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Hoje é quarta-feira, 30 de abril de 2025

Estímulo à leitura é pauta em evento no Dia Mundial do Livro

“Literatura Quæ Sera Tamen” abre a programação com reflexões sobre arte, literatura, educação e imaginação

Foto de plateia sentada em cadeiras de couro marrom. Diversas pessoas, de diferentes idades, assistem ao evento. No fundo, uma parede de pedras compõe o ambiente. Algumas pessoas olham para frente com atenção, outras interagem entre si.
Público acompanha atentamente as atividades da V Semana Estadual de Incentivo à Literatura - Foto: Maria Teresa Carvalho/Agência Primaz.

Na noite de ontem (23), O “Literatura Quæ Sera Tamen” reuniu no Museu de Mariana, um público amante da literatura. Sob o tema “ano mineiro das artes”, os palestrantes da primeira noite de evento trouxeram reflexões sobre obras clássicas, caminhos para o incentivo à leitura, origem do registro de nossas histórias e a necessidade do exercício da imaginação. O evento é parte da programação da V Semana Estadual de Incentivo à Literatura. Reunidos no Dia Mundial do Livro, o encontro expôs o poder encantador e dilacerante da literatura na vida dos leitores. Hoje, a partir das 18h30, acontece a segunda e última noite do evento no Museu de Mariana.

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Ismália atual e presente

No início da noite, Ana Cláudia Santos, coordenadora do Museu Alphonsus de Guimarães, incitou os presentes a pensar na imprevisibilidade das reações advindas da leitura e na possibilidade de múltiplas interpretações de uma mesma obra. Ana também compartilhou as boas experiências que tem tido com os jovens visitantes do museu, que agora estão mais inteirados da obra de Alphonsus.

Ana conta que a música Ismália (AmarElo, 2019), de Emicida – inspirada no poema de mesmo nome, de Alphonsus de Guimarães, de 1923 –  não só convidou os ouvintes a uma análise da obra sob a perspectiva de raça, como também permitiu às gerações mais novas conhecerem o poema clássico simbolista. Para ela, a incorporação de referências de obras clássicas em outras linguagens artísticas é fundamental para a revisita ao clássico.

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O poder do faz de conta

Já o pequeno escritor, Théo Augusto de Almeida, comoveu o público com o poder transformador da imaginação e da importância do faz de conta. Admitindo se inspirar em figuras da vida real, mas, utilizando doses generosas de ficção, seu processo criativo consistiu na pura arte de fabular, exercício fundamental da primeira infância. Sua obra “A Mala do Vovô Théo” nasceu de uma tarefa escolar, e é só a primeira publicação do jovem autor, que quer continuar escrevendo.

Josiane Almeida, mãe de Théo, contou da origem do interesse do filho pela literatura e escrita. “Eu fiquei muito satisfeita por ele participar desse projeto. Eu já incentivava muito ele em casa, porque a literatura sempre fez parte da minha vida e eu tento passar isso para ele em casa, mostrando para ele a nossa história, a história da nossa cidade, da cultura.”, relata.

Em um ambiente interno com parede branca, Josiane, uma mulher de cabelos cacheados e jaqueta jeans segura um microfone enquanto fala sorrindo. Ao lado dela, um menino com moletom amarelo e preto, Théo, também com microfone na mão, sorri sentado em uma cadeira de escritório. Sobre o colo da mulher há um livro colorido.
Théo e Josiane de Almeida explicam o processo criativo do jovem autor - Foto: Maria Teresa Carvalho/Agência Primaz.

O significado de “livro” é a própria liberdade

A escritora, doutora em literatura brasileira e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Guiomar de Grammont, iniciou sua palestra falando sobre o poder universal da literatura, que ultrapassa o tempo e o espaço e se comunica igualmente com inúmeras pessoas em diferentes momentos da história. 

Guiomar salientou a origem do vocábulo “livro”. “Vem do latim ‘libere’, de liberar o papiro do restante da planta. Então a ideia de liberdade está contida de alguma forma na gênese da palavra ‘livro’, o que já induz à liberdade de pensamento,  liberdade crítica, que só existe quando você lê, se informa e conhece muito.”, explica a professora.

Guiomar, uma mulher de cabelos cacheados e óculos segura um microfone e lê atentamente um livro aberto. Ela veste casaco preto e está em pé diante de uma parede branca.
Guiomar de Grammont faz leitura de um poema de seu livro “Mais pesado que o ar” durante o evento - Foto: Maria Teresa Carvalho/Agência Primaz.

Iva Bernardino, doutora em letras e professora da UFOP, discursou sobre o contrato tácito que existe entre autor e leitor no momento da leitura. Para ela, o leitor precisa acreditar no universo construído naquela obra, e tal movimento permite que os leitores vivam outras realidades. 

Outro ponto trazido pela professora é o fascínio coletivo por textos em poesia que exigem um grau mais apurado para a apreciação. “Esse aspecto quase visceral em que tentamos entender aquilo que não está dado, a forma da poesia, o verso, geram desautomatização. O estranhamento nos tira do automatismo. Então, a poesia tem esse poder do encantatório.”, completa.

Como cultivar o hábito da leitura?

Laísa Gomes, professora e estudante de letras, compareceu ao evento e saiu satisfeita com as colocações dos palestrantes. “Nesse dia do livro, foi inspirador ouvir os pensamentos dessas pessoas que eu admiro tanto, que trouxeram reflexões que às vezes a gente até já sabe, mas não conseguimos formular de forma tão clara como eles fazem.”, comenta.

Para Alexandre Soares, bibliotecário, coordenador da biblioteca pública municipal de Mariana e curador do evento, o segredo para o cultivo do hábito da leitura está na tentativa de despertar as vontades intrínsecas de cada indivíduo. Para ele, esse processo é o mesmo para crianças e para adultos.

Muito satisfeito com os assuntos trazidos pelos palestrantes, Alexandre celebra a autonomia do discurso e o andamento do evento. “Os palestrantes conseguiram capturar esse ensejo de liberdade e trouxeram assuntos que são ao mesmo tempo instigantes, sedutores, e de um certo ponto de vista, que emocionam. Foi possível enxergar nos olhos das pessoas, uma vontade de discutir mais sobre os assuntos.”, explica o bibliotecário.

V Semana Estadual de Incentivo à Literatura

A segunda e última noite do “Literatura Quæ Sera Tamen” acontece hoje, 24, às 18h30 no Museu de Mariana. A jornalista e escritora Thalia Gonçalves, é uma das palestrantes convidadas. A programação completa está no perfil do instagram da Biblioteca Municipal Benjamim Lemos, @bibli.benjamimlemos.

A V Semana Estadual de Incentivo à Literatura é uma iniciativa do governo estadual de Minas Gerais e a realização é das bibliotecas públicas e comunitárias de todo o estado. A programação completa pode ser acessada aqui.

Foto de Maria Teresa Carvalho
Maria Teresa Carvalho é natural de Belo Horizonte (MG). É aluna do 7º período de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.