Notícias de Mariana, Ouro Preto e região

Hoje é terça-feira, 23 de setembro de 2025

Primeiro Núcleo de Atendimento à Mulher é aberto em Mariana

Cidade enfrenta, em média, três casos de violência contra a mulher por dia e aposta em espaço humanizado para ampliar a rede de proteção

Prefeito Juliano Duarte e chefe adjunta da Polícia Civil de Minas Gerais, Rita de Cássia Januzzi, no descerramento da placa de inauguração do Núcleo de Atendimento à Mulher
Prefeito Juliano Duarte e chefe adjunta da Polícia Civil de Minas Gerais, Rita de Cássia Januzzi, no descerramento da placa de inauguração do Núcleo de Atendimento à Mulher - Foto: Eduarda Belchior/Agência Primaz

Mariana recebeu, nesta sexta-feira (19), o primeiro Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher da Polícia Civil em Minas Gerais. A unidade, instalada no prédio do antigo fórum da comarca – termo usado para designar a área de jurisdição de um juiz ou tribunal, que pode abranger um ou mais municípios -, surge como resposta ao índice de casos de violência contra a mulher no município. O novo Núcleo pretende oferecer acolhimento mais humanizado às vítimas, com atendimento realizado prioritariamente por servidoras mulheres, espaço adaptado com brinquedoteca para os filhos das vítimas, além da possibilidade de encaminhamento imediato para medidas protetivas de urgência.

*** Continua depois da publicidade ***
***

Atendimento humanizado e prevenção

De acordo com o delegado titular de Mariana, Marcelo Bangoim Fernandes, a criação do Núcleo de Atendimento à Mulher foi motivada pela demanda crescente, mas também pelo reconhecimento da qualidade do atendimento já desenvolvido na cidade. “A vítima só é atendida por profissionais mulheres e a oitiva inicial já serve para todos os procedimentos judiciais, evitando a revitimização. É o pontapé inicial para novas políticas públicas estaduais e municipais”, destacou.

A chefe adjunta da Polícia Civil de Minas Gerais, Rita de Cássia Januzzi, reforçou que a iniciativa integra o programa Polícia Civil Minas Gerais (PCMG) por Elas, criado para reunir e ampliar todas as ações da Polícia Civil voltadas à proteção das mulheres, como capacitação de servidores, criação de núcleos especializados e medidas de enfrentamento de violência de gênero em todo o estado. “Nosso objetivo é garantir que a mulher não precise repetir sua história em várias instâncias. Ela sai daqui já com diretrizes, acompanhamento psicológico e social, para ela e para a família”.

Ver mais publicações da Editoria Polícia

Inscreva-se no nosso canal de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.

Rede de proteção e inovação

A inauguração contou com a presença do prefeito Juliano Duarte (PSB), que ressaltou os esforços do município para fortalecer a rede de proteção. Ele lembrou da criação do Conselho Municipal de Combate à Violência Doméstica e do programa Botão do Pânico, um dispositivo entregue a mulheres em situação de risco, que emite alerta imediato à Guarda Municipal em casos de aproximação do agressor ou que se sintam desconfortáveis, permitindo a intervenção em pouco minutos.

Também participaram da cerimônia a diretora estadual de gestão das delegacias de atendimento à mulher, Larissa Maia Campos Falles; o presidente da Câmara Municipal de Mariana, Ediraldo Arlindo de Freitas Ramos; o chefe do 3º Departamento de Polícia Civil em Vespasiano, Delegado-Geral Helton Cota Lopes; o delegado regional de Ouro Preto, Ricardo Reis Neto; o secretário municipal de Segurança Pública, Ramon Magalhães; além de vereadores e representantes da Polícia Militar e da Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica.

O Núcleo de Atendimento à Mulher soma-se à atuação da Guarda Municipal, Polícia Militar, Ministério Público e os serviços sociais e de saúde, compondo uma rede de apoio que, segundo as autoridades locais, tem funcionado de forma integrada.

Mudança cultural como desafio

com a inauguração do Núcleo de Atendimento à Mulher, espera-se uma redução nos casos de violência comtra o sexo feminino
Mariana registra, em média, três casos de violência contra a mulher por dia - Foto: Maxim Hopman/Unsplash

Apesar do avanço institucional, permanece o desafio de transformar a inauguração em mudança cultural. A escrivã ad hoc Juliana Vilela, que atua no cartório de violência doméstica, ressaltou o impacto simbólico da criação do Núcleo de Atendimento à Mulher: “Quando a cidade mostra que se preocupa em combater a violência, até o agressor se contém. O espaço não é só físico, é também um recado de que não vamos tolerar violência contra a mulher”, afirmou.

A ausência de participação direta de vítimas ou movimentos de mulheres no planejamento do Núcleo, confirmada pela chefia de Polícia Civil, também levanta questionamentos sobre a representatividade na formulação do serviço. Ainda assim, a aposta das instituições é de que o novo espaço reforce a confiança das mulheres nas estruturas públicas e ajude a romper o ciclo de silêncio.

*** Continua depois da publicidade ***

Núcleo de Atendimento à Mulher é o primeiro passo para enfrentar o problema

Entre os discursos e agradecimentos, a palavra mais repetida foi “esperança”. Esperança de que as estatísticas alarmantes diminuam, de que o acolhimento seja real e de que Mariana sirva de exemplo. A expectativa é de que a inauguração fortaleça não apenas a resposta imediata às denúncias, mas também políticas de prevenção e conscientização, como ressaltado pelo delegado Marcelo Fernandes em sua fala de abertura: “Não é a violência que cria cultura, mas é a cultura que define a violência”.

Canais de denúncia

Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados pelos seguintes órgãos:

  • 190, em situações de emergência;
  • 181, de forma anônima;
  • Portal Fala.BR, de forma anônima;
  • 180, para a Central de Atendimento à Mulher;
  • 153, para acionar a GCM;
  • 3558-5356, whatsapp GCM;
  • (31) 9 8866-7678, whatsapp da Ouvidoria Feminina da UFOP
Foto de Eduarda Belchior
Eduarda Belchior é graduanda de Jornalismo na UFOP e estagiária na Agência Primaz de Comunicação, com interesse em jornalismo cultural, político e de gênero.