Pelo segundo dia consecutivo, moradores de Antônio Pereira protestam na MG-129

Atingidos reclamam da ausência de comunicação com a Vale e querem a retirada de famílias que permanecem na ZAS.

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As mulheres protagonizaram as manifestações - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Em mais uma tentativa de fechar a rodovia que dá acesso às minas Timbopeba, Fazendão e Alegria, moradores do distrito de Antônio Pereira foram até a rodovia MG-129 às 4h da manhã de hoje (13). Entretanto, ao chegar no local, policiais militares impediram o fechamento da via. E a manifestação que tinha o objetivo de fechar pelo segundo dia consecutivo a estrada, se converteu em uma passeata até o acesso a uma das minas da Vale. A ação pretendia ser maior que a ocorrida ontem, quando os atingidos conseguiram fechar a rodovia por nove horas. Mantendo o trânsito impedido no sentido Santa Bárbara para caminhões, ônibus e caminhonetes de empresas, até o início da tarde.

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Desde abril do ano passado, com o aumento do nível de emergência da Barragem Doutor, moradores do distrito sofrem com a situação. Insegurança, poluição, ausência de diálogo e de transparência nos critérios sobre quem deve ou não ser removido das casas em função da zona de auto salvamento (ZAS).

Em relação às manifestações, os atingidos querem a imediata remoção das mais de 25 famílias que ainda residem sobre a mancha da Barragem Doutor; a contratação de uma assessoria técnica e a melhoria do diálogo entre a mineradora e a comunidade.

Terça-feira

A ação teve início ainda de madrugada, por volta de 4h e se manteve com a participação quase exclusiva de mulheres durante boa parte da manhã. Para Maria Helena, além de proteger os empregos dos homens da comunidade, já que boa parte deles trabalham na mineração, “quem acaba sendo mais atingida nessa situação são as mulheres, as donas de casa. Somos nós que ficamos em casa com nossos filhos durante boa parte do dia, quem cuidamos da casa, da família”.

Janete de Cássia, mora na rua Projetada 10 com sua família e o local é classificado como ZAS. Janete afirma que está cadastrada desde junho para a remoção, mas apesar disso continua morando no mesmo local. Grávida, divide sua casa com o marido e dois outros filhos: “O risco é pra todo mundo, não importa tanto se a mancha está localizada exatamente sobre a casa da gente ou não, a lama pode pegar a gente quando estivermos atravessando uma rua, como eu vou correr grávida? A Vale não está nem aí pra gente, a vida da gente infelizmente não vale nada”, se emociona.

O problema da comunicação entre comunidade e Vale é exemplificado por outra manifestante, Fernanda Caetano, também moradora da Rua Projetada 10. Fernanda explica que “a juíza deu cinco dias para a Vale dizer o que seria feito com as famílias que ainda moram na ZAS. Esse prazo venceu no dia 22 de dezembro e até hoje a Vale não nos disse o que vai ser feito. Marcaram uma reunião ontem com a comunidade e não compareceram, pediram pra gente aguardar até dia 20 e com isso eles vão empurrando com a barriga e ganhando tempo, enquanto isso a gente fica nessa insegurança”.

Letícia Oliveira é do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e estava presente na manifestação, ela explica sobre a importância da contratação de uma assessoria técnica. A manifestante explica que “a assessoria pode contribuir com a confiança dos atingidos sobre o processo de reparação, além de contribuir no processo de mobilização da comunidade e também de pensar os próximos passos desse processo de reparação. A assessoria técnica faz um acompanhamento de fato aos atingidos durante todo o processo de reparação, e isso sana um pouco a dificuldade de informações e constrói junto dos atingidos como deve ser o processo para não deixar tudo nas mãos da Vale”, explica.

Durante a manhã, outros membros da comunidade aderiram à manifestação. Alguns foram para o asfalto auxiliar na contenção do tráfego, enquanto outros doaram água e alimentos para os manifestantes.

A ação terminou espontaneamente por volta das 13h pelos manifestantes que prometeram fechar a rodovia outras vezes na tentativa de sensibilizar algum representante da empresa na solução dos problemas trazidos pela comunidade.

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Quarta-feira

Hoje, por volta de 4h, alguns manifestantes se dirigiram até a MG-129 na tentativa de repetir a ação ocorrida ontem, mas ao chegar no local, eles foram surpreendidos pela presença da polícia militar. A PM enquadrou os manifestantes e impediu o fechamento da via. Após negociações, foi permitido aos atingidos ocupar metade da rodovia e a partir daí houve uma caminhada até uma das estradas de acesso da Mina Timbopeba com escolta policial. Após a caminhada, os atingidos retornaram para o distrito e o movimento se dispersou.

De acordo com Lucilene Santos, uma das atingidas, houve a promessa de uma reunião com uma representante da Vale ainda hoje, mas o encontro mais uma vez não aconteceu.

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