- Ouro Preto
Livros sobre Antônio Pereira são lançados em Ouro Preto
As obras são resultado de uma construção do projeto De Mãos Dadas com Antônio Pereira junto com a comunidade do distrito

Na tarde da última sexta-feira (26), ocorreu, no Centro de Artes e Convenções da UFOP o lançamento dos livros Manual de Saúde Mental nas Escolas e Fora Delas; Guia Histórico, Ambiental e Afetivo de Antônio Pereira; e Quitandas e Quitandeiras de Antônio Pereira. O evento aconteceu durante o VI Congresso de Pesquisadores Negros da Região Sudeste (COPENE-Sudeste) e teve como representantes Aisllan Assis e Sara Helena Quintino. A produção dos materiais foi uma forma de trazer ao público o resultado das ações propostas pelo projeto de extensão “De Mãos Dadas com Antônio Pereira”, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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Construção dos livros sobre Antônio Pereira
Antônio Pereira é um distrito de Ouro Preto que passa por situações de enorme desconforto por ter uma barragem em descomissionamento situada próximo às residências da comunidade. As ações do projeto de extensão De Mãos Dadas com Antônio Pereira, desenvolvido desde 2019, tem diferentes frentes de atuação, desde a educação, com cursos em escolas, até saúde mental, com rodas de conversa com a população.

Aisllan Assis, coordenador do projeto, relata que a iniciativa tem como objetivo acolher e empoderar os moradores do distrito. “Os produtos foram pensados, elaborados, produzidos juntamente com a comunidade através do programa de extensão e pesquisa. Com o objetivo de acolher e empoderar a comunidade, que é uma comunidade que tem vivido muitos atingimentos, mas que apesar disso, além disso, é uma comunidade que tem muito saber, muito conhecimento”, explicou o professor.
Sara Helena Quintino é pesquisadora e participou do projeto de extensão, ajudando na construção das investigações levantadas no território. Para ela, as atividades realizadas ajudam a universidade a aproximar a teoria da prática. A pesquisadora comenta que, mesmo com o término das ações, o espaço de trocas com a comunidade continua vivo. “As pessoas continuam tendo a gente como fonte de referência para troca, para levar suas queixas, para levar suas demandas. Então a gente continua sendo essa ponte de interlocução com a comunidade”.
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Livros sobre e para a comunidade

Tanto Aisllan quanto Sara frisaram a construção dos produtos em conjunto com a comunidade. O livro Manual de Saúde Mental nas Escolas e Fora Delas é uma parte do material pedagógico utilizado em uma das ações do projeto De Mãos Dadas com Antônio Pereira, o curso de nome idêntico ao manual. O objetivo da publicação é tentar construir ambientes escolares acolhedores para professores e alunos.
As pesquisas, realizadas a partir dessa ação, integram um capítulo do livro Construindo uma Cultura de Paz: A Mediação de Conflitos em Espaços Educadores, também lançado durante o evento. Para Aisllan é outra contribuição de Antônio Pereira para construção de ambientes de paz e mediação de conflitos. “Foi assim que nasceu esse livro construindo uma cultura de paz nas escolas, reunindo experiências, pesquisadores, professores, educadores, com experiências positivas para oferecer uma coletânea de textos, um livro que pudesse ajudar a construir esses espaços”, esclareceu.
O Guia Histórico, Ambiental e Afetivo de Antônio Pereira foi um desafio para Sara. A pesquisadora relata que juntar as diversas frentes de trabalho do projeto de extensão e pesquisa foi complexo. “A gente queria ser um guia que mostrasse esses vínculos afetivos que constituem a comunidade de Antônio Pereira. São muitas histórias, muitas histórias inviabilizadas, negadas. Eu acho que o maior desafio é compactar esse universo de 300 anos de história”, revelou.
A publicação Quitandas e Quitandeiras de Antônio Pereira reúne 19 receitas de 14 mulheres da comunidade e, para além das receitas, conta com formas de higienização, conversão de medidas e precificação de produtos. Os três lançamentos são de distribuição gratuita e podem ser acessados pelos links: receitas, guia e manual.
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Lançamento em espaços de representatividade

Os exemplares compuseram um espaço de lançamento com outras obras literárias dentro do Congresso de Pesquisadores Negros da Região Sudeste. Durante o congresso, houve também debates, apresentações de trabalhos, mesas redondas e apresentações culturais. Para Aisllan Assis é importante o lançamento ocorrer num espaço de negritude. “Ao trazer esse material, dá visibilidade para essa comunidade. Por outra via, também dá visibilidade para a população negra que compõe o distrito histórico. Antônio Pereira, desde o primeiro censo realizado no distrito, ainda em meados do século XIX, mostra que o maior número de pessoas lá eram pessoas negras e segue assim até hoje”, argumentou o coordenador.
Para Sara, o lançamento dos livros na COPENE cria um ambiente acolhedor para visibilizar as histórias de uma comunidade constituída por um movimento afro diaspórico – termo usado para referir-se a fenômenos socioculturais fundamentados a partir da imigração forçada causada pelo mercado escravagista. “Eu acho que é um lugar muito legítimo, muito cheio de guianças, com muita espiritualidade, muito axé para acolher esse material que quer conduzir a gente para esse lugar de quando as nossas vilas se constituíam nessa intensa movimentação amefricana”, resumiu a pesquisadora.
