Jesus e Bolsonaro no Facebook

Todos os dias, logo quando acordo, tenho o saudável e espiritualizado costume de ouvir, através do meu celular, um áudio com a leitura do Evangelho do Dia e uma breve reflexão deixada pelo narrador. São cerca de 10 a 15 minutos preciosos que servem de fonte espiritualizada para iluminar o meu caminho. Logo após ouvir o áudio, compartilho-o na minha página do Facebook, com o objetivo de fazer uma divulgação para minha rede de contatos e, peço, por gentileza, àqueles que gostaram, para curtir, deixar um comentário e compartilhar com as suas redes de contato. A questão é que tenho quase 5 mil seguidores e o que vem me chamando a atenção é que as curtidas, os comentários e os compartilhamentos são praticamente inexistentes. Fico me perguntando qual a razão de tal fenômeno: será que ninguém ouviu ou ninguém gostou? Será que ouviram e não gostaram? Se ouviram e gostaram, porque não se manifestam, afinal é tão simples clicar no botão de “joinha” e de compartilhamento! De qualquer forma, não me deixo abater! Como um profeta louco falando sozinho no deserto, sigo em frente com a minha missão matinal e diária.

No entanto, encucado com esta questão, recentemente, resolvi fazer uma experiência que, no mínimo, achei interessante: postei na minha página do Facebook uma foto do Bolsonaro, aparentemente abatido devido à sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal e questionei, de forma bem objetiva e imparcial, se as pessoas achavam que ele merecia compaixão. Para minha surpresa, surgiu uma explosão de comentários, a grande maioria, cerca de 70%, se manifestando contrária ao sentimento de compaixão, alguns de forma bem grosseira, até com termos de baixo calão. Então, me perguntei: qual a diferença? Por que essa explosão com o fenômeno Bolsonaro e a inexistência de qualquer tipo de manifestação com a Palavra de Jesus? Diante dessa questão, resolvi me aprofundar no assunto e obtive algumas descobertas interessantes.

Segundo alguns estudiosos, questões políticas frequentemente geram emoções intensas e repentinas de ódio, indignação, medo e frustração que provocam reações rápidas e explosivas com comentários desrespeitosos e sem necessidade de maiores reflexões. No entanto, conteúdos espiritualizados que apelam para crenças, valores, coerência e exigem reflexão para manifestação, atributos difíceis para a maioria das massas, são ignorados. Acusar, julgar, condenar e xingar é muito mais fácil do que dar uma parada, refletir e se manifestar de forma ponderada, coerente e espiritualizada. Afinal, sem qualquer tipo de partidarismo, compaixão não deveria ser um dos principais atributos do verdadeiro cristão?

Outro aspecto observado é que manifestar ideias e comentários espiritualizados nas redes sociais é encarado como algo piegas, coisa somente que cabe a religiosos e beatos que vivem alienados em um mundo à parte. Pelo contrário, falar de política (ou politicagem) é estar presente, antenado e todo mundo acha que é o dono absoluto da verdade, vítimas de uma polarização exacerbada. Pode falar a besteira que quiser, sem o menor cuidado ou respeito, até palavrão, mesmo sem entender do assunto. O ataque mútuo e as acusações de baixo nível fazem parte do cardápio preferido e fica formado o circo romano.

Na verdade, o que se percebe é que existe um desvinculamento enorme entre religião, espiritualidade e política ou práticas do dia a dia. As pessoas que lotam os templos nas Missas e Cultos ou em outras cerimônias religiosas e ouvem as palavras dos Santos Evangelhos com exortações explícitas de necessidade de compaixão, misericórdia, perdão mesmo diante dos piores inimigos, são as mesmas que manifestam claramente comentários com agressões verbais e condenação, desejando as piores desgraças para aqueles que consideram seus desafetos, sem qualquer piedade.

Finalmente, antes que qualquer ativista exaltado se manifeste, gostaria de ressaltar novamente que não se trata aqui nesse fórum de fazer qualquer tipo manifestação ideológica ou partidária pró ou contra decisões legais, congressuais ou judiciárias, tais como anistia, dosimetria, PEC da impunidade ou mesmo de defender ou acusar quem quer que seja! Absolutamente esse não é o objetivo, mas sim, como cristãos que somos, convidar a uma reflexão espiritualizada para entender a que ponto estamos chegando nesse nosso mundo conturbado e para onde estamos indo, sem simplesmente ser uma massa de manobra dos donos do poder, ferindo os mandamentos genuinamente evangélicos. É como dizia Gandhi, olho por olho e no final todos ficaremos cegos!…

Quem tem ouvidos, que ouça!

Se você quiser se aprofundar no assunto, é só retornar: Júlio César Vasconcelos – Psicanalista Integrativo (31)99345-0515