Notícias de Mariana

Hoje é sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Entrevista Primaz – Gustavo Nolasco

Participação de Gustavo Nolasco na Entrevista Primaz teve destaque em resgate de questões culturais de Mariana
Participação de Gustavo Nolasco na Entrevista Primaz teve destaque em resgate de questões culturais de Mariana – Foto: Joyce Campolina/Agência Primaz

Marianense de coração e tradição familiar, mesmo tendo “apenas nascido em Belo Horizonte, Gustavo Nolasco foi o convidada da edição nº 111 da Entrevista Primaz. Jornalista, roteirista, diretor de audiovisual, escritor e membro da academia Marianense de Letras, Gustavo falou sobre sua carreira, seu retorno a Mariana e de suas inquietações com o resgate e preservação da cultura e do patrimônio material e imaterial marianense, destacando também sua paixão pelo Cruzeiro Esporte Clube, mais que pelo futebol propriamente dito. Confira, no link, a íntegra da entrevista e leia abaixo alguns trechos de destaque da conversa com o jornalista Luiz Loureiro.

*** Continua depois da publicidade ***
***

Infância e juventude de Gustavo Nolasco em Mariana

Embora nascido em Belo Horizonte, em 1976, apenas por uma preferência médica de sua mãe, Gustavo considera Mariana seu lar e recorda uma infância feliz e completa em uma Mariana menor, antes do crescimento populacional intenso provocado pela atividade de mineração, com brincadeiras nas ruas e praças, e lembranças dos bailes de carnaval no Marianense e no Guarany. Por influência de sua mãe, Lenita Nolasco, dentista e amante da cultura, cultivou grande apreço pela arte, convivendo com artistas locais como Olga Tukoff e Hélio Petrus. Mudou-se para Belo Horizonte, no início dos anos 90, com aproximadamente 16 anos, ainda no ensino médio, devido à transferência de seu pai, geólogo da Samitri, posteriormente incorporada à Vale.

Carreira no Jornalismo e Transição para o Audiovisual e Literatura

A paixão pelo jornalismo surgiu do desejo de estar próximo ao futebol, já que seu sonho de ser jogador foi frustrado pela falta de talento, inspirando-o a se tornar repórter. No exercício do Jornalismo, começou como repórter de economia, no Diário do Comércio, e de política, n’O Tempo, atuando posteriormente como assessor de imprensa em campanhas políticas e no governo de Minas Gerais (2002-2011), durante as gestões de Aécio Neves e Antônio Anastasia.

Paralelamente, desenvolveu a escrita literária e o audiovisual, motivado pela paixão em contar histórias de pessoas. “Os Chicos”, seu primeiro livro, sobre o Rio São Francisco, através das histórias de pessoas chamadas Francisco ou Francisca, em parceria com o fotógrafo Léo Drummond, marcou sua saída do governo e o início de sua dedicação a projetos autorais. Este trabalho o levou à Academia Marianense de Letras, apadrinhado por Roque Camêllo.

*** Continua depois da publicidade ***

2025_anuncie-aqui-4

Engajamento social e ambiental pós-rompimento da barragem de Fundão

Após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, cofundou o coletivo “Um Minuto de Sirene” e ajudou a criar o “Jornal A Sirene” para conectar os atingidos, dispersos pela cidade, e dar voz às suas histórias, frente à “guerra de narrativas” imposta por empresas e órgãos públicos. O jornal foi pioneiro ao preparar os próprios atingidos para assumir a edição e funções jornalísticas.

Gustavo Nolasco fundou também o Observatório de Comunicação Ambiental (LEI.A) para desenvolver projetos estratégicos de comunicação e engajamento em parceria com o Ministério Público, focando em direitos coletivos e ambientais.

Projetos audiovisuais e a paixão de Gustavo Nolasco pelo Cruzeiro

Eterno, primeiro filme documentário do coletivo 1921, de Gustavo Nolasco
Foto: Reprodução Youtube

O “Coletivo 1921” uniu sua paixão pelo Cruzeiro com a vontade de contar histórias através do audiovisual, focando nas pessoas e torcedores. Produziu “Eterno – Um Capítulo Incontestável“, sobre o recorde de público do Mineirão, em uma partida contra o Vila Nova, pelo Campeonato Mineiro, e “Azul Escuro”, vencedor do festival Cinefoot, sobre um cruzeirense deficiente visual, residente na Amazônia.

No jornal “Estado de Minas”, Gustavo Nolasco escreve, desde 2016, a coluna semanal “Da Arquibancada”, enfrentando o desafio de cobrir o Cruzeiro durante seus três anos na Série B, inclusive na pandemia, período que descreve como um dos mais difíceis de sua vida.

*** Continua depois da publicidade ***

2025_anuncie-aqui-1

"Projeto Moradores" e a Humanidade do Patrimônio

Criado em 2012, com a produtora Nitro, o projeto surgiu da insatisfação com festivais que não interagiam com a população local., partindo do princípio de que o maior patrimônio de uma cidade são seus moradores, buscando despertar a percepção de que a preservação dos lugares de memória é intrínseca à história e identidade das pessoas.

Com esse objetivo, a proposta adota a metodologia de montar uma tenda onde os moradores contam suas histórias de conexão com a cidade, são fotografados e gravados. O resultado são exposições de grandes retratos em preto e branco nos cartões postais da cidade e filmes documentários que recontam a história do lugar. Realizado em Tiradentes e Mariana, esta última oportunidade em 2014, na Praça da Sé), expondo fotos de 4 metros de moradores, o projeto foi agraciado com o Prêmio Rodrigo de Melo Franco, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Retorno a Mariana e visão atual da cidade

Gustavo Nolasco confessa que retornou a Mariana mais cedo do que o planejado, impulsionado por desejo pessoal, flexibilidade profissional pós-pandemia e relações afetivas. Entretanto, revela que vê uma Mariana “complicada”, com crescimento desordenado e perigoso em sua infraestrutura, que não está preparada para as demandas atuais. Critica análises superficiais sobre o desenvolvimento da cidade, reconhecendo a complexidade de mudar sua matriz econômica.

Apesar dos problemas, ainda considera Mariana uma cidade especial, que soube preservar seu charme e onde iniciativas importantes estão sendo desenvolvidas.

*** Continua depois da publicidade ***

2025_anuncie-aqui-2

"Tempo Vário" e preocupações com a cidade dormitório

Gustavo Nolasco roteirizou e dirigiu o documentário sobre a Folhinha de Mariana
Foto: Reprodução Vimeo

Um projeto audiovisual, parceria da Nitro Histórias Visuais, Museu de Mariana, e Vellozia Filmes, com a participação de professores do curso de Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), resultou no documentário “Tempo Vário”, sobre a “Folhinha de Mariana”, produzido em processo de oficina com os arte-educadores do museu, ressaltando a importância de instituições e pessoas na história da cidade, com apoio da Arquidiocese de Mariana e Gráfica Dom Viçoso.

Gustavo Nolasco expressou sua preocupação com a crescente percepção de Mariana vir a se tornar uma “cidade dormitório”, onde muitos moradores têm apenas o sustento na cidade, sem criar laços significativos. De acordo com o jornalista, isso diminui o engajamento cívico, a cobrança por melhorias e o apoio à preservação, tornando a cidade vulnerável.

Cenário Cultural e apelo de Gustavo Nolasco para o futuro

Há um terreno fértil para a cultura em Mariana, acredita Gustavo, com eventos consolidados como o Circo Volante – Festival de Palhaços, um dos mais importantes do Brasil, e o Festival de Teatro Comunitário (Festeco), além de iniciativas como a Batalha das Gerais, berço de Djonga, um dos mais importantes rappers do Brasil.

Para Gustavo Nolasco, a cultura movimenta 3,3% do PIB mundial, comparável à mineração, justificando maior investimento e a necessidade de união entre os militantes da cultura para sentarem-se com o poder público, construir soluções e eleger representantes do setor, sugerindo a criação de fundos municipais, possivelmente com participação da mineração, para fomentar a produção cultural local.

A Entrevista Primaz com Gustavo Nolasco é encerrada com uma declaração de amor à cidade, enfatizando a importância de os marianenses valorizarem, viverem e defenderem sua cidade para que ela não perca sua identidade, reforçando a necessidade de apoiar iniciativas de preservação e resgate da memória local.