Pequenos grandes: O preço da adultização na infância
“O que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fazeis”. (Mt 25,40)
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Ouça o áudio de "Pequenos grandes: O preço da adultização na infância", do colunista Júlio vasconcelos:
O fenômeno da Adultização de Crianças tomou conta das mídias nos últimos tempos através de um vídeo que se tornou viralizado, produzido pelo influenciador digital, humorista e youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca. O vídeo, que teve mais de 45 milhões de visualizações em 10 dias, apresenta denúncias impactantes sobre como crianças e adolescentes são explorados nas redes sociais, tanto por pais quanto por influenciadores, com comportamentos sexualizados e monetização de suas imagens.
Felca denuncia o que chamou de “Algoritmo P”, responsável por impulsionar conteúdos potencialmente exploratórios e ilegais, facilitando o acesso de predadores a esses materiais. Entre os casos citados, destaca-se o de Hytalo Santos, também influenciador digital, que produzia conteúdo com jovens adolescentes em formato de “reality show” em ambientes como casas ou mansões, chamando-os de “crias” ou “filhas” e com suspeitas de exploração sexual infantil, tráfico de pessoas e trabalho infantil artístico irregular. Após a viralização do vídeo, a Justiça suspendeu seus perfis, desmonetizou seus conteúdos com menores e proibiu-o de contatar os envolvidos ou suas famílias. Ele foi preso em São Paulo em 15 de agosto de 2025.
Outro caso citado por Felca, foi o de Kamyla Maria Silva, a “Kamylinha”, uma adolescente que participou do grupo chamado “Turma do Hytalo” desde os 12 anos e que teve sua imagem usada em vídeos com conotação sexualizada, incluindo o uso de implantes de silicone e aparição em situações questionáveis.
Outro caso também citado no vídeo, foi o de Bel Peres, jovem influenciadora e de sua mãe, Francinete Peres, que geriam o canal no YouTube “Bel para Meninas”, voltado inicialmente para conteúdos lúdicos e educativos, mas que depois foi acusado de potencialmente prejudicial por estimular a exploração sexual precoce de crianças.
Segundo Freud, considerado o Pai da Psicanálise, a criança atravessa 05 Estágios Psicossexuais de Desenvolvimento. O primeiro Estágio, denominado de Oral, tem início quando a criança nasce e vai até 1,5 anos de idade, aproximadamente. Nessa fase, a boca representa o centro do processo que gera prazer com o ato de succionar, morder ou mastigar. O segundo Estágio, denominado de Anal vai dos 1,5 aos 3,0 anos de idade. Nessa fase a fonte de prazer está centrada no ânus, com o controle da excreção e o treino do penico. Aqui tem início da autonomia e relação com ordem e limites. O terceiro Estágio, denominado Fálico, vai dos 3,0 aos 06 anos de idade. Nessa a fonte de prazer está nos genitais, com o surgimento da curiosidade sobre diferenças sexuais e manipulação dos órgãos genitais. O quarto Estágio, denominado Latente, vai dos 06 aos 11 ou 12 anos de idade, quando a fonte de prazer da criança está relacionada ao desenvolvimento das amizades, dos estudos, dos esportes e da socialização. Finalmente, surge a fase adulta, denominada Genital, a partir dos 12 anos de idade. Aqui a fonte de prazer está centrada nos genitais, mas agora com integração das outras zonas, dando lugar a uma sexualidade madura, voltada ao outro, despertando capacidade de amar, trabalhar e criar vínculos duradouros.
Cada Estágio tem suas características próprias e precisam ser vivenciados naturalmente para que a criança amadureça normalmente, exigindo tempo e elaboração. O problema é que a adultização quebra esse ritmo, forçando a criança para vivências adultas antes que ela tenha condições de simbolizar o Estágio em que se encontra. Os riscos envolvidos são muitos e grandes e estão relacionados a ansiedade e estresse precoce, dificuldades na construção da identidade, prejuízo na elaboração do lúdico, erotização precoce, confusão entre desejo e afeto, recalque traumático, perda da espontaneidade infantil, isolamento, dificuldades de socialização futura, dores de cabeça, insônia, distúrbios alimentares e vulnerabilidade a depressão e transtornos de ansiedade na adolescência e vida adulta.
Infelizmente, de forma traumática, esses são os enormes riscos a que estão expostas as crianças envolvidas nesse processo nefasto de adultização. O mais agravante é que muitos pais, desconhecedores dessas consequências ou ávidos para colocar suas crianças nos corredores da fama em busca de enriquecimento rápido, as inserem e as estimulam por esse caminho. Fica aqui um forte alerta para que estejam atentos e não deixem isso acontecer.
Se você quiser se aprofundar no assunto, é só retornar. Júlio César Vasconcelos, Psicanalista Integrativo (31)99345-0515 (Whatsapp).

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