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Hoje é sábado, 18 de maio de 2024

Um olhar infantil: alunos de Cláudio Manoel realizam exposição de poesias e fotografias

O evento de abertura da exposição contou com membros da Sociedade dos Poetas Aldravianistas Brasileiros

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Cavaletes com exposição de poesias e fotografias de alunos de Cláudio Manoel
Fotografias expostas com poesias escritas pelas crianças. Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Na última sexta-feira (09), a Casa de Cultura da cidade recebeu a abertura da exposição “Meu olhar sobre Cláudio Manoel”. No local histórico, estão reunidas dezenas de fotografias acompanhadas de aldravias escritas pelas crianças do tempo integral do distrito de Cláudio Manoel, localizado a 46 km do centro de Mariana.

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O evento teve início às 9h e contou com a mesa de abertura formada por Adriana Roberta Ferreira Gomes, diretora da escola; Izabella Marina Martinho Saraiva, pedagoga responsável pelo projeto, a subsecretária de educação, Luciene Maria de Oliveira, e uma das criadoras da poesia aldravista, Andreia Donadon Leal. Estiveram presentes também os pequenos artistas, uniformizados e ansiosos, acompanhados pelos pais orgulhosos e sorridentes.

“Casa

de

Barro

Morada

Sem

Gente”

É assim que Michelle, aluna do 5º ano do ensino integral da escola Padre Antônio Gabriel de Carvalho, descreve uma fotografia de uma casa de barro.

Auditório da Casa de Cultura, onde aconteceu a abertura de poesias e fotografias sobre o distrito de Cláudio Manoel
Sala cheia para prestigiar a abertura da exposição. Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Emoção

Izabella Marina se mostrou muito emocionada com a realização do evento. Ela destacou que a ideia motivadora do trabalho foi trazer o distrito de Cláudio Manoel sob a perspectiva singela e pura das crianças que vivem ali. Por isso a escolha da aldravia como linguagem. Essa forma de poesia é genuinamente marianense e é considerada a primeira forma de poesia brasileira.

Então eu falei:  gente se chegasse alguém aqui que não conhece aqui o distrito, como que vocês apresentariam? O que vocês apresentariam? O que que vocês fotografariam ‘pra’ mostrar ‘pra’ essas pessoas que não conhecem Cláudio Manoel?”, explicou Izabella sobre a maneira com que apresentou a proposta aos alunos.

A pedagoga ainda destacou a importância da ajuda de Andreia Donadon Leal desde o começo, orientando e acompanhando o processo. Para apresentar a aldravia aos pequenos, foi utilizado um livro que Andreia disponibilizou para as escolas de Mariana, apresentando a metodologia que envolve o processo criativo.

A poetisa se mostrou extremamente emocionada com o evento e destacou o caráter infantil da aldravia como representação do mundo.

“Quando nós criamos essa forma de poesia, no ano de 2000, não foi ao acaso. Foi porque nós ministramos oficinas em diversas escolas a convite dos professores. E percebemos uma certa resistência de se aprender poesia por ser uma linguagem enxertada de figuras de linguagem, subjetividade. Os alunos não se identificavam com essa forma de poesia. Então pensamos justamente na palavra passar a ser o bastião da poesia. O verso uni vocabular, sendo a palavra que puxa, a palavra na sua verticalidade, né?”, relembra Andreia.

A aldravia são seis versos uni vocabulares segundo o espírito de Ezra Pound: ‘máximo de poesia, no mínimo de palavras’. No entanto, apresentamos uma forma de poesia desamarrada, uma forma de poesia simples que falasse do cotidiano e fizesse uma fotografia sobre o que os alunos veem, não só o que veem, mas o que sentem, o que ouvem, o que degustam trabalhando os sentidos”, complementa.

Diante de uma tela exibindo fotografia de um parquinho infantil, com os dizeres "Lugar de brincar escorregar e balançar", aluno se apresenta na abertura da exposição de poesias e fotografias
Um dos pequenos poetas declama sua poesia. Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

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Ocupação de espaços e pertencimento

Um dos grandes temas apresentados na cerimônia de abertura foi a importância da ocupação de um espaço histórico do centro de Mariana por alunos da rede pública de um distrito tão distante. A pedagoga Izabella afirmou que a intenção foi trazê-los para mostrar para elas, e para a cidade toda que, “é possível ocupar outros espaços, além daquele lá da zona rural. É mostrar que eles podem estar aqui também”.

As aldravias acompanham fotos de locais comuns para elas, por isso todos passaram por uma oficina de fotografia ministrada pelo fotógrafo Ailton Fernandes.  Além das imagens e poesias, também foi produzido um curta-metragem intitulado “Plantas que curam”, em que elas apresentam folhas e ramos de chás utilizados pelas pessoas em Cláudio Manoel para tratar doenças. Todos os vídeos foram gravados e produzidos pelos próprios pequenos cineastas, conduzidos pela professora de teatro Ana Paula da Silva Pena.

A emoção tomou conta de todos quando os pequenos cantaram duas músicas ao final da cerimônia. A primeira canção foi “Alecrim dourado” e a segunda foi uma composição deles e do professor de música Victor Samuel Gomes Silva, intitulada “Serra do Coco”. Em um dos versos, eles cantam: “Na serra do coco a paz transparece, refletindo na areia branca, sentimentos que viessem”.

Livro da exposição de poesias e fotografias

Livro reúne as obras apresentadas na exposição de poesias e fotografias
As poesias foram reunidas em um livro. Todos os exemplares foram autografados pelas crianças. Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Os sentimentos ultrapassaram as palavras e as fotos quando, oficialmente, a exposição foi aberta. A felicidade era explícita nos olhos de Elaine, mãe de Briza Carneiro da Silva, aluna do 5º ano. Ela não conseguia parar de sorrir e afirmou que a sua pequena “nem conseguiu dormir à noite” devido a ansiedade. E foi exatamente com essa intenção que o evento foi idealizado. É o que afirmou Izabella, com os olhos marejados: “Eu espero que seja algo que fique na lembrança deles. É para eles guardem isso porque a gente não lembra muito dos conteúdos da escola, não é? Acredito que o que fica são essas relações que a gente constrói e desse projeto fica isso. Fica essa memória afetiva, essas lembranças e um momento assim muito grandioso, de muito amor”.

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