Notícias de Mariana, Ouro Preto e região

Hoje é domingo, 19 de maio de 2024

Movimento TT1, as vozes que ecoam do Cabanas através do Rap

Grupo tem forte influência do Racionais MC’s, mas adicionam doses cavalares de Djonga, Cabanas, Mariana e Minas Gerais em seus versos.

Compartilhe

Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Integrantes do Movimento TT1 reunidos no Sagarana, na primeira apresentação com todos os integrantes
Grupo reunido no Sagarana, na primeira apresentação com todos os integrantes - Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Para quem vem de onde eles vieram, tudo é arte. Do sol da manhã à brisa da noite, tudo vira rima. Do alto do Cabanas ouvem-se sons que traduzem sentimentos que só o verdadeiro e puro amor pela música é capaz de evocar. Um movimento, que se apresenta através do Rap, trazendo toda a potência artística de jovens que escrevem versos sobre o que veem, sentem e vivem. O Trem Trinta e Um (TT1) nasceu há menos de dois anos, mas já impressiona pela vontade de vencer através do som que seus integrantes apresentam.

*** Continua depois da publicidade ***

*** 

Dentro do grupo, os estilos de hip hop dos membros são variados. Mas eles seguem o caminho de letras agressivas, e beats envolventes. Seja nas reflexões de Aquiles, na força das palavras do Elli Gee, na performance vibrante de Demanjah e Bomblack, ou no suingue da voz da Samila, o foco da TT1 é agitar o público que está assistindo, terminando as faixas com o tradicional grito. “Uh Trem, Uh Trem, Uh Trem”. Quem fica parado está morto.

Os membros são Aquiles, Bomblack, Demanjah, Elli Gee, Keny e Samila, com Vbeats ON e DJ Guina atuando como produtores e “beatmakers”.

Confira o minidocumentário “TT1: em movimento

Um grupo em movimento

Eles não se identificam como uma “banca”, mas sim como um movimento, que integra pessoas e visa construir laços e bons sons. O grupo surgiu na porta da casa do beatmaker Vbeats On, que passou a apadrinhar outros artistas do bairro. Bomblack foi um dos primeiros, e faz parte desde quando eles gravavam as músicas no guarda roupa junto com Elli Gee. Essa história inusitada motivou a criação da gravadora “Espaço GR” (espaço guarda-roupa).

A vontade de apresentar as rimas que eles compunham em casa crescia, e os meninos passaram a levar suas músicas em pen-drives para a famosa “Pracinha do Pastel”. No meio dos sucessos dos rappers que eles admiram, colocavam os sons produzidos pelo Espaço GR. Vbeats revela que a tática logo rendeu bons frutos.

“Os meninos cercavam a gente e ouviam os sons que a gente colocava e falavam ‘esse som é de vocês?’. E a gente respondia que sim, cantava junto e eles ficavam de cara” relatou o beatmaker em entrevista à Agência Primaz.

Bomblack e Demanjah, dois integrantes do Movimento TT1, cantam a primeira música do show realizado no Sagarana
Bomblack e Demanjah cantam a primeira música do show - Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Mirante das Artes: um lugar para criar

Existia, porém, um medo que impedia a alegria completa dos membros da TT1. O bairro Cabanas é um dos que mais recebem policiamento na cidade, e não era incomum a polícia dispersar os grupos que se formavam ao redor da caixa do movimento. Eles precisavam de um lugar para ensaiar livremente, conseguir colocar para fora a potencialidade artística que até ali estava de certo modo limitada

Foi nesse momento que o Mirante das Artes, um ateliê, abriu as portas para os garotos ensaiarem todas as terças. A partir daí o movimento ganhou corpo e mais pessoas começaram a comparecer aos ensaios abertos.

“Esse lugar é muito importante, porque traz a conexão que a gente precisa. É um local muito artístico, o nome já diz. No primeiro que a gente entrou aqui eu já me senti em casa, já deitei por ali e fiquei porque me emocionei demais. Todo mundo que vem aqui tem a mesma impressão: que lugar aconchegante, a recepção aqui é boa, o Arley dá mó atenção, sempre influencia a gente “, apontou Bomblack.

O citado Arley é um artista que transformou sua casa em um local recheado de peças artísticas de autoria própria e de amigos. O local caiu como uma luva para os talentosos rappers do TT1, que passaram a cantar com uma das vistas mais bonitas de Mariana ao fundo. Essa sinergia trouxe a eles muita inspiração.

Ao chegar ao mirante, os olhos já se perdem nas várias referências artísticas presentes no local. Telas são penduradas por todas as paredes e a mobília convida quem chega para ter momentos de conforto e apreciação.

*** Continua depois da publicidade ***

Outros movimentos abraçam o TT1

O talento transborda. Por isso, eles acabaram chamando a atenção de outros movimentos artísticos de Mariana. O Movimento Negro abraçou o TT1, garantindo a eles a primeira apresentação em público, em novembro do ano passado, na Praça da Sé. Além disso, eles passaram a frequentar as reuniões do movimento e demais palcos de debate público, para apresentar a visão de mundo de quem realmente vive a cultura de Mariana..

Além disso, com a atuação frequente nas redes sociais e o convívio com outros grandes representantes da cena em Ouro Preto, os convites para eventos começaram a chegar. No último sábado (21), eles colocaram o Sagarana Café Teatro abaixo com a primeira apresentação do grupo completo.

Estiveram presentes Demanjah, Bomblack, Aquiles, Samila e Keny. O DJ que sempre acompanha os meninos é o talentoso Guina, que também produz várias músicas com eles. Desde a primeira música, eles colocaram todos que estavam no recinto para pular e acompanhar as rimas e versos. Samila, antes do show, apresentou um belo resumo do que é a TT1. “É um movimento que cada um que dá o que pode. A gente tem os DJ’s, os beatmakers, o Arley que nos cede o espaço do mirante, é um grupo que deve ser valorizado dentro da cidade, porque é periférico, feito por meninos pretos e está tendo uma força que a gente nunca imaginou que teria”.

Todos os integrantes produzem também de maneira solo e apresentam estilos e influências diversas quando estão no palco. O mais jovem é o “prodígio” Keny, de apenas 15 anos, que participa da Batalha das Gerais desde os 12. Demanjah também possui trabalho solo há anos, grande parte disponível no Youtube. Elli Gee é a voz por trás das rimas de muitos sons, entre eles “Mapa Mundi da Quebrada”, som que também está disponível no Youtube. Todos os passos do Movimento TT1 estão disponíveis no Instagram.

Sentimentos à flor da pele na apresentação do Movimento TT1 no Sagarana: Bomblack canta e Aquiles reage
Sentimentos à flor da pele na apresentação no Sagarana: Bomblack canta e Aquiles reage - Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Na última reunião, eles não apenas cantaram, como passaram algumas horas debatendo o futuro do Movimento TT1. A ideia de transformar o grupo em uma associação surgiu e eles começaram a especular os próximos passos. Mas enquanto isso, o som é a grande preocupação destes meninos talentosos. Citando um verso de Eli Gee, Keny nos traz uma síntese do espírito que o grupo carrega. “A música eu não vivo, eu respiro”.

***