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Hoje é terça-feira, 23 de setembro de 2025

3ª edição da FLIMARI potencializa a literatura marianense

A Feira Literária de Mariana, com o tema Era Uma Vez…, conta com programação itinerante nas escolas da cidade

Danilo Gomes autografa livros de alunos de escola de Mariana, no dia de abertura da FLIMARI
Danilo Gomes autografa livros de alunos do CEMPA - Foto: Ana Beatriz Justino/Agência Primaz

Nessa quarta-feira (17) foi aberta a Feira Literária de Mariana (FLIMARI), que está em sua 3ª edição, idealizada por Andreia Donadon. Este ano os homenageados são Danilo Gomes, jornalista, colunista da Agência Primaz e escritor, gaveteiro de nascença, e o Carro Biblioteca da UFOP, um projeto de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto, que leva literatura para bairros da cidade de Ouro Preto. A FLIMARI acontece até este sábado (20) e a programação inclui atividades no Centro de Convenções “Alphonsus de Guimaraens Filho”, na Casa de Cultura – AML e em escolas do município.

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A programação do dia da abertura da FLIMARI ainda contou com as contadoras de história Beatriz Myrrha e Rosana Mont’Alverne e uma sessão de autógrafos do homenageado no livro Augusto Frederico Schmidt, Juscelino Kubitschek e Odilon Behrens. Na parte da tarde os homenageados tiveram a oportunidade de discursar em agradecimento.

Discurso do homenageado Danilo Gomes

Danilo Gomes recebeu sua homenagem no período da manhã. Em seu discurso agradeceu às suas professoras, em especial a Hebe Rola, e lembrou-se da Mariana de antigamente, já que tem muito orgulho de ter nascido na cidade. Para ele, as crianças devem ler “livros de papel” e, depois, confidenciou à repórter que os livros digitais não têm graça.

O escritor, que atualmente reside em Brasília, se sentiu honrado com a homenagem. “Sinceramente, [estou] muito satisfeito, muito emocionado com isso. Não esperava uma homenagem dessa. Mas recebo como um marianense de outros tempos, né? Que sempre que posso eu estou aqui”, afirmou, sem esconder a emoção. 

O escritor acompanhou a tarde de atrações, e se animou com a empolgação pela literatura demonstrada pelas crianças do Centro de Educação Municipal Padre Avelar (CEMPA), considerando que “isso vale a festa”. Durante seu discurso de agradecimento, destacou como as crianças representam o futuro do país e que “iniciativas como essa [Feira Literária de Mariana] direcionam vocês [estudantes] ao estudo constante”.

A jornada de Danilo com a literatura começou na infância, incentivado por sua mãe e sua tia que eram professoras. Na época, Mariana ainda não tinha biblioteca. “Eu mandava comprar livros pelo reembolso postal. Levava 15 dias, 20 dias para o livro chegar aqui”, relata o autor do livro “Augusto Frederico Schmidt, Juscelino Kubitschek e Odilon Behrens”. O autor tem muitos livros preferidos mas, para ele, o “As 1001 noites” é um livro muito importante para a literatura universal. “É uma da literatura árabe né? É um livro fantástico, não tem um autor, são vários ao longo dos séculos, as mil e uma noites. Uma obra sensacional”, afirmou.

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Carro Biblioteca da UFOP recebe homenagem

A iniciativa Carro Biblioteca da UFOP teve como representante Elton Ferreira de Mattos, coordenador do projeto. Durante o discurso o bibliotecário frisou que o projeto roda pela cidade de Ouro Preto há 15 anos levando literatura e cultura para bairros mais afastados do centro histórico. Durante o discurso, Elton declarou que a homenagem é um “tributo a força transformadora da educação”, superando as paredes da iniciativa e da universidade.

Para o coordenador, a homenagem é importante, já que o projeto é, além de incentivador da leitura, uma forma de inclusão nas comunidades e aproxima a população da UFOP. “Nós temos alunos bolsistas da própria Região, dos Inconfidentes, alunos também de outras regiões, mas é a oportunidade que as comunidades têm de ter contato com os universitários e de, um dia, ter a possibilidade de também estar na UFOP”, comentou.

O representante iniciou no mundo da leitura com as revistinhas em quadrinhos, mas fez questão de frisar a importância da obra de Guimarães Rosa, “Grande Sertão Veredas”, que teve menção especial em seu discurso, “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, destacou o bibliotecário.

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A FLIMARI e o incentivo à leitura

A feira contou com a visitação de escolas da região e, para tornar o acesso mais democrático, a feira realiza um circuito nas escolas da cidade que não tiveram a possibilidade de visitar o espaço, incluindo escolas dos distritos. A organizadora do evento, Andreia Donadon Leal, relatou que as escolas vão receber, também, oficinas de pintura com tintas naturais, lançamentos de livros e rodas de conversas com o autor. As atividades não param por aí, e a feira também terá um cortejo passando pela Praça Minas Gerais, Praça Gomes Freire (Jardim) e Rua Frei Durão. 

Para Andreia a FLIMARI é uma oportunidade das crianças saírem um pouco das telas. “Isso chama atenção, consome muito tempo das crianças e cada vez fica mais difícil do livro físico ocupar um lugar central. Quem dera se a gente pudesse ter tempo para escutar as histórias dos nossos avós, feito a gente que foi criado num ambiente repleto de leitura, né? De literatura oral”, afirmou a organizadora.

O estudante do terceiro ano do fundamental, Benício Júnior, presenciou as atividades da FLIMARI nessa quarta-feira (17) e contou que gosta de ler e que seu livro preferido é “De onde vem”. A experiência da feira para ele foi “legal”, disse que gostou muito dos discursos e, embora não saiba dizer o porquê, afirmou que considera a iniciativa importante.

Benício ficou feliz por estar na 3ª edição da FLIMARI
Benício ficou feliz por estar na 3ª edição da feira - Foto: Ana Beatriz Justino/Agência Primaz

Para a escritora Andreia Donadon Leal, a iniciativa vai muito além de introduzir as crianças no mundo da literatura, considerando que ela incentiva a cultura literária da cidade. “A gente tem que bater na tecla de forma intensa e mostrar a importância do livro, porque Mariana é uma cidade literária, só que a gente tem que movimentar esse universo livresco dentro da nossa cidade”, ressaltou.

Presença da literatura oral na FLIMARI

A história interpretada pela contadora Beatriz Myrrha durante o evento gerou uma alegria coletiva no auditório do Centro de Convenções. A história começou com a contadora interagindo com as crianças enquanto tocava um tambor de língua, seguindo depois para a frente da plateia e começando a contar a história da semente da primeira árvore do mundo, que cresceu por mil anos. A árvore é o Baobá e a história é uma adaptação de uma lenda tradicional africana, contida no livro “O céu do baobá”. Uma parte da contação falou da chuva que ajudou a semente a crescer e gerou gargalhadas e palmas da criançada.

Para Beatriz Myrrha as crianças devem se aproximar da literatura, tanto de forma escrita, quanto de forma oral. “A literatura é um lugar de união. O livro, as histórias, elas promovem união. União da pessoa com ela mesma, união dela com o autor, com todas as pessoas fazedoras de livros, com o tempo daquela escrita, com os personagens dessa escrita”, afirmou a contadora de histórias.

As histórias orais continuaram com a contadora Rosana Mont’Alverne, que interpretou a história do livro “Baús de troca”. Ao final das contações aconteceu um sorteio de livros para as crianças presentes, que contou com competição de adivinhação e a brincadeira do pomar brasileirinho para definir o vencedor.

O amor pela literatura

A FLIMARI é um espaço que vai além da literatura. É um lugar de encontros entre pessoas. O escritor Luciano Guimarães compareceu ao evento para entregar livros para Danilo Gomes e outros amigos do homenageado estiveram presentes para matar a saudade do companheiro.  

O amor pela literatura estava presente em diferentes espaços. Durante o evento, houve a presença de monitores, responsáveis por auxiliar no funcionamento das atividades e prestarem informações junto às mesas de exposição de livros. As monitoras Maria Roberta e Patrícia são admiradoras dos livros e acreditam que a feira é uma possibilidade de levar a cultura da leitura para a população. “Porque hoje os meninos, o negócio é só ficar na tela. Esquecem que o mundo da leitura é uma coisa maravilhosa. Quando você pega um livro para ler, você se imagina na leitura”, afirmou Patrícia. Já Maria Roberta acredita na feira como um lugar de incentivo à leitura de obras marianenses e da cultura aldravista, movimento cultural criado em Mariana.

Foto de Ana Beatriz Justino
Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e estagiária na Agência Primaz. Possui grande atração por gênero, cultura e politica.