- Mariana
Première de curta sobre mineração lota cineteatro em Mariana
A produção ficcional “Tudo que é sólido desmancha no ar” teve contribuição da cena artística de Mariana
- Ana Beatriz Justino
- Supervisão: Lui Pereira
O filme “Tudo que é sólido desmancha no ar” teve sua estreia durante o início da noite de domingo (30) no Cineteatro de Mariana. A narrativa do curta é guiada pela mineração predatória no distrito fictício de Mariana chamado Antônio Borba, nessa linha temporal o ar é privatizado e os moradores são obrigados a pagar uma tarifa por respirar. Durante toda a exibição uma intérprete de libras estava presente no palco garantindo a acessibilidade. Com a sala cheia, a equipe de produção foi ovacionada ao final da exibição.
*** Continua depois da publicidade ***
***
O curta
Ambientado em Mariana e em Ouro Preto, a produção fictícia acompanha a vida de Carlinhos, um jovem trabalhador da mineração, artista e morador de Antônio Borba que começa a filmar seu cotidiano no quadrilátero ferrífero. O distrito em que o personagem mora é cercado pelas “montanhas recortadas” pela mineração e sofre com a péssima qualidade do ar, isso afeta diretamente a vida da população com a sujeira, aumento de doenças respiratórias e a necessidade de andar de máscara na rua devido à poluição.
A obra audiovisual se propôs a integrar os artistas regionais à narrativa, com essa possibilidade foi possível ver rostos conhecidos na cena artística de Mariana, como o rapper Aquiles o Poeta e o artista visual Bruno Miné. Foi a primeira experiência de Bruno como ator, o processo foi de experimentação, “foi um foi total atrevimento, um convite, assim, porque o filme, né, o Christian e a Laura, eles querem colocar a cena artística da cidade em atividade no filme, né? E eu acho isso muito bacana, assim, da parte deles. E foi massa, sim, porque durante o processo de direção a gente teve uma orientação também”, comentou o artista.
Kaio Serafim foi o responsável por dar vida ao personagem Carlos, o estudante de artes cênicas teve sua primeira grande experiência de atuação no cinema. “Foi uma loucura assim, e foi muito gostoso estar participando desse filme. Também estressante por meios, né? O teatro é muito diferente de fazer filme. É um outro tempo, é um outro momento, mas a galera da produção deixou tudo muito confortável pra gente que tava na cena, sabe?”
Para o ator, a temática o fez ter um entendimento maior sobre a mineração em Minas Gerais, já que o artista não é da região. “Eu tive em contato com outras pessoas também que são daqui e pude entender o que é esse sentimento de ansiedade de ter uma barragem que pode explodir a qualquer momento do lado da sua casa e devastar anos de história, anos de história antes de você assim nascer. E aí é uma responsabilidade bem grande, né? Tá carregando uma história que não necessariamente é minha, mas que a gente tem um poder de contar assim com um filme bem bacana desse,” reflete Kaio.
Ver mais reportagens da Editoria Cultura

SeMANA AFROfeminista encerra com dança, DJs e muita celebração

IX SeMANA AFROfeminista discute mulheridade negra e saúde mental

A magia do Natal chega com tudo em Mariana
Inscreva-se no nosso canal de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.
Por trás das câmeras
Depois que os créditos subiram, toda a equipe de produção e os atores se direcionaram para frente do palco e lá os agradecimentos foram feitos pelos diretores Laura Borges e Anthony Christian, que frisaram que a história é um retrato da realidade das cidades do quadrilátero ferrífero. “Eu acho que vale a pena mencionar que esse filme é uma ficção, mas tudo nele é verdade. Tudo nele é verdade. Todas as cenas, todas as falas,” discursa Laura.
O processo de pesquisa e produção durou quase dois anos, incluindo conversas com pessoas atingidas e visita a territórios que sofrem e sofreram com barragens. Para a diretora Laura nada aconteceria sem a ajuda das pessoas, “é um projeto que envolve muitas pessoas, muitas pessoas do território, mas que eu acho que é por isso que realmente ele envolve muita amizade. É um filme que não aconteceria sem um grande coletivo de amizade”.
A sensação do alívio do trabalho cumprido e a euforia do teatro cheio acertaram em cheio a equipe que se emocionou no final. “É incrível ver que a sala tava cheia de pessoas, ver que a gente conseguiu mobilizar muita gente, a gente conseguiu falar de um assunto muito sério e exibir isso que também só existe por conta de uma lei de incentivo à cultura,” reflete Laura Borges.
Como próximos passos, os diretores pretendem que o filme rode por festivais antes de ficar disponível em alguma plataforma para o público. Segundo Anthony Christian, a meta é que o filme rode bastante em 2026. Os diretores acreditam que pela temática a obra será mobilizada em salas de aula para além da academia “É um filme também que, provavelmente, alguns professores vão querer rodar em salas também. Então, não só se prender a festivais, mas tentar disseminar de todas as formas possíveis e não só se prender a academia também,” comenta Anthony.
Os diretores farão, no próximo ano, uma mostra pelas escolas estaduais do município de Ouro Preto. A mostra será feita em fevereiro, mas ainda sem data confirmada, a iniciativa tem a intenção de divulgar o filme para além dos muros da universidade. “Então acaba que o filme também tem que rodar não só nas academias, não só nas mostras, mas também nas escolas”.