Assassinaram a Diplomacia
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Ouça o áudio de "Assassinaram a diplomacia", do colunista Alexandre Amorim
Eu confesso que este texto foi muito difícil de ser escrito.
Foi complicado pois existem muitas emoções expostas, existem muitas convicções que foram abaladas e que, na eterna batalha contra a besta interior, que deseja retaliação, que deseja o Lex Talionis – que não mais deseja oferecer a outra face, por mais que esteja fazendo isto por décadas.
É difícil, pois eu sou um Bibliotecário – eu acredito no poder das ideias. Eu acredito que, dadas as oportunidades, dada a chance de diálogo e da expressão respeitosa das ideias torna-se possível evitar a imposição das mesmas pela força. Torna-se possível fazer florescer o melhor de nós, nos pontos de vista mais divergentes e, talvez, até mesmo complementares.
Eu sou um Bibliotecário, sim.
Mas depois do que aconteceu ontem, confesso que questiono hoje, se minha profissão ou o espírito imbuído em mim por acreditar nos ideais que ela defende, ainda é o caminho certo para que eu siga trilhando daqui para frente. Estou legitimamente confuso e considerando outros caminhos, pois, depois do que aconteceu ontem… muita da fé depositada na humanidade se dissipou em tristeza, desilusão e frustração.
Estou decepcionado, triste e extremamente desiludido com o futuro depois do assassinato de Charlie Kirk, um ativista conservador e religioso – que aconteceu ontem, no dia 10/09/2025.
Para quem não o conhece, Charlie era uma pessoa religiosa e que acreditava e vivia na premissa democrática da livre expressão das ideias, do livre debate, colocando-se à disposição para falar dos seus pontos de vista com quem quisesse conversar com ele. Mas principalmente, Charlie dava a voz para quem antagonizava seus próprios pontos de vista, suas próprias convicções e opiniões, tanto religiosas quanto políticas.
Charlie partiu para o seu prematuro encontro com o Altíssimo aos 31 anos. Sobrevivem a ele, sua esposa e duas crianças, uma menina e um garotinho – que o Pai Misericordioso proveja bálsamo forte o suficiente para sua família, frente a tão absurda e violenta partida e que tenha a alma de Charlie em suas mãos.
E eis a parte lamentável (na melhor das hipóteses) – várias pessoas da esquerda norte-americana comemoraram a morte de Charlie Kirk. Comemoraram seu assassinato. Existem incontáveis manifestações nas redes sociais enaltecendo a destruição de um pai de família, cujo propósito máximo era… falar. E permitir que o outro também falasse.
Um radicalismo absurdo, que chega às raias de ultrapassar a comoção frente ao sofrimento dos familiares e de suas crianças pequenas, que chega ao ponto de cegueira absurda, pois Charlie era quem defendia o diálogo ao invés das atribuições de força e violência – força e violência estas que a esquerda, nem nos seus momentos mais áureos, tem a capacidade de quantificar e muito menos de suportar, caso seja solta sobre ela – para provar um ponto. Charlie Kirk era um moderado que apostou sua vida no diálogo – e agora, é possível ver com profusão que várias pessoas da esquerda comemoram sua morte.
As pessoas de esquerda comemoram a morte de uma das únicas pessoas que acreditava que o diálogo valia o risco de sua vida, para tentar passar, junto da palavra de Deus, a palavra conservadora e seus ideais. Se existe moderação neste espectro político, talvez estejam assolados e silenciados também por debaixo de tamanha insensibilidade e intolerância, se é que existem.
Não as vi em lugar algum.
E o que resta agora?
Resta agora que não há razão para que qualquer pessoa conservadora aposte no diálogo com a esquerda em geral. Afinal de contas, quem tem o impulso suicida de se colocar frente a pessoas que acreditam ser uma alternativa viável ao discurso e ao debate, a utilização de munição 5.56, deflagradas por rifles a 200m de distância?
Resta agora que talvez dar a outra face seja pedir muito para quem o fez durante tantos anos. Afinal de contas, são tantos tiros, facadas e tentativas de assassinato, violência gratuita e imposição intolerante a ideias divergentes. Quem arriscaria sua integridade física, o bem-estar de sua família ou mesmo o risco de deixar abandonados, sem sua presença protetora e o seu braço forte e trabalhador capaz de prover o sustento e as oportunidades para seus próprios filhos, em prol da iluminação pelas palavras de quem discorda de seu caminho, seja lá ele qual for?
Resta agora que talvez a esquerda como um todo receba exatamente aquilo que partes de seus integrantes acusam os conservadores de serem. Afinal de contas, se já estão sendo assaltados, agredidos, esfaqueados, alvejados e assassinados como indivíduos violentos e perigosos… que ao menos se justifique tal belicosidade. Que seja ao menos, JUSTO. Que tenha ao menos, RAZÃO LÓGICA para existir tal agressividade.
É um texto extremamente duro e difícil de se escrever, pois apesar de jamais ter conhecido Charlie Kirk e por, mesmo não concordando com a completude de suas ideias, tinha por ele um respeito imenso e compartilho (ou compartilhava… eu sinceramente preciso colocar minhas convicções sob revisão, pois o sentimento de derrota e de insignificância é muito grande agora) do poder das palavras e do poder das ideias sobre a violência, sobre a imposição.
É um texto extremamente duro para ser escrito pois, para cada pai de família fica exposto que talvez, pela intolerância que ninguém é capaz de enxergar em todos os lugares, alguém pode te separar de seus filhos, de sua família – definitivamente – pelo custo de… palavras.
Logo após o ocorrido, algum infeliz jornalista brasileiro descreveu Charlie como “extrema-direita”. Acho que foi do G1. Chamar alguém que acredita no diálogo de extrema-direita é algo que é além de ofensivo e estúpido – é perigoso. Pois se faz de Charlie um extremista, imputa algo que nem existe definição para todo o resto do espectro político.
A matéria causou muita polêmica e seu texto foi alterado pouco tempo depois, removendo os adjetivos “extremo” e “extremista” apesar de que, não houve nota desta edição e também não serviu para acalmar os ânimos – apenas serviu para evidenciar a hipocrisia deste grupo midiático.
Lamentável. Mas talvez seja realmente a hora que as consequências tenham que chegar em seus destinatários mesmo.
Talvez não exista mais tempo para protelar, talvez não exista mais tempo para dialogar.
O título do texto é apropriado, pois eu não acredito que exista mais espaço para o diálogo entre os extremos. Eu acho que a ultra exposição de gratuita violência, de intolerância e desta polaridade tão abrasiva, com um atrito tão violento – tenha sepultado de forma definitiva a vontade existente em dar a oportunidade para o entendimento mútuo.
Ou talvez sejam as convicções pessoais que eu carregava comigo que estão morrendo. Talvez o propósito que carreguei comigo por mais de uma década, esteja se mostrando ineficiente e o vazio que sinto no peito agora, seja desta mágoa atroz, engatilhada pela trágica partida de Charlie Kirk, de que meu trabalho não tem mais relevância. De que ações em prol de buscar o diálogo, o entendimento e a compreensão sejam apenas ilusões de uma sociedade que jamais virá a ser. Uma sociedade tolerante, que busca o entendimento mútuo, que tenta superar as diferenças.
Uma sociedade que viva em paz.
No momento, só posso me lembrar de um comentário que li em tempos atrás, na época em que várias pessoas utilizavam o termo “facista” (sic) em discussões políticas, na tentativa de silenciar o opositor em seu diálogo, cito:
“Tudo o que estou dizendo é que todo fascista verdadeiro que já conheci é dedicado de uma forma que libertários e esquerdistas nem conseguem começar a entender.
Eles são todos fanáticos. Pela causa deles. Pela luta deles.
Eles treinam seus corpos, almas e mentes enquanto outros vivem a vida em busca de prazer ou autorrealização. A maioria já viu combate de verdade. Eles estão familiarizados e à vontade com a violência.
Todos parecem buscar a morte de um guerreiro. Todos sentem como se estivessem na porta enquanto o lobo uiva lá fora.
Eles sentem como se estivessem defendendo a civilização contra a noite eterna. A grande maioria dos zoomers e millennials nunca esteve em uma briga física.
Eu só não acho que a maioria das pessoas está preparada para o zelo fanático do verdadeiro fascista”.
Agora eu me lembrei do conto do menino que grita lobo.
E eu acho que, desta vez, ninguém vai aparecer para ver o que vai acontecer.

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