O futebol é o Brasil, e as brasileiras

A entidade torcedor é uma coisa de louco. Ele chora, grita e fica feliz com uma bola balançando na rede. Mas, da onde vem a palavra “torcedor”? Por que quem se comove com isso está torcendo?

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Foto: Agência Reuters

Bom, vou continuar com um papo mais de torcedor, essa entidade que sofre por algo que, como alguns dizem, nem sabe que você existe.

Eu não acho que é bem assim, mas eu sou uma torcedora fanática, não podemos levar isso tão em consideração. Esses dias mesmo eu estava chorando porque vi meu time ser campeão da Libertadores. É, acho que esse lance de ser torcedor é meio doido mesmo.

Mas, você sabe da onde vem a palavra torcedor? Vou trazer a história que eu mais gosto, aquela mais poética e da literatura.

“Não há, portanto, nos nossos hábitos, fato mais agradável do que assistir a uma partida de bolapé. As senhoras que assistem merecem então todo o nosso respeito. Elas se entusiasmam de tal modo que esquecem todas as conveniências. São chamadas de “torcedoras e o que é mais apreciável nelas é o vocabulário” (BARRETO, Lima)

Isso mesmo, antes de existir a torcida, existiam as torcedoras de futebol. O vocabulário utilizado nos jogos encontrou uma forma mais brasileira, mas “torcer” não é correspondente com “cheer on”, que a princípio significa alegrar, e nem com “fan”, abreviatura de “fanatics” ou “supporter” que significa suporte em português, que são os termos em inglês para torcedores.

Além disso, nos anos 1900, as cheerleaders acompanhavam os jogos de uma maneira bem diferente das nossas torcedoras. Nos primórdios do esporte no Brasil, a torcida era formada por pessoas educadas, já que o esporte, até então, era alimentado pela alta sociedade endinheirada. 

Para praticar o futebol, era preciso importar os materiais diretamente da Inglaterra, e o preço para traze-los era alto o suficiente para apenas a elite jogar.

Pelo mundo, encontramos diversas outras palavras, cada uma com um significado diferente, mas todas com a função de representar as sensações das pessoas em relação com o futebol: felicidade, raiva, ansiedade e amor.

Na Rússia, eles utilizam a palavra “baliechik”, ela é derivada de “bolet”, que significa ficar doente. Em italiano, temos a palavra “tifoso”, uma referência a febre tifoide e seu delírio febril. No Uruguai, os amantes dos esportes são os “hinchas”. O nome surgiu porque Prudêncio e mais um grupo de pessoas inflavam balões durante os jogos de futebol, assim, eram os “hinchas”, palavra que significa infladores. O termo se popularizou na América Latina.

Já na Espanha, os “aficionados” que demonstram todo seu amor pelo esporte e, na Alemanha, os “unterstutzer”. Para os árabes, os torcedores são conhecidos por serem pessoas que encorajam os outros, os “mashjie, palavra derivada de “shjia”, que significa coragem.

E por que alguém que ama futebol é conhecido, no Brasil, como torcedor? Muitos historiadores e jornalistas acreditam que o termo “torcer” apareceu no futebol brasileiro para referenciar o modo como as moças das boas famílias agiam nos eventos.

O termo ganhou popularidade dentro do futebol (e depois em outras modalidades) quando crônicas esportivas do século 20 destacavam as moças que, nervosas com as partidas, não podiam se descabelar, gritar, chorar, com seu time de coração, elas levavam para os estádios pedaços de pano, e os torciam durante as partidas para aliviar a tensão

Assim, o simples gesto daquelas “torcedoras de lenços”, que resolveram abraçar o esporte desde o início, serve hoje para denominar todos aqueles que apoiam um time de futebol.

(*) Luiza Boareto é jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), comentarista profissional de programas de TV e apaixonada por esportes. Espero que “o teu desejo seja sempre o meu desejo”. Mas se não for, é culpa do meu sol em Leão.

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