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Hoje é terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Première de curta sobre mineração lota cineteatro em Mariana

A produção ficcional “Tudo que é sólido desmancha no ar” teve contribuição da cena artística de Mariana

O curta foi realizado através de lei de incentivo à cultura e, também, é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos diretores
O curta foi realizado através de lei de incentivo à cultura e, também, é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos diretores - Foto: Ana Beatriz Justino/Agência Primaz

O filme “Tudo que é sólido desmancha no ar” teve sua estreia durante o início da noite de domingo (30) no Cineteatro de Mariana. A narrativa do curta é guiada pela mineração predatória no distrito fictício de Mariana chamado Antônio Borba, nessa linha temporal o ar é privatizado e os moradores são obrigados a pagar uma tarifa por respirar. Durante toda a exibição uma intérprete de libras estava presente no palco garantindo a acessibilidade. Com a sala cheia, a equipe de produção foi ovacionada ao final da exibição.

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O curta

Ambientado em Mariana e em Ouro Preto, a produção fictícia acompanha a vida de Carlinhos, um jovem trabalhador da mineração, artista e morador de Antônio Borba que começa a filmar seu cotidiano no quadrilátero ferrífero. O distrito em que o personagem mora é cercado pelas “montanhas recortadas” pela mineração e sofre com a péssima qualidade do ar, isso afeta diretamente a vida da população com a sujeira, aumento de doenças respiratórias e a necessidade de andar de máscara na rua devido à poluição.

A obra audiovisual se propôs a integrar os artistas regionais à narrativa, com essa possibilidade foi possível ver rostos conhecidos na cena artística de Mariana, como o rapper Aquiles o Poeta e o artista visual Bruno Miné. Foi a primeira experiência de Bruno como ator, o processo foi de experimentação, “foi um foi total atrevimento, um convite, assim, porque o filme, né, o Christian e a Laura, eles querem colocar a cena artística da cidade em atividade no filme, né? E eu acho isso muito bacana, assim, da parte deles. E foi massa, sim, porque durante o processo de direção a gente teve uma orientação também”, comentou o artista.

Kaio Serafim foi o responsável por dar vida ao personagem Carlos, o estudante de artes cênicas teve sua primeira grande experiência de atuação no cinema. “Foi uma loucura assim, e foi muito gostoso estar participando desse filme. Também estressante por meios, né? O teatro é muito diferente de fazer filme. É um outro tempo, é um outro momento, mas a galera da produção deixou tudo muito confortável pra gente que tava na cena, sabe?” 

Para o ator, a temática o fez ter um entendimento maior sobre a mineração em Minas Gerais, já que o artista não é da região. “Eu tive em contato com outras pessoas também que são daqui e pude entender o que é esse sentimento de ansiedade de ter uma barragem que pode explodir a qualquer momento do lado da sua casa e devastar anos de história, anos de história antes de você assim nascer. E aí é uma responsabilidade bem grande, né? Tá carregando uma história que não necessariamente é minha, mas que a gente tem um poder de contar assim com um filme bem bacana desse,” reflete Kaio.

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Por trás das câmeras

Depois que os créditos subiram, toda a equipe de produção e os atores se direcionaram para frente do palco e lá os agradecimentos foram feitos pelos diretores Laura Borges e Anthony Christian, que frisaram que a história é um retrato da realidade das cidades do quadrilátero ferrífero. “Eu acho que vale a pena mencionar que esse filme é uma ficção, mas tudo nele é verdade. Tudo nele é verdade. Todas as cenas, todas as falas,” discursa Laura. 

O processo de pesquisa e produção durou quase dois anos, incluindo conversas com pessoas atingidas e visita a territórios que sofrem e sofreram com barragens. Para a diretora Laura nada aconteceria sem a ajuda das pessoas, “é um projeto que envolve muitas pessoas, muitas pessoas do território, mas que eu acho que é por isso que realmente ele envolve muita amizade. É um filme que não aconteceria sem um grande coletivo de amizade”.

A sensação do alívio do trabalho cumprido e a euforia do teatro cheio acertaram em cheio a equipe que se emocionou no final. “É incrível ver que a sala tava cheia de pessoas, ver que a gente conseguiu mobilizar muita gente, a gente conseguiu falar de um assunto muito sério e exibir isso que também só existe por conta de uma lei de incentivo à cultura,” reflete Laura Borges.

Como próximos passos, os diretores pretendem que o filme rode por festivais antes de ficar disponível em alguma plataforma para o público. Segundo Anthony Christian, a meta é que o filme rode bastante em 2026. Os diretores acreditam que pela temática a obra será mobilizada em salas de aula para além da academia “É um filme também que, provavelmente, alguns professores vão querer rodar em salas também. Então, não só se prender a festivais, mas tentar disseminar de todas as formas possíveis e não só se prender a academia também,” comenta Anthony. 

Os diretores farão, no próximo ano, uma mostra pelas escolas estaduais do município de Ouro Preto. A mostra será feita em fevereiro, mas ainda sem data confirmada, a iniciativa tem a intenção de divulgar o filme para além dos muros da universidade. “Então acaba que o filme também tem que rodar não só nas academias, não só nas mostras, mas também nas escolas”.

Foto de Ana Beatriz Justino
Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e estagiária na Agência Primaz. Possui grande atração por gênero, cultura e politica.