- Itabirito
Festival Gastronômico de Itabirito premiou quatro estabelecimentos
A iniciativa, além de fomentar o turismo gastronômico, contribuiu para estreitar os laços entre restaurantes e produtores rurais
- Ana Beatriz Justino
- Supervisão: Luiz Loureiro
O Festival Gastronômico de Itabirito chegou ao fim neste sábado (22), com premiações que juntas chegaram a R$29 mil. Durante a saideira aconteceram aulas-show de preparo de alimentos, apresentações culturais e todos os pratos da competição a R$25. Com organização da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Itabirito e temática “Comida Afro: das origens aos destinos”, o festival premiou quatro estabelecimentos concorrentes.
*** Continua depois da publicidade ***
***
Vencedores do Festival Gastronômico
A curadoria dos pratos ficou por conta da Faculdade Arnaldo e os vencedores foram:
1° lugar: prato Porquibebe Cachaça da La Crêperie;
2° lugar: prato Ajeum do Empório 77;
3° lugar: prato Do Mar ao Sertão do Mania de Filé;
Troféu Toninho Didalva: prato Cinco Vezes África do Arena Prosa e Sabor.
O primeiro lugar levou R$10 mil e um curso de gastronomia da Faculdade Arnaldo, o segundo lugar levou R$8 mil e o terceiro R$6 mil. O prato vencedor do troféu Toninho Didalva, escolhido por votação popular, foi premiado com R$5 mil.
Saideira do Festival
Apesar de não ter sido anunciada uma final, a saideira do festival integrou a Semana da Consciência Negra Itabirito 2025, já que a temática exaltou a culinária afro-mineira. O evento contou ainda com apresentações da banda Entre Nuvens, do Samba com Dendê e da Roda de Samba Itinerante com Pirulito da Vila.
Carola Machado, proprietária do Empório 77, é a idealizadora do prato Ajeum comenta sobre a dinâmica dos festivais. “Os pratos todos estavam muito bons, assim, a gente vai experimentando também durante o festival. Tem um ponto do festival que as pessoas contam para gente também. ‘Eu fui no fulano, e tá assim, assim, assim, eu gostei, eu não gostei’. É muito legal assim, sabe?”.
A premiação é uma forma de dar visibilidade para os estabelecimentos que estão se consolidando no mercado, como é o caso da La Crêperie. O estabelecimento familiar de Laura Beatriz, em conjunto com seus pais Adriana Silva e Wanderson Oliveira, é recente, e ela considera que a oportunidade de apresentar o estabelecimento na praça da cidade já é uma grande vitória.
Ver mais reportagens da Editoria Cultura

Inauguração da Galeria Gameleira abre IX SeMANA AFROfeminista

Point 07 traz o clássico Toucinho de Rolo Empanado no Botecando

Jiló do Coreto Butiquim estreia e já vira queridinho do festival
Inscreva-se no nosso canal de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.
La Crêperie no festival gastronômico
A La Crêperie é um sonho antigo dos pais de Laura, mas foi com ela que o negócio ganhou um espaço físico. Com cinco meses de “reinauguração” o espaço ganha o primeiro lugar do festival com o Porquibebe Cachaça. O prato, composto pela junção de três nacionalidades, o quibebe de abóbora, prato típico da região de Angola, o crepe, da cultura francesa e a cultura de boteco de Minas Gerais com a metáfora do porco que bebe cachaça (Porquibebe Cachaça).
O Porquibebe Cachaça ainda tem o opcional de ser acompanhado por um “Sapeca Porco”, um shot exclusivo feito de “xarope de abóbora, um toque de gengibre e a cachaça” que harmoniza junto com o crepe.
Para Laura a ficha de ter ganhado com um estabelecimento tão recente ainda não caiu. “É uma sensação que eu ainda não sei explicar muito bem. É meio que inacreditável, porque, por exemplo, os outros dois estabelecimentos que subiram ao pódio, junto com a creperia, são estabelecimentos assim super renomados em Itabirito. São estabelecimentos em que a comida dos estabelecimentos é muito boa”, mas ela sabe que o pódio deu um gás para o sonho que ainda se constrói.
A inspiração para o prato veio de Adriana Silva, que se empolgou com a possibilidade do trocadilho de algo quibebe (que bebe). “Aí ela já falou assim: ‘Nós vamos usar o quibebe, porque nós vamos fazer um crepe de boi com quibebe e a carne de boi vai ser na cerveja, a gente vai fazer o boi que bebe cerveja,” explica entre risadas a empreendedora. Depois de uma consultoria da Faculdade Arnaldo, a carne de boi foi substituída pela de porco para melhor harmonização dos sabores, mas o porco continuou com a proposta de beber, só que agora cachaça.
*** Continua depois da publicidade ***
Empório 77 no festival gastronômico
Carola Machado contou que a ideia para o prato veio de um sonho, “Esse ano a inspiração estava difícil, aquela coisa complicada e aí teve uma noite que eu tive um sonho e a inspiração foi exatamente essa. A gente desenvolve, lógico, um trabalho de pesquisa, porque o tema é muito vasto, né?”.
A partir daí nasceu o prato vencedor do segundo concurso, baseado nos quatro elementos, água, terra, fogo e ar, que regem o panteão iorubá. Um filé de tilápia empanado no fubá sob uma cama de purê de inhame, vinagrete de cuxá (hibisco) com banana-da-terra tostada e chips de mandioca, em que cada alimento representa um elemento.
Ter ganhado o prêmio traz uma sensação de dever cumprido para a empresária, ainda mais por ter sido avaliada pela Faculdade Arnaldo. “Você saber que está num nível mais técnico, isso é muito importante. E a diferença de pontuação entre um prato e outro, entre o primeiro e o segundo e terceiro lugar, foi coisa assim, mínima,” disse a chef.
O estabelecimento já disputou edições anteriores do evento e subiu ao pódio outras duas vezes, em 2022 e 2023. Como meta pós festival, o Empório 77 pretende criar um cardápio especial com pratos do festival, além de sempre buscar melhorar cada vez mais.
*** Continua depois da publicidade ***
A experiência além do paladar
Os dois estabelecimentos, focaram em outras experiências sensoriais para além do paladar. Na La Crêperie os clientes tinham a oportunidade de fazer um pedido ao universo queimando-o no fogo do shot Sapeca Porco. “Antes da gente entregar o prato, a gente entregava um papel, a pessoa escrevia um pedido nesse papel, porque em algumas regiões da África, eles têm o costume de fazer os alimentos e ofertarem aos seus deuses em forma de agradecimento ou em forma de pedido. Então a gente trouxe isso também. A pessoa escrevia o papel e aí na hora que o prato chegava, a gente queimava esse papel e jogava ele para o universo, para o universo realizar os pedidos dos nossos clientes”, explicou Laura.
O Empório 77 caracterizou seu espaço para conectar o público à narrativa do prato, conectando a experiência a algo além do sabor. “Tenho uma irmã que é tatuadora e pintora também, então ela fez algumas aquarelas de pessoas negras. Ela fez a aquarela do prato, a gente faz uma ambientação também que eu acho que isso também é uma coisa muito interessante e acho que o primeiro e o segundo lugar tiveram muito disso também, é, sobre a o cuidado de fazer não só comida com excelência, mas também de ter uma história e de ter uma narrativa que fosse capaz de encantar as pessoas tanto quanto comida”, contou Carola.
Para além da ambientação, todos os pratos precisavam ter ingredientes de produtores locais, o que conectou ainda mais os restaurantes à agricultura familiar. O Empório utilizou o fubá e o coentro, mas utiliza sempre que possível os ingredientes da cozinha que venham de um ambiente de economia circular.
Carola ainda comentou sobre uma iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de MG (EMATER) a respeito da conexão entre os produtores rurais e o comércio. “Nesse festival, os laços entre produtores e a gente ficaram muito mais fortes. Foi criado um grupo de WhatsApp e através de um de um técnico de extensão rural da EMATER, ele faz essa ponte entre a gente, mostra os produtos que estão disponíveis na semana para que a gente continue fazendo isso, porque também não adianta a gente ficar comprando só durante festival e o resto do ano todos os produtores ficarem aí a Deus dará”.
A La Crêperie utilizou em seu preparo a pimenta dedo de moça, mas outras matérias primas também foram adquiridas nos cultivos familiares. “O prato usou a pimenta dedo de moça, que foi o principal, né, do prato. Mas assim, a gente utilizou ovo e aí a gente acabava comprando coisa para casa também, que já tava comprando na fazendinha, já trazia coisa para casa”.