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Hoje é quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Ao vencedor, as batatas!

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“Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas, mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.

Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

O trecho acima foi subtraído do Capítulo VI do Livro “Quincas Borba”, de Machado de Assis. Publicado em 1891, o romance conta a vida de Rubião, um pacato professor que se torna rico da noite para o dia ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo.

O Humanitismo (pasmem!) está baseado na sobrevivência dos mais aptos e enxerga a guerra como forma de seleção da espécie. Para os críticos, essa filosofia constitui-se da ideia do império da lei do mais forte, do mais rico e do mais esperto, considerando o Cristianismo uma moral de fracos, a mulher um ser inferior e tudo no mundo como algo bom, sendo a único coisa ruim, o não nascer.

Pode parecer estranho, mas parece-me que, infelizmente, os princípios dessa filosofia andam encontrando fortes adeptos nesse nosso mundo contemporâneo. Vejamos os fatos!

A ideia do caráter conservador e benéfico da guerra e do império da lei do mais forte dá sinais concretos de sua aplicação. Apesar das orações e dos apelos insistentes do Papa Francisco e de diversos líderes políticos e religiosos mundiais, a guerra da Rússia com a Ucrânia já dura mais de um ano e causou milhares de mortes, obrigando milhões de ucranianos a deixarem suas casas no pior confronto dentro da Europa desde a 2ª Guerra Mundial.

A supremacia dos mais ricos e mais espertos sobre o resto da humanidade ganha mais força a cada dia, por todos os cantos da terra. Os dados estatísticos demonstram que o problema da fome no mundo não é por falta de alimentos, mas da má distribuição de renda. A maior cota está nas mãos de uma classe privilegiada, enquanto os miseráveis morrem à míngua. Segundo matéria publicada na Revista Você S.A, em outubro de 2021, 1% da população global detém quase metade de toda a riqueza do mundo e a riqueza somada de mais da metade dos mais pobres dá pouco mais de 1% do total.

Apesar de todas as lutas, a mulher continua sendo considerada um ser inferior! O número de feminicídios aumenta assustadoramente! Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que, em 2021, ocorreram 81,1 mil assassinatos de mulheres no mundo. Desse total, 56% foram mortas pelo marido, parceiro ou outro membro da família.

Finalmente, aqui, pelas terras tupiniquins, parece que o império do ódio dá indícios de continuar a persistir, como antes! A impressão é que todos os opositores ao governo atual se transformaram em criminosos! O fantasma da ditadura do Judiciário ronda à solta! A política da caça às bruxas parece que tomou conta do poder! A belíssima lição deixada por Nelson Mandela com relação aos seus opositores quando assumiu o governo da África do Sul em 1994, após quase 30 anos de prisão, parece que não encontrou nenhum respaldo por aqui. Vejamos uma das suas frases mais famosas:

“Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão… Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”.

Muito pelo contrário, infelizmente, o que se tem visto é “ao vencedor as batatas!” …

Paro por aqui, sem maiores delongas, para não excitar ainda mais os diversos radicalistas com os ânimos já deveras exaltados!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Cesarius Gestão de Pessoas, investimento permanente no desenvolvimento do ser humano!

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Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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