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Hoje é segunda-feira, 7 de julho de 2025

Museu da Inconfidência inaugura Sala Afro-brasileira

Exposição vai estar completamente aberta à visitação a partir do término da reforma do prédio histórico

Sala afro-brasileira abriga, por um ano, a exposição “Afro-brasilidades: arte e memória na encruzilhada"
Nova sala temática abriga, por um ano, a exposição “Afro-brasilidades: arte e memória na encruzilhada" – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Na manhã desse sábado (05), no Anexo do Museu da Inconfidência, foi realizada a cerimônia de inauguração da Sala Afro-brasileira, que passa a brigar, temporariamente, uma parte do acervo de arte popular do colecionador mineiro Tadeu Bandeira. A solenidade contou com a presença de autoridades ligadas à cultura e à museologia, como, entre outras, a presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Fernanda Castro; o Diretor Presidente do Instituto Joaquim, José Theobaldo Júnior, responsável pelo projeto e captação de recursos para a reforma do Museu da Inconfidência, e o prefeito municipal Angelo Oswaldo (PV).

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Sala afro-brasileira vai ser permanente no Museu da Inconfidência

À esquerda, Alex Calheiros, anfitrião da cerimônia e diretor do Museu da Inconfidência. À direita, Angélica Gonçalves Pereira, representante da comunidade ouro-pretana no processo de desenvolvimento e implantação da Sala Afro-Brasileira
À esquerda, Alex Calheiros, anfitrião da cerimônia e diretor do Museu da Inconfidência. À direita, Angélica Gonçalves Pereira, representante da comunidade ouro-pretana no processo de desenvolvimento e implantação da Sala Afro-Brasileira – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Esta exposição marca uma nova relação entre as culturas afro-brasileiras e este museu histórico que, por mais de 80 anos, abrigou um acervo e imaginária exclusivamente colonial para narrar a formação da cultura e identidade nacionais e da Conjuração Mineira. Testemunhamos o enfraquecimento da nostalgia pelo período colonial – decisiva para a invisibilização da produção intelectual, tecnológica e artística de mulheres e homens pretos. A mostra “Afro-brasilidades: arte e memória na encruzilhada” reconhece a pluralidade das culturas e conflitos que formam minas gerais e o Brasil e convida aqueles a quem pertence este museu – o povo todo, a dividir a alegria da realização da curadoria participativa desta exposição”.

Com esse trecho, Angélica Gonçalves Pereira, Auber Bertinelli, Carla Cruz, Douglas Aparecido, Marcelo Abreu, Pedro Falci, Sidnea Santos e Solange Palazzi, apresentam a exposição, cuja pré-inauguração ocorreu nesse sábado (05), com previsão de completa disponibilidade de acesso ao público, a partir do final do mês de julho, quando deve ser encerrada a atual etapa de reformado Museu da Inconfidência.

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Falando à reportagem da Agência Primaz, Alex Calheiros explicou que enfrentou diversos empecilhos para assumir a direção do Museu da Inconfidência. Um dos principais foi a injusta oposição à sua nomeação, apesar de aprovado em seleção pública, o que atrasou sua chegada ao museu em quase dois anos, por intransigência da Casa Civil e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), durante o governo Bolsonaro.

Após a sua nomeação, Calheiros focou em dois aspectos importantes: a infraestrutura do museu e o seu reposicionamento institucional. Ele destacou que muitos museus têm diretores que se limitam a cuidar das obras, mas que pauta sua atuação baseada em “uma abordagem mais holística, que inclua a representação de diferentes classes sociais e narrativas, especialmente a contribuição da população negra, que foi historicamente marginalizada.

E foi por sugestão do prefeito Angelo Oswaldo, relembra Alex, que surgiu a possibilidade da parceria com Tadeu Bandeira, traduzida na exposição pré-inaugurada, celebrando a arte popular.

A nova sala do Museu da Inconfidência acolhe a coleção afrodescendente por pelo menos um ano. A intenção é que, após esse período, sejam encontrados meios de torná-la permanente, mas o espaço será dedicado não apenas a essa coleção, mas também poderá incluir outras, dependendo das novas curarias que forem propostas”, destacou o diretor Alex Calheiros.

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Importância do reconhecimento da influência e presença afro na arte e na cultura

O Prof. Clésio Gonçalves, coordenador do NEABI, e a vice-reitora da UFOP, Profª. Roberta Fróes, prestigiando a solenidade de inauguração da Sala Afro-brasileira
O Prof. Clésio Gonçalves, coordenador do NEABI, e a vice-reitora da UFOP, Profª. Roberta Fróes, prestigiando a solenidade de inauguração da Sala Afro-brasileira

Última a se pronunciar na solenidade, Angélica Gonçalves Pereira exaltou a iniciativa do Museu da Inconfidência, bem como a condução do processo que resultou na inauguração da Sala afro-brasileira e da exposição “Afro-brasilidades”: “Tradicionalmente voltado à memória da elite inconfidente, o museu vem passando por um processo de autocrítica e reposicionamento Recentemente, tem trazido novos olhares e exposições que possibilitam a criação de um espaço permanente dedicado à valorização das contribuições culturais e históricas das populações negras em Minas Gerais. Além disso, o museu tem promovido escutas comunitárias, abrindo suas portas para que a população afrodescendente compartilhe suas memórias e interpretações sobre o assim. Essa abertura é um passo importante para que instituições de memória deixem de ser vitrines do passado e se tornem espaços vivos de diálogo e transformação”.

Ressaltando a importância do gesto de compartilhamento com a sociedade do acervo artístico de Tadeu Bandeira, Angélica destacou dois aspectos essenciais da exposição: “Ao compartilhar seu acervo com o Museu da Inconfidência, o Sr. Tadeu Bandeira não apenas enriquece o conteúdo da exposição, como também reafirma o papel da comunidade como guardiã ativa de sua própria história. (…) A exposição é semente e espelho. Semente porque planta, nas novas gerações, o orgulho de suas raízes. Espelho porque reflete a potência do povo negro como narrador da própria trajetória. Ao reunir arte, memória e resistência, a Afro-brasilidade nos convida a imaginar futuros mais justos e a construí-los com as mãos firmes de quem conhece o peso e a beleza da própria história”, finalizou Angélica.

Nós estamos aqui comprovando, nesta manhã de um sábado, a retomada, sobretudo, de um percurso histórico do Museu do Inconfidência, quando a direção do museu revê as escolhas feitas no passado. E, na verdade, muda a rota, valorizando a população majoritariamente negra da nossa cidade, que leva em consideração a história da construção da cidade, com artefatos e, sobretudo, com a ciência africana implementada nessa cidade desde a sua origem. A população de ouro preto é representada agora, legitimamente, dentro desse espaço que é um ícone para a história do Brasil”, celebrou o Prof. Clésio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) da Universidade federal de Ouro Preto.

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Reforma do Museu da Inconfidência

Fachada do Museu da Inconfidência, cuja primeira etapa de reforma deve ser finalizada ainda em julho
Fachada do Museu da Inconfidência, cuja primeira etapa de reforma deve ser finalizada ainda em julho – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

O Museu da Inconfidência em Ouro Preto está passando por reformas, desde janeiro deste ano, que incluem melhorias na rede elétrica e restauração de bens artísticos. Inicialmente previstas para 30 dias, as obras sofreram atrasos devido à necessidade de adaptação e adequação de projetos, e tem previsão para serem finalizadas ainda em julho.

A reforma conta com recursos do Ministério Público de Minas Gerais, via Plataforma Semente, e, durante o período de funcionamento, a programação cultural do Museu da Inconfidência continua ativa, com exposições e eventos sendo realizados em outros espaços do museu, como a Sala Manoel da Costa Athaíde (Anexo do museu) e Casa setecentista do Pilar.

Foto de Luiz Loureiro
Luiz Loureiro é jornalista graduado pela UFOP, fundador, sócio proprietário e editor chefe da Agência Primaz de Comunicação.