Notícias de Mariana

Hoje é sábado, 22 de novembro de 2025

O que a psicanálise pode nos ensinar sobre o luto?

“O luto é o preço que se paga pelo amor investido” (Sigmund Freud)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

O que a pisicanálise pode nos ensinar sobre o luto?

Ouça o áudio de "O que a psicanálise pode nos ensinar sobre o luto?", do colunista Júlio Vasconcelos:

Todos os dias temos milhares de pessoas perdendo um ente querido por esse mundo afora. Um avô, uma avó, um pai, uma mãe, um marido, uma esposa, um filho, uma filha, enfim, um parente próximo, um grande amigo. As redes sociais estão repletas de mensagens emocionantes, dedicadas àqueles que partiram.

Apesar da certeza de que a morte um dia chega para todos nós, nossa cultura ainda tem muita dificuldade em aceitar esse fato e algumas pessoas não conseguem superar suas perdas, caindo em um estado depressivo profundo que complica seriamente sua saúde mental e impacta negativamente todos que vivem ao seu redor.

Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise em seu artigo “Luto e Melancolia”, explora as diferenças entre o luto e a melancolia, analisando como o psiquismo reage à perda. No seu artigo, Freud vê o luto como um processo normal de elaboração da perda, onde a pessoa sente tristeza, desinteresse pelo mundo externo e foco no passado, mas mantém a autoestima preservada. Assim sendo, o trabalho do luto consiste em desvincular-se do ente perdido, permitindo que, com o tempo, o sujeito volte a investir em novos vínculos.

A melancolia, considerada por ele como um luto patológico, compartilha as características do luto como a tristeza profunda e a perda de interesse, mas se diferencia por um intenso sentimento de culpa e desvalorização. A pessoa não consegue se desapegar do objeto perdido porque se identificou inconscientemente com ele, tornando a perda insuportável. Ela internaliza a perda e se identifica com o objeto perdido. Cai num estado de autodepreciação. Há uma sensação de ser indigno e, em casos extremos, o desejo de autodestruição, podendo evoluir para o suicídio.

Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004), uma médica psiquiatra suíço-americana, considerada uma das figuras mais importantes da psicologia do luto e dos cuidados paliativos no mundo, em seus estudos, descreveu os cinco estágios do luto de forma que pode nos ajudar a entender como funciona a elaboração do processo da perda.

O primeiro estágio, da negação, funciona como um mecanismo de defesa inicial. A pessoa tem dificuldade em aceitar a realidade da perda e, inconscientemente, nega a realidade utilizando frases do tipo: “Isso não pode estar acontecendo comigo”. Passa por uma sensação de entorpecimento emocional, de choque, de incredulidade. A negação protege a mente do impacto imediato.

O segundo estágio é o da raiva. Quando a realidade começa a se impor e surge a irritação e a revolta que pode ser dirigida às pessoas próximas, aos profissionais de saúde, à própria pessoa perdida ou destino, ou a Deus, utilizando frases do tipo: “Por que Deus fez isso comigo?”, e a raiva expressa a dor profunda da perda.

O terceiro estágio é o da barganha, quando a pessoa tenta imaginar maneiras de evitar a perda ou reverter sua dor. Usando frases do tipo: “Se Deus me ajudar, prometo que”, ou “E se eu tivesse chegado antes ou feito diferente?”. É um estágio marcado por culpa e tentativa de negociação imaginária.

O quarto estágio é o da depressão. Quando a pessoa compreende a dimensão da perda e a tristeza se instala na sua mente. Os sinais mais comuns são choro, falta de energia, sensação de vazio, o desinteresse pelas atividades e o afastamento social. É um luto emocional, não necessariamente uma depressão clínica.

O quinto e último estágio é o da aceitação. Quando a pessoa não esquece a perda, mas aprende a conviver com ela, ela passa a entender que a perda é real e começa a reorganizar sua vida. Descobre que tem capacidade de seguir adiante com menos sofrimento, apesar de tudo. Aceitar, aqui, não significa que está tudo bem, mas seguir em frente, ressignificando o sentido da vida. É de extrema importância considerar que esses estágios não ocorrem necessariamente de forma linear. As pessoas podem ir e voltar a qualquer momento a um deles, e que nem todas as pessoas passam por todos deles. Uma data especial, uma foto antiga, uma música preferida, o reencontro com parentes próximos, tudo isso pode acionar o que chamamos de gatilho, e levar a recordações que fazem aflorar a saudade que fica, e um certo sentimento de tristeza.

Mas o maior problema não é esse. O maior problema é quando a pessoa não consegue ressignificar sua vida e permanece patologicamente enraizada num dos quatro estágios, com destaque mais problemático para o quarto, caindo em um transtorno denominado Transtorno de Luto Prolongado (TLP), um luto intenso e incapacitante de longo prazo, causando uma dor emocional persistente, uma saudade intensa, uma incapacidade de retornar à vida. É um sofrimento clínico significativo.

Portanto, se você apresenta os sintomas semelhantes, não hesite em procurar ajuda de um profissional especializado. Finalmente, vale considerar que a espiritualidade, dentro deste contexto representa um aliado de extrema importância para a psicanálise. A crença de que morrer não é exatamente o fim e que existe outra vida além, plena de paz, harmonia e felicidade, contribui fortemente para eliminar a dor que invade o coração dos enlutados. Quem tem ouvidos, que ouça.

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
***

Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.

2025_anuncie-aqui-1
Veja mais publicações de Júlio Vasconcelos