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Hoje é sábado, 28 de junho de 2025

CineOP: Marisa Orth reflete sobre comédia, cinema e trajetória

Roda de conversa promoveu encontro com Marisa Orth e Anna Muylaert e discutiu o humor feminino no cinema brasileiro

Marisa Orth na mostra de cinema de Ouro Preto.
Marisa Orth e Anna Muylaert em roda de conversa no primeiro dia da Mostra de Cinema de Ouro Preto - Foto: Larissa Antunes/Agência Primaz

Na última quinta-feira (26/06) a 20ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) realizou uma roda de conversa com a atriz Marisa Orth e a cineasta Anna Muylaert para discutir suas trajetórias artísticas e o humor como expressão cultural. O encontro fez parte da programação que homenageia Marisa Orth e integra a mostra dedicada ao humor das mulheres no cinema brasileiro.

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Cléber Eduardo, mediador e curador da temática histórica do CineOP, iniciou a conversa contextualizando a homenagem à Marisa Orth no eixo histórico da mostra, que este ano destaca a presença de mulheres na criação e protagonismo de obras cômicas entre 1973 e 2022. A curadoria reuniu 21 filmes, sendo 10 longas e 11 curtas-metragens, criados majoritariamente por mulheres.

Marisa Orth e Anna Muylaert compartilharam suas experiências em comum. Durante a conversa, elas abordaram o ambiente artístico paulistano dos anos 1980, com destaque para a efervescência cultural gerada pelo fim da ditadura militar e pela cena teatral, musical e cinematográfica da época. 

A conversa abordou também a relação entre comédia e tragédia na dramaturgia brasileira, marcada por uma fusão entre elementos cômicos e dramáticos. A atriz relatou sua trajetória artística, passando pelo teatro, televisão e cinema, e destacou a importância da geração à qual pertence, citando colegas como Fernanda Torres, Andréa Beltrão e Regina Casé.

Anna Muylaert e Marisa Orth no final da roda de conversa na mostra de cinema de ouro preto
Anna Muylaert e Marisa Orth ao lado dos curadores da Temática Histórica do CineOP, Cleber Eduardo e Juliana Gusman - Foto: Larissa Antunes/Agência Primaz

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Anna Muylaert falou sobre os desafios enfrentados por sua geração no cinema, marcados pelo período de estagnação do setor durante os anos 1990, e sobre a importância de seu trabalho na TV Cultura como espaço de formação em dramaturgia. A diretora também abordou o uso do humor como estratégia narrativa e destacou sua preferência por um humor construído a partir do desconforto, do erro e da ironia.

A roda de conversa também incluiu reflexões sobre o uso do humor como ferramenta crítica e como meio de resistência em um contexto social marcado por desigualdade. As artistas discutiram a recepção do humor na cultura brasileira e os desafios de se fazer comédia em tempos marcados por debates sobre representatividade e politicamente correto.

Orth defende a democratização da cultura e cinema brasileiros

Em coletiva, a atriz Marisa Orth revisitou sua trajetória e analisou os desafios do humor contemporâneol. A homenageada comentou sobre sua carreira, o papel da mulher no humor, os impactos da crítica, e sua relação com o teatro, o cinema e as políticas culturais.

Orth foi enfática ao abordar a desigualdade no acesso à cultura no Brasil. Segundo a atriz, ainda prevalece o estigma de que cinema, teatro e artes plásticas são “coisa de elite”. Para ela, a cultura precisa ser democratizada com urgência: “No Brasil é má distribuição de renda e má distribuição de cultura. Entende? ‘Quem sou eu, para ir no festival?’ É uma luta muito grande no nosso país”, alega a artista.

A atriz destaca que a promoção de eventos que fomentem cultura e entretenimento de forma gratuita é fundamental. “A importância da gente democratizar a cultura, parar com esse papo de que cultura é só coisa para rico. Isso atrasa o país e atrasa o artista. Você regular a cultura assim, acho sacanagem” afirma.

Questionada sobre o papel da mulher no humor, Marisa Orth destacou que a comédia é diretamente ligada à inteligência e que as mulheres ainda enfrentam barreiras para serem reconhecidas como engraçadas. “Estamos vencendo isso. Acho que conquistar o humor é um sinal de que a mulher tem que estar tendo sua inteligência respeitada”, afirma.

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Ouro Preto e curso de cinema

Segundo Marisa, é uma honra ser homenageada por uma mostra de cinema gratuita, especialmente em uma cidade como Ouro Preto. Para a atriz, “Ouro Preto é muito luxuoso, né? Eu lembro de todas as vezes que eu vim aqui. Graças a Deus foram várias, é mágico mesmo, é clichê, não tem como falar de Ouro Preto sem falar de magia, de encantamento, de história”.

Orth destaca a beleza da cidade, descrevendo-a como um “estúdio a céu aberto” e reforça “Acho que aqui devia ter uma faculdade sem cinema. Eu acho que aqui tem tudo a ver com cinema.”

Marisa Orth na mostra de cinema de Ouro Preto
"Eu acho que eu eu rio de mim, tipo todo dia. Rio quando eu achava que eu não ia trabalhar com comédia", afirma a atriz - Foto: Larissa Antunes/Agência Primaz

Trajetória de Marisa Orth

Marisa Orth nasceu em São Paulo, em 21 de outubro de 1963. Formou-se em Comunicação e Artes na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP), e logo se destacou como atriz de teatro, televisão, cinema e também como cantora. Sua carreira começou nos palcos, com sólida formação teatral e uma afinidade especial por musicais, gênero no qual se consagrou em montagens como Vitor ou Vitória, A Família Addams, O Musical dos Musicais e Romance Volume II.

Na televisão, alcançou enorme popularidade interpretando Magda, no humorístico Sai de Baixo (1996–2002), um dos programas mais lembrados da comédia brasileira. Também participou de novelas e séries como Bang Bang (2005), Sangue Bom (2013), Éramos Seis (2019), e integrou o elenco da série Toma Lá, Dá Cá (2007–2009).

No cinema, atuou em filmes como Durval Discos (2002), dirigido por Ana Muylaert, Sexo Amor & Traição (2004), Trair e Coçar é Só Começar (2006), Irma Vap – O Retorno (2006) e Zoom (2015), além de trabalhos em curtas e participações especiais em documentários e produções independentes.

Foto de Larissa Antunes
Larissa Antunes é graduanda em Jornalismo na UFOP e estagiária na Agência Primaz de Comunicação. Possui interesse por jornalismo cultural, radiojornalismo, audiovisual, fotojornalismo, movimentos político-sociais e expressões artístico- culturais.