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Hoje é quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Leilão define consórcio que vai duplicar e explorar a BR-356

Proposta ofereceu deságio de 13,2% na contraprestação do Governo de Minas

Romeu Zema (Novo), bate o martelo, ratificando o resultado do leilão de concessão da BR-356, vencido pelo Consórcio Rota de Liberdade
Romeu Zema (Novo), bate o martelo, ratificando o resultado do leilão de concessão da BR-356 – Foto: Cauê Diniz/B3

Foi realizado nesta quinta-feira, na B3 (Bolsa de Valores do Brasil), o leilão promovido pelo Governo de Minas Gerais para a concessão rodoviária do Lote Ouro Preto – Mariana, denominado Via Liberdade, e composto pela BR-356 e trechos da MG-262 e MG-329. O vencedor da concessão apresentou proposta de contraprestação de R$1,7 bilhão, correspondente a um deságio de 13,2% do valor previsto no edital.

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O que é o Consórcio Rota da Liberdade

O Consórcio Rota da Liberdade é composto pelas empresas Construtora Metropolitana S/A; Quebec Construções e Tecnologia Ambiental S/A; JCP Participações Ltda; Construtora Abra Infraestrutura Ltda; Construtora Contorno Ltda; Renova Engenharia Ltda, especialmente reunidas para buscar obter o contrato de concessão, por 30 anos, do chamado Lote Ouro Preto-Mariana – Via Liberdade, composto por 190,1km de rodovias, incluindo a BR356, entre Nova Lima e Mariana, e trechos das rodovias estaduais MG-262 e MG-329, entre Mariana e Rio Casca.

O leilão contou também com a participação da Houer Concessões, com proposta de deságio inferior à do Consórcio Rota da Liberdade.

O lote leiloado passa por 11 municípios: Nova Lima, Rio Acima, Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Acaiaca, Barra Longa, Ponte Nova, Urucânia, Piedade de Ponte Nova e Rio Casca, e teve seu anúncio apresentado em cerimônia realizada em Mariana, no dia 25 de novembro de 2024.

O Consórcio Rota da Liberdade venceu o certame ao apresentar a proposta de R$1.702.476.148,74 de contraprestação, o que representa 13,2% de deságio do valor máximo previsto em edital, ou seja, reduzindo em aproximadamente R$258 milhões o valor a ser repassado pelo governo de Minas, como contraprestação no modelo de Parceria Público-Privada (PPP).

Ver mais sobre a concessão da BR-356

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Modelo de concessão do lote rodoviário

Ponto de instalação de uma das praças de pedágio no km 62,6 da concessão da BR-356, cujo leilão foi vencido pelo Consórcio Rota da Liberdade
Ponto de instalação de uma das praças de pedágio no km 62,6 da BR-356 – Foto: Reprodução/SEINFRA

O processo de concessão da BR-356 vem sendo desenvolvido desde 2020, inclusive com a realização de estudos e audiências públicas, mas sofreu descontinuidade devido à constatação de elevado custo e transferência, para os usuários, de tarifas consideradas exorbitantes. Com a conclusão do Acordo de Mariana, que instituiu a repactuação do processo de reparação e compensação dos danos produzidos pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrida em 2015, foi incluída uma verba de R$2 bilhões para aplicação em obras de manutenção e melhorias da BR-356.

O projeto modernização do lote rodoviário prevê mais de R$5 bilhões de investimentos em obras de infraestrutura divididas em quatro frentes de trabalho, realizadas em ordem cronológica e/ou com superposição de etapas: a frente de serviços iniciais, recuperação e manutenção; a frente de obras de melhorias e ampliação de capacidade, – composta pela construção de 67,4km de duplicações; 39,7km de terceiras faixas; 64,2km de novos acostamentos; do contorno em Cachoeira do Campo, com extensão de 7,3km; 6,8km de readequação de vias marginais e mais de 21km de correção de curvas críticas –; a frente de serviços operacionais; e a fase de melhorias regulatórias tais como a adoção do sistema automático de livre passagem (free flow), buscando promover, o aprimoramento da infraestrutura do sistema rodoviário concedido.

“Hoje, Minas Gerais é um estado cuja economia cresce acima da média Brasil. Atingimos meio trilhão de reais em investimentos privados e um milhão de empregos com carteira assinada gerados, tudo isso na minha gestão. Minas vive um ciclo virtuoso. E agora esse é um dos muitos projetos de infraestrutura que temos pela frente. Aquele estado onde nada acontecia, é hoje cada vez mais dinâmico”, afirmou Romeu Zema (Novo), na cerimônia de validação do resultado do leilão vencido pelo Consórcio Rota da Liberdade.

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Audiências públicas e problemas levantados pelas populações envolvidas

Participantes da 2ª Audiência Pública realizada em Mariana para discussão da concessão do lote rodoviário “Via Liberdade”
Participantes da 2ª Audiência Pública realizada em Mariana para discussão da concessão do lote rodoviário “Via Liberdade” – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Para cumprimento da legislação, o Governo de Minas Gerais realizou duas audiências públicas em Mariana, relacionadas ao processo de concessão do lote “Via Liberdade”, composto pela BR-356 e trechos das rodovias MG-262 e MG-329.

A primeira delas, realizada em dezembro de 2024, foi marcada pela baixa presença da população, assim como não contou com a participação do prefeito, vice e vereadores eleitos em novembro, já que aconteceu exatamente no mesmo horário da diplomação pela Justiça Eleitoral.

Na ocasião, a reportagem da Agência Primaz levantou uma série de questões relacionadas ao modelo de negócio proposto para a concessão, ocorrendo ainda manifestações relacionadas a dúvidas referentes a pontos específicos e importantes como a não previsão de duplicação dos trechos das rodovias estaduais; a construção de um trecho de contorno no distrito de Cachoeira do campo (Ouro Preto) e questões ligadas a desapropriações na vila São Vicente, em Passagem de Mariana.

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Depois de interferência de autoridades locais e estaduais, uma nova audiência foi realizada, também em Mariana, em janeiro de 2025, desta vez com maior participação popular e de representantes dos poderes Executivo e Legislativo de algumas das cidades envolvidas.

Na ocasião, Juliano Duarte (PSD, prefeito de Mariana, ressaltou a importância das obras a serem executadas, mas questionou os impactos para a população local e criticou os governos federal e estadual por não terem exigido a inclusão, no chamado Acordo de Mariana, de recursos suficientes para a execução de 100% das obras de duplicação da BR-356 e de melhorias das rodovias MG-262 e MG-329, deixando a população com o ônus do pagamento de pedágio.

A não apresentação de respostas aos questionamentos anteriores, em especial quanto à situação da Vila São Vicente, motivou uma audiência pública da Câmara Municipal de Mariana, realizada em Passagem de Mariana, em fevereiro deste ano, solicitada pelos vereadores Ronaldo Bento (PSDB) e José Sales (PDT), preocupados com a possibilidade de desapropriações para duplicação da rodovia. Com a presença de muitos moradores do local, deputados e vereadores, a reunião serviu como local de reafirmação da impossibilidade dos moradores serem deslocados para outro local.

Na véspera (22 de fevereiro de 2025), a Assembleia Legislativa de Minas Gerais também havia promovido uma audiência pública que explicitou o grande volume de insatisfação com o modelo de concessão da BR-356, principalmente em relação ao impacto financeiro a ser suportado pelos usuários e às indefinições a respeito das indenizações e prejuízos previstos para os moradores das margens da rodovia nos trechos urbanos. A reunião ainda demonstrou que os governos federal e estadual não estão em sintonia sobre o assunto, com informações desencontradas e manifestações contraditórias até mesmo sobre a competência legal do Governo de Minas para dar prosseguimento ao processo de concessão.

Foto de Luiz Loureiro
Luiz Loureiro é jornalista graduado pela UFOP, fundador, sócio proprietário e editor chefe da Agência Primaz de Comunicação.