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Hoje é sábado, 19 de julho de 2025

“Arte da Guerra” retrata vivências de artistas independentes

Inspirado no conceito de escrevivência, curta-metragem revela a potência criativa de artistas da região de Mariana.

Duas pessoas manuseiam equipamentos para o curta Arte da Guerra.
Bastidores do curta "Arte da Guerra"- Foto: Marina Ferreira

Mariana é cenário do curta-metragem “Arte da Guerra”, idealizado por Mirian dos Santos, conhecida artisticamente como Bad Miroca, e por Paulo Rogério, ou Aquiles, o poeta. A obra foi selecionada pelo Edital de Chamamento nº 001/2024, da Lei Paulo Gustavo Audiovisual, promovido pela Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo e Lazer. O curta, que propõe uma reflexão sobre os desafios enfrentados por artistas independentes e as múltiplas jornadas que atravessam, já está na fase de pós-produção, com previsão de lançamento para outubro.

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Curta-metragem “Arte da Guerra”

Arte da Guerra nasce com o objetivo de fortalecer o cenário poético da margem, pouco viabilizado na região. “Aquiles tem uma música de nome Arte da Guerra e a gente já tinha tido várias conversas sobre a escassez e a falta de recursos sendo artista independente aqui na região. Nós dois somos artistas da palavra, e aí veio essa oportunidade com o edital e pensamos, por que não levar isso para o cinema?”, explica Mirian, diretora, roteirista e atriz do curta. 

Ela define Arte da Guerra como um contexto de combate, em que muitos pretos são inseridos desde o nascimento. “Quem é artista vive nessa luta constante para sobreviver da arte. E nesse cenário da periferia, a gente entende que a cultura é o que movimenta o cotidiano, que permite que a gente continue vivo, porque a própria periferia é um polo de produção cultural muito grande”, afirma. 

Nesse contexto, multiplicam-se os artistas que expressam suas vivências por meio das artes visuais, do canto, do hip-hop, do grafite, do break, da dança e de outras formas de criação. É essa arte, segundo Mirian, “que faz pensar que a gente nasce com esse alvo no corpo, de ter que estar o tempo todo desenvolvendo estratégias para continuar vivo, para ter dinheiro no fim do mês. É essa malandragem que a gente aprende nas ruas, movimento que é preciso dentro do campo de batalha para você conseguir vencer a guerra”, completa a diretora. 

Equipe técnica do curta Arte da Guerra.
Artistas e equipe se organizam para mais uma tomada de “Arte da Guerra” - Foto: Marina Ferreira

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O que esperar de “Arte da Guerra”

A narrativa acompanha, então, cinco personagens: Bad Miroca, Killa e Aquiles (também produtor geral do curta), Kete e Bomblack, integrantes do Movimento TT1, que, além de lidarem com as dificuldades do cotidiano, insistem em fazer da arte uma ferramenta de sobrevivência e resistência.

Arte da Guerra é construído a partir do conceito de escrevivência, elaborado pela escritora Conceição Evaristo. Nesse sentido, as vivências dos próprios artistas, marcadas pela marginalização, pela força ancestral e pelo ativismo cultural, se entrelaçam à ficção e ganham vida na tela por meio da poesia, do hip-hop, da espiritualidade, da capoeira e de formas autônomas de trabalho artístico.

Mirian conta que foram feitas diversas entrevistas com os artistas para que fosse construído o roteiro, baseado na rotina e nas individualidades de cada um. Aliado à isso, o conceito de escrevivência, parte da vida de Miran desde muito tempo, surge de forma espontânea. “Eu transformo o que eu vivo em palavra, como forma de sobrevivência e para conseguir resistir ao sistema. E a minha poesia é feita daquilo que tá no meu cotidiano, sem ela eu não consigo respirar e sem respirar eu não tenho a minha existência”, relata a diretora. 

As filmagens terminaram no primeiro final de semana de julho e o projeto já se encontra na fase de pós-produção. Enquanto a data de lançamento não é anunciada, é possível acompanhar os bastidores da produção pelo instagram @art3dagu3rra.

Mirian espera que o curta-metragem desperte questionamentos no público, que vão ser respondidos após assistir à produção. “É possível vencer essa guerra sem se corromper e sem abrir mão de tudo que acredita para que o sistema não tire sua vida?”. Segundo a artista, “muito do sentido de arte da guerra é isso, nascer destinado a ser soldado e morrer sendo soldado, porque muitas vezes o sistema não dá essa oportunidade da gente conseguir crescer ou sair dessa condição que já recebe desde o nascimento”, conclui.

Foto de Maria Eduarda Marques
Maria Eduarda Marques, nascida em João Monlevade (MG), é aluna do 7º período de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.