona me ajudou bastante a amenizar a dor da partida e é sobre essa experiência que me proponho a compartilhar um pouco aqui com vocês.

Luto é o nome dado ao processo associado à perda de alguém querido ou à descoberta de uma doença em estágio avançado.

Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíço-americana, pioneira em estudos de proximidade da morte com pacientes terminais e uma das mais respeitadas autoridades no assunto, dedicou-se aos estudos do luto e classificou-o em 05 estágios, a saber:

 O primeiro estágio é o da negação e do isolamento. É o primeiro sentimento do enlutado diante da notícia da perda do ente querido. Funciona como uma espécie de para-choque para que a pessoa possa se acostumar com a situação. O isolamento é um mecanismo de defesa muito perigoso nesse estágio, visto que só agrava mais a situação. Pelo contrário, a socialização tem um forte poder de amenizar a dor.

O segundo estágio é o da raiva. Surge quando não é mais possível negar o fato e há o sentimento de revolta e de ressentimento. O enlutado se pergunta “por que eu e não outra pessoa?”. A raiva é expressa por emoções projetadas no ambiente externo e pelo sentimento de inconformismo e pode se tornar patológica quando vai se prolongando indefinidamente.

O terceiro estágio é o da barganha. Aqui o enlutado começa viver a esperança de uma cura divina, de um prolongamento da vida do ente querido ou mesmo de um retorno, em troca de orações e promessas a serem cumpridas. É muito comum em pessoas muito apegadas à religião.

O quarto estágio é o da depressão. Nesse estágio imperam os sentimentos de debilitação e tristeza acompanhados de solidão e saudade, podendo progredir para uma depressão patológica. Somente aqueles que conseguem superar as angústias e as ansiedades são capazes de alcançar o próximo e último estágio, o da aceitação.

No estágio da aceitação, o enlutado começa a aceitar o trauma da perda. Aqui ele já consegue vencer os estágios anteriores e, embora a saudade possa permanecer, ele se sente mais em paz e começa a ter condições de reorganizar sua vida.

Cada indivíduo sente o luto de uma forma distinta, uma vez que possui experiência de vida, personalidade e crenças únicas. Além disso, algumas pessoas são mais sensíveis do que outras, podendo levar mais tempo para processar os sentimentos, algumas vezes encontrando muita dificuldade de passar de um estágio para outro. Nesse caso, pode se transformar em uma doença psicopatológica, sendo recomendada a procura de um psicanalista para conseguir evoluir para a fase da aceitação.

O período de luto pode durar somente alguns meses, até um ano ou mais. À medida que o enlutado processa a perda, expressa os seus sentimentos e aceita as mudanças de vida que vêm com a morte de um ente querido, as emoções e pensamentos negativos vão perdendo a intensidade, embora seja normal sentir dor sempre que se lembrar ou pensar na pessoa que partiu.

Para mim, particularmente, minhas perdas me ensinaram grandes lições. Ensinaram-me que, como diz a cantora, a vida é trem bala, parceiro; hoje estamos por aqui, amanhã já não estamos mais, portanto, devemos viver intensamente cada instante, como se fosse o último. Carpe diem, como prega a expressão latina.

Descobri que, como diz Shakespeare, as pessoas que a gente mais ama na vida podem nos ser tomadas muito depressa, por isso sempre devemos deixá-las com palavras amorosas, porque pode ser a última vez que as vejamos. Com ele aprendi ainda que não importa em quantos pedaços o coração da gente foi partido, o mundo não para a fim de que a gente o conserte.

Enfim, além de inúmeras outras lições, aprendi que o contrário de nascer é morrer, mas o contrário de vida não é morte, visto que, para nós crentes, ela continua em uma outra dimensão, de uma forma infinitamente mais esplendorosa.

E assim, enquanto isso, vamos ficando por aqui e os dias passarão, como cantam Sater e Teixeira na belíssima canção: dezembro vai, janeiro vem, o tempo passa veloz como um trem. No rádio a notícia; um amigo se foi atrás dos mistérios que sempre buscou. Mais uma ‘pra ‘estrada, mais um fim de show, ao som das guitarras do bom rock ‘n’ roll.

Quem tem ouvidos, que ouça!

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Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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