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Hoje é terça-feira, 23 de setembro de 2025

Documentário sobre a Folhinha de Mariana estreia nesta sexta 

Documentário Tempo Vário: A história da Folhinha Eclesiástica tem estreia confirmada no Museu de Mariana nesta sexta-feira(26) e promete unir fé, ciência popular e memória coletiva

~Uma mão com aparência idosa toca a Folhinha de Mariana para divulgação do documentario Tempo Vário: A história da Folhinha de Mariana
AA Folhinha de Mariana, idealizada por Dom Silvério, em 1870, recebe um documentário que homenageia os mais de 150 anos de história e circulação - Foto:Assessoria de comunicação/Museu de Mariana

Na próxima sexta-feira, 26 de setembro, às 19h, o Museu de Mariana abre suas portas para a primeira exibição do documentário Tempo Vário: A história da Folhinha de Mariana. A produção, realizada em parceria com a Vellozia Filmes e a NITRO Histórias Visuais, convida o público a mergulhar na trajetória do tradicional almanaque que, desde o século XIX, atravessa gerações em Minas Gerais e se mantém vivo como referência de fé, ciência popular e memória coletiva.

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O filme é resultado de um processo colaborativo e educativo: nasceu da Oficina de Produção Audiovisual promovida pelo Museu de Mariana com seus mediadores, que receberam orientação das equipes da NITRO e da Vellozia. O projeto também envolveu uma campanha popular de coleta de relatos, reunindo pessoas que carregam experiências íntimas com a Folhinha. As gravações se espalharam por Mariana, Belo Horizonte e Congonhas, cidade onde, durante o Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos, ocorre a maior distribuição anual do almanaque.

Para a historiadora Nathália Rezende, que coordenou as pesquisas ao lado de Marcos Lopes, ambos do Museu de Mariana, o documentário cumpre uma função que vai além do registro visual. “A Folhinha de Mariana é muito mais do que um almanaque: ela é parte da vida cotidiana, um elo entre saberes populares, fé e ciência. Registrar e valorizar essa história é fundamental para a memória da comunidade e para o fortalecimento da nossa identidade cultural. O filme Tempo Vário nasce como um gesto de preservação e partilha, conectando passado e presente para que esse legado continue vivo no futuro”, afirma.

A memória impressa em páginas

A Folhinha de Mariana começou a ser publicada em 1870, idealizada por Dom Silvério, e rapidamente se consolidou como um calendário indispensável para as famílias mineiras. Antes dela, já circulava em 1830 a Folhinha de Rezas do Bispado de Mariana, com orações e informações práticas para o dia a dia.

Com tiragem que chegou a alcançar cerca de 300 mil exemplares, a Folhinha ganhou fama por seu rigoroso “Regulamento do Tempo”, baseado nos cálculos do Lunário Perpétuo. As previsões meteorológicas eram tão certeiras que inspiraram ditados populares: “é mais fácil galinha nascer de dente do que a Folhinha de Mariana falhar”. 

Mas o almanaque vai muito além do clima. Ao longo dos anos, a publicação combinou instruções religiosas, tabelas agrícolas, fases da lua, dados biográficos do Papa, orações, orientações de medicina popular e até espaço para propagandas de comerciantes locais, que ofereciam a Folhinha como brinde de fim de ano.

A dimensão cultural da publicação foi reconhecida até mesmo por Carlos Drummond de Andrade. Em crônica de 1973 no Jornal do Brasil, na publicação, o poeta exaltou sua simplicidade e relevância, descrevendo-a como “boa, veraz, singela e insubstituível”. Para Drummond, a Folhinha não apenas orientava práticas cotidianas, mas também oferecia companhia espiritual para cada dia do ano.

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Um filme entre fé, ciência e cultura popular

O documentário Tempo Vário busca retratar justamente esse universo plural, em que o calendário se torna ponto de encontro entre a devoção religiosa, os saberes agrícolas, a observação astronômica e a vida comunitária. Para o diretor Gustavo Nolasco, integrante da NITRO Histórias Visuais e Natural de Mariana, o projeto tem também um sentido pessoal. “Como marianense, fico muito feliz em dar vida a uma história visual tão importante para a nossa cidade. Tempo Vário é, para mim, mais uma forma de retribuir à cidade tudo o que ela representa” revela o diretor. 

Ainda segundo Gustavo, a obra compõe um projeto maior de valorização da cultura marianense. “Quando esse desafio foi partilhado comigo, vi imediatamente uma oportunidade de colocar em prática uma missão que já venho construindo há anos com Mariana, por meio de vários projetos que buscam valorizar sua memória, sua gente e sua cultura ”, relata.

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A produção contou ainda com a parceria da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), envolvendo estudantes de Jornalismo, e com o apoio de instituições como o Museu de Congonhas, a Basílica do Bom Jesus de Matosinhos e a Arquidiocese de Mariana, reforçando o caráter coletivo e comunitário da iniciativa.

Equipe do Museu de Mariana segunda Folhinha de Mariana para divulgação do documentário Tempo Vário: A história da Folhinha de Mariana
Equipe do documentário foi criada a partir de uma oficina de produção audiovisual - Foto: Assessoria de Comunicação/Museu de Mariana

A Folhinha no tempo presente

O lançamento do documentário integra a 19ª edição da Primavera de Museus, temporada nacional organizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que, esse ano, entre os dias 22 e 28 de setembro, mobiliza instituições de todo o Brasil em torno de um tema comum. Em 2025, o mote é “Museus e mudanças climáticas”, refletindo sobre como esses espaços podem atuar na preservação do patrimônio cultural e natural em meio às transformações ambientais que desafiam o mundo contemporâneo. 

Nesse contexto, a Folhinha de Mariana resgata um outro significado, ser vista não apenas como registro histórico, mas como exemplo de um saber tradicional que articula ciência popular e observação da natureza. Ao revisitar a memória dessas publicações, o documentário também convida o público a pensar sobre como diferentes formas de conhecimento podem dialogar com o mundo e os desafios atuais.

Mais do que contar a história de um almanaque, Tempo Vário se propõe a celebrar a resistência da memória impressa e oral em um mundo cada vez mais digitalizado.

Ficha Técnica do Documentário

Gustavo Nolasco –  Direção | Roteiro  

Leo Drumond – Direção de Fotografia 

Lucas Godoy – Direção de fotografia | Edição

Luiza Geoffroy, Alessandra dos Santos Santana, Douglas Cardoso de Oliveira, Ana Giulia Bento dos Santos, Mariana Oliveira Barreto, Vinicius Augusto – Imagem 

Nathália Rezende Santos – Produção executiva | Pesquisa histórica

Marcos Vinícius Lopes – Produção | Pesquisa histórica

Sabrina Nunes dos Santos da Silva  – Produção

Wander Torres – Produção 

Gabriel Ferreira dos Santos , Gustavo Gomes Pinto Silvano, Ioná Barbosa Bonfim Rocha, Ana Beatriz da Silva Oliveira, Fabrício Kind, Julia Bax Ponciano – Assistência de produção

Janice Mara Lopes Miranda – Coordenação de Comunicação e imprensa

Jade Iasmin – Imagem | Assistência de Comunicação e imprensa   

SERVIÇO

Lançamento do filme Tempo Vário: A história da Folhinha de Mariana

Data: 26 de setembro (sexta-feira)

Horário: 19h

Local: Museu de Mariana

ENTRADA GRATUITA

Foto de Joyce Campolina
Joyce Campolina é graduanda em Jornalismo pela UFOP, apaixonada por Jornalismo Cultural e Político, fotojornalismo, audiovisual e por contar histórias que precisam ser ouvidas