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Hoje é sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Hospital Universitário de Mariana contará com 225 leitos

Financiado com recursos da repactuação pelo rompimento da barragem de Fundão, o projeto representa o primeiro hospital 100% público da Região dos Inconfidentes em mais de 300 anos

Várias pessoas participaram da visita ao terreno do hospital universitário
Diligência no terreno onde será construído o Hospital universitário de Mariana contou com técnicos, autoridades e comunidade - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Uma visita ao terreno de 35.000m² onde será erguido o futuro Hospital Universitário da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) nesta segunda-feira (29), revelou a nova e impressionante dimensão do projeto e reforçou seu caráter de reparação histórica para a região. A confirmação da ampliação foi feita durante uma diligência de deputados e autoridades ao local da obra. Anunciado pelo presidente Lula no dia 12 de junho, quando visitou a cidade de Mariana, o hospital universitário será financiado com recursos da repactuação pelo rompimento da barragem de Fundão e orçado em R$ 220 milhões, é um marco por ser o primeiro hospital 100% público da Região dos Inconfidentes em mais de três séculos.

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Ampliação do hospital universitário

Localizado às margens da MG 129, o terreno onde o hospital será construído é o mesmo local onde seriam construídas as 1600 moradias prometidas no final de 2019, pelo então prefeito, Duarte Júnior. A expectativa é que o projeto do hospital, aproveite os platôs já existentes no terreno para a construção do novo hospital.

A principal novidade, no entanto, foi anunciada pelo reitor da UFOP, Luciano Campos, que confirmou a significativa ampliação da estrutura de atendimento. “A proposta entre a UFOP, a EBSERH (Estatal que gerencia os hospitais universitários) e a Prefeitura de Mariana já está fechada, é um hospital com 225 leitos“, revelou o reitor. Ele expressou entusiasmo com o salto: “Então vocês imaginam, a gente sai de 120 que a gente já estava assustado, a gente vai para 225 leitos. É um megaempreendimento“, comemorou.

Nessa mesma perspectiva, o deputado federal Padre João (PT) destacou a singularidade e a importância do empreendimento no contexto regional. “Esse será o primeiro hospital público de uma região inteira. Em 330 anos de história, nós não temos na região inteira um hospital público. Então a reparação é também histórica, porque ela fortalece o Sistema Único de Saúde“, pontuou o parlamentar.

Autoridades discursam durante visita ao terreno do hospital, em Mariana
Durante a diligência, o deputado estadual Leleco Pimentel cobrou a duplicação do trecho da MG129 - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

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Diligência de autoridades e vontade política

A visita, chamada de “diligência” pelos parlamentares, reuniu uma comitiva diversa com o objetivo de acompanhar de perto o andamento do projeto e acelerar o processo. O deputado estadual Leleco Pimentel ressaltou a importância de ter “o pé da gente pisando na realidade.

Estiveram presentes ainda o deputado estadual Celinho do Sinttrocel (PcdoB), a vice-reitora, Roberta Fróes, além de diretores e técnicos da universidade, representantes do Corpo de Bombeiros e o secretário de Saúde de Ouro Preto. Representantes dos atingidos pelo rompimento da barragem, como Mônica dos Santos, de Bento Rodrigues, e de movimentos sociais como o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) também participaram ativamente do encontro.

o povo subindo a ladeira pra conhecer o terreno do novo hospital
O terreno antes pensado para moradias populares, servirá para a construção do Hospital - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

A celeridade do projeto de construção do hospital universitário é amparada por uma forte decisão política, conforme explicou o reitor Luciano Campos. “Existe aqui uma vontade política. Esse hospital está saindo porque o presidente Lula, porque o ministro Camilo Santana e porque o ministro Padilha bateram o martelo que tinha que sair um hospital em Mariana com recurso da repactuação“, pontuou.

O financiamento robusto foi garantido graças à nova repactuação, como informou o deputado estadual Celinho do Sinttrocel: “No acordo do governo passado estava previsto para a saúde R$ 500 milhões de reais. Do valor repactuado pelo governo presidente Lula para a saúde vai ser garantido R$ 12 bilhões de reais. Olha a diferença do que que um governo que pensa no povo, que pensa em fazer justiça“, celebrou o deputado.

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Memorial e compromisso com a memória das vítimas

A origem dos recursos, provenientes da reparação, foi um ponto de forte emoção durante o encontro. Mônica dos Santos, atingida da comunidade de Bento Rodrigues, fez um apelo para que a memória das vítimas da tragédia seja eternizada na construção.

Eu gostaria de fazer um pedido quando ele for inaugurado, a gente colocar uma plaquinha com o nome das 20 pessoas, porque é através de lutas, é através de sofrimento que essa obra vai ser construída“, disse Mônica. Ela complementou, emocionada: “Não é uma obra política, mas é para as pessoas, pro mundo inteiro, saber de onde saiu o recurso para essa obra tão importante ser concluída. É uma obra que vem do sangue e da lama.

A diretora da Escola de Medicina da UFOP, Keila Deslandes, aproveitou sua fala para firmar um compromisso com Mônica. Ela assegurou que o memorial será pensado no projeto desde o início para que ninguém se esqueça da importância das pessoas que perderam suas vidas na construção do hospital que certamente salvará outras tantas.

Mônia dos Santos e a moça do MAB durante visita ao terreno do hospital universitário
Mônica dos Santos, de Bento Rodrigues, pediu que uma placa com os nomes dos mortos pelo rompimento da barragem de Fundão fosse adicionada ao projeto - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

A diretora resumiu a expectativa coletiva, esperando que o hospital “seja de fato uma medida restauradora que possa aí oferecer algum conforto a mais, né, para especialmente para vocês aí que representam essa população tão sofrida“.

Saúde e desenvolvimento regional

A discussão durante a diligência também abordou necessidades específicas de saúde da população local. O deputado Leleco Pimentel levantou a urgência da criação de uma unidade de hemodiálise pública, citando o aumento de doenças renais após a contaminação da bacia do Rio Doce.

O número de casos de pacientes com hemodiálise na bacia é astronômico. Então é o pedido que a gente faz aqui, a hemodiálise tem que ser pública“, defendeu Pimentel. A expectativa é que o novo Hospital Universitário ajude a suprir essa demanda crítica de alta complexidade.

Durante o encontro, foi esclarecido ainda que a expectativa é lançar a pedra fundamental do empreendimento no próximo dia 5 de novembro, data que marca os 10 anos do rompimento da barragem de Fundão e o próximo passo para que isso seja possível, é a doação do terreno, hoje em nome da Prefeitura de Mariana, para a UFOP. Apenas após a doação que as licitações podem ser lançadas.

O deputado Leleco Pimentel aproveitou para cobrar o governo estadual e se comprometeu a pressionar o governo Zema para que os R$300 milhões economizados no leilão que escolheu a empresa que irá duplicar a Rodovia dos Inconfidentes, seja direcionado para a duplicação do trecho da MG 129, “pelo menos até Antônio Pereira”.

Com a previsão de gerar cerca de 1.500 empregos diretos, o hospital universitário é visto não apenas como um avanço fundamental na saúde pública da região, mas como um motor para o desenvolvimento regional e impulsionamento da economia local.

Foto de Lui Pereira
Lui Pereira é jornalista, fotojornalista e contador de histórias. Um cronista do cotidiano marianense.