- Ouro Preto
Sextas Abertas celebra patrimônio e memórias de Ouro Preto
“As Cores Originais: um estudo sobre Ouro Preto” resgata a memória cromática da cidade e mostra como a diversidade de pigmentos marcou a história antes da padronização em branco

A quarta edição de 2025 do projeto “Sextas Abertas”, promovido pela Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), reuniu oficinas, feira de arte e gastronomia, apresentações culturais e um público que ocupou a praça do bairro Antônio Dias. Na última sexta-feira (22), entre as múltiplas atividades, houve também a exibição do documentário “As Cores Originais: um estudo sobre Ouro Preto”, resultado da pesquisa sobre as cores das casas da cidade de Ouro Preto.
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O filme, que também foi acompanhado da aula aberta “As terras coloridas de Ouro Preto” e de uma caminhada guiada pelo centro histórico da cidade, trouxe à tona a história das tintas e cores que pintaram as fachadas de Ouro Preto antes da predominância do branco.
De acordo com Fernando Cardoso, arquiteto e um dos responsáveis pela pesquisa, guiada pela A Pique Arquitetura e Memória, a motivação partiu de um incômodo comum a moradores mais antigos da cidade, que precisam seguir a padronização de tons claros, imposta desde os anos 1950.
“A cor tem uma dimensão afetiva. Os moradores se reconhecem nela. Descobrimos que Ouro Preto tinha uma exploração histórica de pigmentos e que era natural que fossem usados para pintar as fachadas. Esse patrimônio não é só material, é também cultural”, explica Cardoso.
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A pesquisa recorreu a arquivos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Rio de Janeiro, documentos históricos e um extenso trabalho de campo, identificando vestígios de cores originais ainda preservadas em revestimentos. O resultado aponta que a paisagem ouro-pretana foi, por muito tempo, mais colorida e diversa do que se vê hoje.
O impacto do documentário foi potencializado pela boa receptividade da comunidade. Segundo Fernando, moradores abriram suas casas para que a equipe pudesse analisar fachadas e contar memórias pessoais relacionadas às cores. “Foi muito marcante perceber como esse tema desperta interesse. Muitas pessoas ainda lembram das tonalidades usadas, de onde se retiravam os pigmentos”, destacou.
Para Cardoso, o trabalho é também um convite ao debate público sobre o futuro da paisagem urbana: “Já faz décadas que as fachadas estão brancas, e as novas gerações não vivenciaram a diversidade das cores da cidade. O filme e o livro são formas de devolver essa história para que ela não se perca e possa inspirar novas decisões de preservação”, finaliza.

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Sobre o “Sextas Abertas”
A proposta do “Sextas Abertas” busca ampliar a participação da comunidade e revelar práticas culturais muitas vezes invisíveis. Como destacou a artista plástica e coordenadora do Núcleo de Arte e Ofício da FAOP, Rachel Falcão, a curadoria da edição se fortaleceu justamente na afinidade entre as atividades: “Tivemos oficinas de pigmentos naturais, cerâmica do Jequitinhonha, culinária, shows. Todas trazendo a ideia de patrimônio a partir da terra, das cores, da cultura popular. Foi uma edição redonda, com pesquisas completamente diferentes, mas muito afins, tudo conversou entre si”.
Criado em 2016, o “Sextas Abertas” nasceu com o objetivo de aproximar a FAOP da comunidade e dar visibilidade a artistas e agentes culturais locais. Hoje, com apoio institucional, o evento consegue remunerar oficineiros e expandir sua atuação para distritos de Ouro Preto, sempre com forte adesão popular.
De acordo com Rachel, a iniciativa tornou-se também espaço de descoberta e reconhecimento, já que “muitas pessoas percebem que aquilo que fazem em casa, um bordado, uma receita, uma técnica de pintura, também são formas de arte.”
