Entrevista Primaz – Gustavo Nolasco

Marianense de coração e tradição familiar, mesmo tendo “apenas nascido em Belo Horizonte, Gustavo Nolasco foi o convidada da edição nº 111 da Entrevista Primaz. Jornalista, roteirista, diretor de audiovisual, escritor e membro da academia Marianense de Letras, Gustavo falou sobre sua carreira, seu retorno a Mariana e de suas inquietações com o resgate e preservação da cultura e do patrimônio material e imaterial marianense, destacando também sua paixão pelo Cruzeiro Esporte Clube, mais que pelo futebol propriamente dito. Confira, no link, a íntegra da entrevista e leia abaixo alguns trechos de destaque da conversa com o jornalista Luiz Loureiro.
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Infância e juventude de Gustavo Nolasco em Mariana
Embora nascido em Belo Horizonte, em 1976, apenas por uma preferência médica de sua mãe, Gustavo considera Mariana seu lar e recorda uma infância feliz e completa em uma Mariana menor, antes do crescimento populacional intenso provocado pela atividade de mineração, com brincadeiras nas ruas e praças, e lembranças dos bailes de carnaval no Marianense e no Guarany. Por influência de sua mãe, Lenita Nolasco, dentista e amante da cultura, cultivou grande apreço pela arte, convivendo com artistas locais como Olga Tukoff e Hélio Petrus. Mudou-se para Belo Horizonte, no início dos anos 90, com aproximadamente 16 anos, ainda no ensino médio, devido à transferência de seu pai, geólogo da Samitri, posteriormente incorporada à Vale.
Carreira no Jornalismo e Transição para o Audiovisual e Literatura
A paixão pelo jornalismo surgiu do desejo de estar próximo ao futebol, já que seu sonho de ser jogador foi frustrado pela falta de talento, inspirando-o a se tornar repórter. No exercício do Jornalismo, começou como repórter de economia, no Diário do Comércio, e de política, n’O Tempo, atuando posteriormente como assessor de imprensa em campanhas políticas e no governo de Minas Gerais (2002-2011), durante as gestões de Aécio Neves e Antônio Anastasia.
Paralelamente, desenvolveu a escrita literária e o audiovisual, motivado pela paixão em contar histórias de pessoas. “Os Chicos”, seu primeiro livro, sobre o Rio São Francisco, através das histórias de pessoas chamadas Francisco ou Francisca, em parceria com o fotógrafo Léo Drummond, marcou sua saída do governo e o início de sua dedicação a projetos autorais. Este trabalho o levou à Academia Marianense de Letras, apadrinhado por Roque Camêllo.
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Engajamento social e ambiental pós-rompimento da barragem de Fundão
Após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, cofundou o coletivo “Um Minuto de Sirene” e ajudou a criar o “Jornal A Sirene” para conectar os atingidos, dispersos pela cidade, e dar voz às suas histórias, frente à “guerra de narrativas” imposta por empresas e órgãos públicos. O jornal foi pioneiro ao preparar os próprios atingidos para assumir a edição e funções jornalísticas.
Gustavo Nolasco fundou também o Observatório de Comunicação Ambiental (LEI.A) para desenvolver projetos estratégicos de comunicação e engajamento em parceria com o Ministério Público, focando em direitos coletivos e ambientais.
Projetos audiovisuais e a paixão de Gustavo Nolasco pelo Cruzeiro

O “Coletivo 1921” uniu sua paixão pelo Cruzeiro com a vontade de contar histórias através do audiovisual, focando nas pessoas e torcedores. Produziu “Eterno – Um Capítulo Incontestável“, sobre o recorde de público do Mineirão, em uma partida contra o Vila Nova, pelo Campeonato Mineiro, e “Azul Escuro”, vencedor do festival Cinefoot, sobre um cruzeirense deficiente visual, residente na Amazônia.
No jornal “Estado de Minas”, Gustavo Nolasco escreve, desde 2016, a coluna semanal “Da Arquibancada”, enfrentando o desafio de cobrir o Cruzeiro durante seus três anos na Série B, inclusive na pandemia, período que descreve como um dos mais difíceis de sua vida.
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"Projeto Moradores" e a Humanidade do Patrimônio
Criado em 2012, com a produtora Nitro, o projeto surgiu da insatisfação com festivais que não interagiam com a população local., partindo do princípio de que o maior patrimônio de uma cidade são seus moradores, buscando despertar a percepção de que a preservação dos lugares de memória é intrínseca à história e identidade das pessoas.
Com esse objetivo, a proposta adota a metodologia de montar uma tenda onde os moradores contam suas histórias de conexão com a cidade, são fotografados e gravados. O resultado são exposições de grandes retratos em preto e branco nos cartões postais da cidade e filmes documentários que recontam a história do lugar. Realizado em Tiradentes e Mariana, esta última oportunidade em 2014, na Praça da Sé), expondo fotos de 4 metros de moradores, o projeto foi agraciado com o Prêmio Rodrigo de Melo Franco, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Retorno a Mariana e visão atual da cidade
Gustavo Nolasco confessa que retornou a Mariana mais cedo do que o planejado, impulsionado por desejo pessoal, flexibilidade profissional pós-pandemia e relações afetivas. Entretanto, revela que vê uma Mariana “complicada”, com crescimento desordenado e perigoso em sua infraestrutura, que não está preparada para as demandas atuais. Critica análises superficiais sobre o desenvolvimento da cidade, reconhecendo a complexidade de mudar sua matriz econômica.
Apesar dos problemas, ainda considera Mariana uma cidade especial, que soube preservar seu charme e onde iniciativas importantes estão sendo desenvolvidas.
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"Tempo Vário" e preocupações com a cidade dormitório

Um projeto audiovisual, parceria da Nitro Histórias Visuais, Museu de Mariana, e Vellozia Filmes, com a participação de professores do curso de Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), resultou no documentário “Tempo Vário”, sobre a “Folhinha de Mariana”, produzido em processo de oficina com os arte-educadores do museu, ressaltando a importância de instituições e pessoas na história da cidade, com apoio da Arquidiocese de Mariana e Gráfica Dom Viçoso.
Gustavo Nolasco expressou sua preocupação com a crescente percepção de Mariana vir a se tornar uma “cidade dormitório”, onde muitos moradores têm apenas o sustento na cidade, sem criar laços significativos. De acordo com o jornalista, isso diminui o engajamento cívico, a cobrança por melhorias e o apoio à preservação, tornando a cidade vulnerável.
Cenário Cultural e apelo de Gustavo Nolasco para o futuro
Há um terreno fértil para a cultura em Mariana, acredita Gustavo, com eventos consolidados como o Circo Volante – Festival de Palhaços, um dos mais importantes do Brasil, e o Festival de Teatro Comunitário (Festeco), além de iniciativas como a Batalha das Gerais, berço de Djonga, um dos mais importantes rappers do Brasil.
Para Gustavo Nolasco, a cultura movimenta 3,3% do PIB mundial, comparável à mineração, justificando maior investimento e a necessidade de união entre os militantes da cultura para sentarem-se com o poder público, construir soluções e eleger representantes do setor, sugerindo a criação de fundos municipais, possivelmente com participação da mineração, para fomentar a produção cultural local.
A Entrevista Primaz com Gustavo Nolasco é encerrada com uma declaração de amor à cidade, enfatizando a importância de os marianenses valorizarem, viverem e defenderem sua cidade para que ela não perca sua identidade, reforçando a necessidade de apoiar iniciativas de preservação e resgate da memória local.
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