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Hoje é quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Festival Gastronômico de Itabirito premiou quatro estabelecimentos

A iniciativa, além de fomentar o turismo gastronômico, contribuiu para estreitar os laços entre restaurantes e produtores rurais

O prato que conquistou o primeiro lugar no Festival Gastronômico deste ano foi o Porquibebe Cachaça da La Crêperie
O prato que conquistou o primeiro lugar no Festival Gastronômico deste ano foi o Porquibebe Cachaça da La Crêperie - Foto: ASCOM/Prefeitura de Itabirito

O Festival Gastronômico de Itabirito chegou ao fim neste sábado (22), com premiações que juntas chegaram a R$29 mil. Durante a saideira aconteceram aulas-show de preparo de alimentos, apresentações culturais e todos os pratos da competição a R$25. Com organização da Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Itabirito e temática “Comida Afro: das origens aos destinos”, o festival premiou quatro estabelecimentos concorrentes.

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Vencedores do Festival Gastronômico

A curadoria dos pratos ficou por conta da Faculdade Arnaldo e os vencedores foram: 

1° lugar: prato Porquibebe Cachaça da La Crêperie;

2° lugar: prato Ajeum do Empório 77;

3° lugar: prato Do Mar ao Sertão do Mania de Filé;

Troféu Toninho Didalva: prato Cinco Vezes África do Arena Prosa e Sabor.

O primeiro lugar levou R$10 mil e um curso de gastronomia da Faculdade Arnaldo, o segundo lugar levou R$8 mil e o terceiro R$6 mil. O prato vencedor do troféu Toninho Didalva, escolhido por votação popular, foi premiado com R$5 mil.

Saideira do Festival

Apesar de não ter sido anunciada uma final, a saideira do festival integrou a Semana da Consciência Negra Itabirito 2025, já que a temática exaltou a culinária afro-mineira. O evento contou ainda com apresentações da banda Entre Nuvens, do Samba com Dendê e da Roda de Samba Itinerante com Pirulito da Vila.

Apresentação do grupo Samba com Dendê no Festival Gastronômico
Apresentação do grupo Samba com Dendê - Foto: ASCOM/Prefeitura de Itabirito

Carola Machado, proprietária do Empório 77, é a idealizadora do prato Ajeum comenta sobre a dinâmica dos festivais. “Os pratos todos estavam muito bons, assim, a gente vai experimentando também durante o festival. Tem um ponto do festival que as pessoas contam para gente também. ‘Eu fui no fulano, e tá assim, assim, assim, eu gostei, eu não gostei’. É muito legal assim, sabe?”.

A premiação é uma forma de dar visibilidade para os estabelecimentos que estão se consolidando no mercado, como é o caso da La Crêperie. O estabelecimento familiar de Laura Beatriz, em conjunto com seus pais Adriana Silva e Wanderson Oliveira, é recente, e ela considera que a oportunidade de apresentar o estabelecimento na praça da cidade já é uma grande vitória.

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La Crêperie no festival gastronômico

A La Crêperie é um sonho antigo dos pais de Laura, mas foi com ela que o negócio ganhou um espaço físico. Com cinco meses de “reinauguração” o espaço ganha o primeiro lugar do festival com o Porquibebe Cachaça. O prato, composto pela junção de três nacionalidades, o quibebe de abóbora, prato típico da região de Angola, o crepe, da cultura francesa e a cultura de boteco de Minas Gerais com a metáfora do porco que bebe cachaça (Porquibebe Cachaça).

Laura Beatriz, proprietária da La Crêperie já estava contente de estar entre os dez melhores pratos, quando ganhou o primeiro lugar ficou surpresa e muito grata
Laura Beatriz, proprietária da La Crêperie já estava contente de estar entre os dez melhores pratos, quando ganhou o primeiro lugar ficou surpresa e muito grata - Foto: ASCOM/Prefeitura de Itabirito

O Porquibebe Cachaça ainda tem o opcional de ser acompanhado por um “Sapeca Porco”, um shot exclusivo feito de “xarope de abóbora, um toque de gengibre e a cachaça” que harmoniza junto com o crepe. 

Para Laura a ficha de ter ganhado com um estabelecimento tão recente ainda não caiu. “É uma sensação que eu ainda não sei explicar muito bem. É meio que inacreditável, porque, por exemplo, os outros dois estabelecimentos que subiram ao pódio, junto com a creperia, são estabelecimentos assim super renomados em Itabirito. São estabelecimentos em que a comida dos estabelecimentos é muito boa”, mas ela sabe que o pódio deu um gás para o sonho que ainda se constrói. 

A inspiração para o prato veio de Adriana Silva, que se empolgou com a possibilidade do trocadilho de algo quibebe (que bebe). “Aí ela já falou assim: ‘Nós vamos usar o quibebe, porque nós vamos fazer um crepe de boi com quibebe e a carne de boi vai ser na cerveja, a gente vai fazer o boi que bebe cerveja,” explica entre risadas a empreendedora. Depois de uma consultoria da Faculdade Arnaldo, a carne de boi foi substituída pela de porco para melhor harmonização dos sabores, mas o porco continuou com a proposta de beber, só que agora cachaça.

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Empório 77 no festival gastronômico

Carola Machado contou que a ideia para o prato veio de um sonho, “Esse ano a inspiração estava difícil, aquela coisa complicada e aí teve uma noite que eu tive um sonho e a inspiração foi exatamente essa. A gente desenvolve, lógico, um trabalho de pesquisa, porque o tema é muito vasto, né?”.

A partir daí nasceu o prato vencedor do segundo concurso, baseado nos quatro elementos, água, terra, fogo e ar, que regem o panteão iorubá. Um filé de tilápia empanado no fubá sob uma cama de purê de inhame, vinagrete de cuxá (hibisco) com banana-da-terra tostada e chips de mandioca, em que cada alimento representa um elemento. 

Ter ganhado o prêmio traz uma sensação de dever cumprido para a empresária, ainda mais por ter sido avaliada pela Faculdade Arnaldo. “Você saber que está num nível mais técnico, isso é muito importante. E a diferença de pontuação entre um prato e outro, entre o primeiro e o segundo e terceiro lugar, foi coisa assim, mínima,” disse a chef.

O estabelecimento já disputou edições anteriores do evento e subiu ao pódio outras duas vezes, em 2022 e 2023. Como meta pós festival, o Empório 77 pretende criar um cardápio especial com pratos do festival, além de sempre buscar melhorar cada vez mais.

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A experiência além do paladar

Os dois estabelecimentos, focaram em outras experiências sensoriais para além do paladar. Na La Crêperie os clientes tinham a oportunidade de fazer um pedido ao universo queimando-o no fogo do shot Sapeca Porco. “Antes da gente entregar o prato, a gente entregava um papel, a pessoa escrevia um pedido nesse papel, porque em algumas regiões da África, eles têm o costume de fazer os alimentos e ofertarem aos seus deuses em forma de agradecimento ou em forma de pedido. Então a gente trouxe isso também. A pessoa escrevia o papel e aí na hora que o prato chegava, a gente queimava esse papel e jogava ele para o universo, para o universo realizar os pedidos dos nossos clientes”, explicou Laura.

O Empório 77 caracterizou seu espaço para conectar o público à narrativa do prato, conectando a experiência a algo além do sabor. “Tenho uma irmã que é tatuadora e pintora também, então ela fez algumas aquarelas de pessoas negras. Ela fez a aquarela do prato, a gente faz uma ambientação também que eu acho que isso também é uma coisa muito interessante e acho que o primeiro e o segundo lugar tiveram muito disso também, é, sobre a o cuidado de fazer não só comida com excelência, mas também de ter uma história e de ter uma narrativa que fosse capaz de encantar as pessoas tanto quanto comida”, contou Carola.

Para além da ambientação, todos os pratos precisavam ter ingredientes de produtores locais, o que conectou ainda mais os restaurantes à agricultura familiar. O Empório utilizou o fubá e o coentro, mas utiliza sempre que possível os ingredientes da cozinha que venham de um ambiente de economia circular. 

Carola ainda comentou sobre uma iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de MG (EMATER) a respeito da conexão entre os produtores rurais e o comércio. “Nesse festival, os laços entre produtores e a gente ficaram muito mais fortes. Foi criado um grupo de WhatsApp e através de um de um técnico de extensão rural da EMATER, ele faz essa ponte entre a gente, mostra os produtos que estão disponíveis na semana para que a gente continue fazendo isso, porque também não adianta a gente ficar comprando só durante festival e o resto do ano todos os produtores ficarem aí a Deus dará”.

A La Crêperie utilizou em seu preparo a pimenta dedo de moça, mas outras matérias primas também foram adquiridas nos cultivos familiares. “O prato usou a pimenta dedo de moça, que foi o principal, né, do prato. Mas assim, a gente utilizou ovo e aí a gente acabava comprando coisa para casa também, que já tava comprando na fazendinha, já trazia coisa para casa”.

Foto de Ana Beatriz Justino
Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e estagiária na Agência Primaz. Possui grande atração por gênero, cultura e politica.