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Hoje é sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Platão, o Mito da Caverna e a política das massas no Brasil contemporâneo

“Entre os extremistas de esquerda e os extremistas de direita, prefiro continuar sendo cristão!” (Vasconcelos, 2025)

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Platão e o Mito da Caverna

Ouça o áudio de "Platão, o Mito da Caverna e a política das massas no Brasil contemporâneo", do colunista Júlio Vasconcelos:

Por mais de dois mil anos, o Mito da Caverna, narrado por Platão em seu clássico “A República”, permanece como uma poderosa metáfora para compreender os fenômenos econômicos, políticos e sociais que estamos vivendo. No nosso Brasil contemporâneo, marcado pela polarização radicalizada, desinformação e mobilização emocional de massas, esse Mito revela uma atualidade muito preocupante.

Platão descreve um bando de prisioneiros acorrentados desde o nascimento dentro de uma caverna, de costas para a entrada, sem conseguir se virar. Nessa posição, eles veem apenas sombras projetadas na parede do fundo e acreditam piamente que aquelas imagens constituem verdadeiramente toda a realidade. Quando um deles se liberta e descobre o mundo exterior, percebe que viveu enganado e que a realidade é muito diferente e muito mais deslumbrante do que tudo aquilo que ele sempre enxergou. Movido pelo forte desejo de ajudar os antigos colegas, ele decide retornar para dentro da caverna e contar a verdade para eles, mas é ridicularizado, rejeitado e sacrificado.

A alegoria não trata apenas de ignorância individual, mas de uma ignorância coletiva, influenciada por discursos e interesses egoístas, mercenários e narcisistas de líderes malévolos e até de alguns ícones do mundo artístico em manifestações campais. No campo político, as sombras representam narrativas simplificadas, slogans, vídeos e versões parciais dos fatos que passam a substituir a realidade. Não é à toa que se diz que da população em geral, 10% são cabeças pensantes, 10% políticos e 80% gado, massa de manobra!

No cenário político atual do Brasil, observa-se um ambiente propício à lógica da caverna. A polarização transforma o debate público em confronto emocional, no qual a realidade dos fatos perde a importância diante dos discursos de ódio. Redes sociais e lideranças com uma retórica desvirtuada funcionam como o “fogo” do mito: produzem e projetam continuamente imagens que reforçam as crenças distorcidas já existentes.

Nesse contexto, infelizmente muitos cidadãos de bem deixam de agir como eleitores conscientes e críticos para se comportarem como torcidas enlouquecidas. A complexidade dos problemas nacionais cede lugar a explicações levianas, sem fundamento sólido, quase sempre acompanhadas de culpados bem definidos, agressões verbais e físicas, algumas vezes fatais. O pior de tudo é que uma grande maioria se diz cristã e frequenta assiduamente os eventos religiosos, muitos, em altos brados, à frente dos púlpitos nos templos, com alto poder de influência. Quando se fala de amor, caridade, compaixão e perdão, uns dos maiores pilares do cristianismo, confundem com questões legais ou jurídicas e com politicagem barata e partem para agressões verbais de baixo nível, utilizando frases clichês, carregadas de ódio. Entre os extremistas de esquerda e os extremistas de direita, prefiro continuar sendo cristão! Talvez, no mundo atual, o maior desafio do cristianismo seja converter os próprios cristãos!

Platão alerta que o retorno do liberto à caverna é perigoso. A verdade incomoda! No Brasil atual, vozes que tentam romper com narrativas polarizadas e radicais, seja questionando os excessos dos dois lados, seja propondo mais empatia, diálogo e harmonia, são frequentemente hostilizadas. O debate público passa a punir e execrar o questionamento espiritualizado, a reflexão e a busca da harmonia e da união.

Não se trata de falta de informação. Nunca houve tanto acesso a dados, análises e notícias. O problema central é a resistência psicológica àquilo que ameaça identidades políticas consolidadas no poder. A sombra confortável vence a luz incômoda.

Platão desconfiava do governo das massas quando estas são guiadas pela paixão e não pela razão. Sua crítica não é à participação popular em si, mas à manipulação das emoções coletivas. Quando a política se converte em espetáculo e indignação permanente, a democracia se fragiliza por dentro.

A caverna moderna não é subterrânea. Ela é digital, portátil e personalizada e também está nos espaços abertos, em praças públicas, com um bando de obnubilados carregando faixas e cartazes com frases de efeito sem entender o mínimo do que elas significam. O aprisionamento não é imposto; é manipulado e aceito inconscientemente.

O Mito da Caverna segue atual porque revela um traço persistente da vida pública: a tendência humana a confundir discursos inflamados e carregados de falácias, com realidade. No Brasil contemporâneo, o desafio político não é apenas institucional, mas cultural e educativo.

Formar cidadãos e cristãos capazes de colocar verdadeiramente os ensinamentos evangélicos em prática, com amor, ponderação, equilíbrio, tolerância, empatia e diálogo é o maior desafio! Como lembra Platão, sair da caverna é doloroso, mas permanecer nela pode custar muito caro à democracia.

Que venha novamente o Natal e que o Espírito do Menino Deus invada verdadeiramente os nossos corações!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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