- Mariana
Bairro Novo Horizonte sofre há três anos com falta d´água
O atendimento com caminhões pipa é demorado e irregular, espera pode chegar a uma semana entre a solicitação e o atendimento
- Ana Beatriz Justino
- Supervisão: Lui Pereira
O bairro Novo Horizonte não tem acesso regular à água desde 2023 e, atualmente, os caminhões pipa são os únicos responsáveis pelo abastecimento. A área é um desmembramento do bairro Rosário e os moradores reclamam que a falta de água impossibilita ações básicas de higiene e alimentação.
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Constante falta de água
José Luiz, mora no Novo Horizonte há 19 anos e comentou que desde de 2017 a região não tem água em “abundância”. “Foi em 2023 que a situação ficou crítica, que começou a não cair água nenhuma. Antes, ela não caía com a escassez que cai hoje.”
Para realizar o abastecimento, o sistema de água conta com o auxílio de caminhões pipa, mas, recentemente, esse formato de abastecimento ficou escasso. “Já tem 3 anos que a gente abastece com o pipa, a gente já tá acostumado mais agora quando foi de uns tempo para cá, nem o pipa a gente tem mais”, reclama o morador.
Renata Anacleto, vizinha de José, comenta que antigamente a água caía com mais regularidade nas caixas d’ água. A dificuldade no acesso aos caminhões é sentida pela comunidade constantemente. “Pode ir lá, minha caixa está vazia, tá zerada,” diz a moradora. Para ter acesso a higiene básica é preciso contar com a ajuda dos vizinhos, “tem que ir na casa dos vizinhos. Se não for, fica com fome também. O banho, aqui em casa, são sete crianças pequenas, aí fica mais difícil.”
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Outra moradora da região, Júlia Batista, desabafa sobre a rotina sem água. “Tem vezes que tem que ir na casa dos vizinhos para tomar banho, para dar banho nas crianças, pegar água para fazer comida.” A residente ainda reclama sobre o reservatório implantado na região, já que ela continua refém das visitas do caminhão. “Por que a caixa de água ali em cima eles nunca abre para cair água para a gente?”, questiona.
Inconstância de abastecimento realizado pelo pipa
A região possui outras famílias com crianças que passam pela mesma situação. Jessiara mora na rua debaixo da casa de José e possui crianças em casa. “Aqui acontece muita falta de água e como eu tenho criança em casa, sabe? Fica difícil.” Para além disso, ela reclama da falta de atendimento dos caminhões, “às vezes é difícil de vir. Tem que ficar ligando cinco vezes para mais [para receber o pipa]”, explica.
Não é apenas Jessiara que enfrenta o problema. Sebastiana mora na mesma rua e quando sabe que não terá água na caixa e nem acesso aos caminhões recorre ao irmão para lavar suas roupas. “Como a gente toma um banho, toma um banho na casa dos outros, entendeu? Tem que fazer isso. Não tem como viver sem água, né?”.
José Luiz desabafou sobre se sentir o chato, já que liga diversas vezes para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana (SAAE) na tentativa de conseguir um abastecimento por pipa. “Às vezes você pede o pipa numa segunda-feira e ele vem na outra segunda-feira. E isso quando vem com o pedido que você fez.”
O morador lembra da promessa de um dos funcionários do SAAE sobre os caminhões. “Numa conversa que eu tive com esse funcionário, ele falou que até resolver a questão da água, o pipa ia vir aqui de uma a duas vezes na semana para abastecer todo mundo, sem necessidade de pedido. Mas na realidade o pipa não vem nem com a gente pedindo,” desabafa o morador.
Segundo o diretor do SAAE, Ronaldo Camelo, houve tentativas de melhorar o acesso à água, mas “não obtiveram êxito por parte dos moradores”. Então é necessário que os residentes façam as solicitações na central de atendimento da empresa.
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Regulamentar o espaço para receber água
Segundo o SAAE, o espaço de construção é irregular, o que não permite que a empresa faça obras de saneamento na localidade. E para tentar melhorar o atendimento, foi instalado um reservatório com capacidade de 20 mil litros na parte alta do bairro, mas, segundo os moradores, a instabilidade continua.
Segundo a Regularização Fundiária Urbana (REURB), foi instaurado um Processo Administrativo, em 2024, que visa a regulamentação do espaço. No mesmo ano foi realizado um cadastramento de 70% das casas para iniciar o processo de regulamentação, essa etapa é a primeira de uma série de outras atividades que ainda serão feitas para terminar os projetos na região. De acordo com o Tenente Freitas, secretário de Habitação de Mariana, a previsão é regularizar a região no ano de 2026.
Alguns moradores da região sequer possuem acesso à rede de esgoto e precisam recorrer à fossas, o que causa diversos transtornos na vizinhança, como os constantes transbordamentos, principalmente em períodos chuvosos, que chegam a até retirar temporariamente alguns moradores de suas casas.
Mesmo os moradores que possuem acesso a rede de esgoto, segundo o SAAE, “sem regulamentação”, recebem a tarifa básica operacional (TBO), pagam IPTU e têm acesso regular à luz através da CEMIG.
Mas, a água, bem essencial para a sobrevivência, hidratação, higiene e alimentação, ainda é um bem pelo qual eles têm que lutar. Renata diz que as escolhas são cada vez mais difíceis, “tem dia que você tem que escolher entre lavar o rosto e escovar os dentes”.