Notícias de Mariana

Hoje é quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Ato em Bento Rodrigues marcou 10 anos do desastre-crime

A cerimônia no subdistrito marca 10 anos de rompimento da barragem de Fundão

Diversas pessoas se espremem dentro da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em bento Rodrigues, durante ato em memória aos 10 anos do rompimento da Barragem de Fundão
Mauricélio Muniz se manifesta sobre o trabalho da imprensa na cobertura sobre o rompimento da barragem de Fundão - Foto: Eduarda Belchior/Agência Primaz

Houve um tempo em que o nome da cidade de Mariana corria leve na boca do  povo, Primaz de Minas, guardiã da religiosidade e do tempo, berço do ouro. Hoje, quando ecoa, carrega outro peso. Fala-se de Mariana como se fala de uma ferida. O mundo aprendeu a pronunciar o nome do subdistrito Bento Rodrigues, não pelo o que representava, mas pelo o que lhe foi roubado, um lugar, uma comunidade, uma vivência compartilhada. No dia 05 de novembro de 2025, marca 10 anos do rompimento da barragem de Fundão, de responsabilidade da Samarco (Vale e BHP), o crime ambiental transformou os subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, Barra Longa, e dezenas de outros municípios da Bacia do Rio Doce e do litoral do Espírito Santo. 

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A comunidade é envolta de religiosidade, e nesse momento simbólico não foi diferente. Unidos em corrente de fé e esperança, realizaram um ato para não se deixar esquecer das mortes, dos modos de vida e das tradições ali cultivadas.  Em meio a destruição causada pela mineração, o lugar que já representou laços de memória e família, renasce como símbolo de resistência e reafirmação de permanência. 

Estar na terra onde tudo aconteceu, cercada de pessoas empenhadas em manter viva a luta por respeito e dignidade, é presenciar a força do amor por um lugar. Durante a cerimônia foi possível sentir mais do que ver, sentir o peso da luta que se estende há 10 anos, sentir a dor pelos 20 que se foram, sentir o sol que veio esquentar o dia e sentir tudo que estar no território atingido significa. 

A Capela de Nossa Senhora das Mercês, foi a responsável por abrigar o início da cerimônia, que com uma fala seguida de uma oração do Padre Marcelo Moreira Santiago. O pároco, após sua fala, abriu espaço para que os visitantes pudessem se apresentar na celebração. Figuras eclesiásticas, figuras políticas, assessorias técnicas e representantes das comunidades se manifestaram. Mauricélio Muniz, morador de Bento Rodrigues usou o momento para questionar. 

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“E hoje nós podemos ver a forma que a empresa trata os atingidos e também a imprensa mentirosa que divulgou uma nota aí falando que Bento Rodrigues estava 100% concluído até dezembro. Vocês fazem o favor, passa lá e vê se tem condições” – Mauricélio Muniz

Ao longo dos 10 anos de resistência, as comunidades gritam para serem ouvidas, não só pelo poder público, mas pela grande mídia. O marco de cada dia 05 de novembro carrega consigo a presença dos veículos de imprensa dedicando visibilidade às reivindicações. Passada a demarcação do desastre-crime, a voz dos atingidos e atingidas passa a ser ecoada em menos lugares, como se a luta só estivesse em Mariana nesse momento.

A grande cruz, carregada por muitas mãos, iniciou sua peregrinação para à Capela de São Bento, seguida pelas 20 cruzes brancas que representavam as vítimas fatais durante o rompimento da barragem. No trajeto, cantigas foram entoadas e reverberadas pelos romeiros e romeiras da Oitava Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce, o caminho percorrido passou pela casa de Seu Filomeno da Silva, repleta de faixas de protesto contra as mineradoras e na ocasião estava com uma instalação sobre os 10 anos de dedicação à causa.

Enfim, o percurso chegou no seu local de destino, junto com todos que estavam ali para lembrar. Em meio a discursos de conforto Marcos Muniz usou suas palavras para refletir.

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“Ao ver tanta gente com nós aqui em Bento Rodrigues, nosso cantinho, nosso lugar que nós escolhemos para viver o resto da vida. É muito importante ver vocês aqui somando com nós para que não aconteça com outros lugares. O que aconteceu com nós em 2015, não precisava de acontecer com Brumadinho em poderiam ter pego como exemplo, matar 272 pessoas, maioria delas buscando o alimento, o pão para levar para sua casa e acontecer isso. Então, gente, aqui eu vou deixar uma mensagem. Quando chegar uma mineradora no território, preste muito atenção porque eles são muito estrategista” – Marcos Muniz.

O cruzeiro foi erguido e o esforço dos que a carregaram foi recompensado com aplausos. As cruzes brancas foram fixadas aos pés da cruz maior. 

Ailton Martins dos Santos, Antônio Prisco de Souza, Claudemir Elias dos Santos, Claudio Fiuza da Silva, Daniel Altamiro de Carvalho, Edinaldo Oliveira de Assis, Edmirson José Pessoa, Emanuele Vitória Fernandes, Maria das Graças Celestino, Maria Elisa Lucas, Marcos Aurélio Pereira Moura, Marcos Roberto Xavier, Mateus Marcio Fernandes, Pedro Paulino Lopes, Samuel Vieira Albino, Silena Narkievicius de Lima, Tiago Damasceno Santos, Vando Maurílio dos Santos, Waldemir Aparecido Leandro, Arunna/Abnner.

Todos os 20 se fizeram presentes em memórias, presentes na luta e presentes nas lágrimas. Para além das cruzes, a memória dos que se foram foi representada por balões. 10 balões para cada vítima fatal, vermelhos para os adultos e brancos para as crianças e dentro de cada balão três sementes de girassol. Os balões seguiram pelo caminho em que a lama veio. Para reflorestar. Para ressignificar. Para lembrar.