- Mariana e Ouro Preto
Ribeirão do Carmo é liberado para uso após acidente químico
Órgãos púbicos divergem sobre impacto da soda cáustica e efeitos sobre animais ainda preocupam
- Maria Teresa Carvalho
- Supervisão: Luiz Loureiro

Na última terça-feira (19), o Ribeirão do Carmo, em Mariana, foi liberado para uso. Após análises de amostras da água do Ribeirão, conduzidas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), o contato com a água já não oferece riscos. O alerta surgiu em função do tombamento de um caminhão que transportava soda cáustica, ocorrido no último dia 11. A substância alcançou o Córrego do Funil, que deságua no Ribeirão do Carmo.
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A contaminação foi comunicada à população marianense por meio das redes sociais, poucas horas após o tombamento, e a Defesa Civil da cidade orientou que, até segunda ordem, a água do Ribeirão não deveria ser utilizada para nenhuma atividade.
Testes na água
Desde o acidente, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) realizou seis análises de amostras da água do Ribeirão do Carmo para monitoramento da substância. Embora o SAAE não captação de água do Ribeirão para abastecimento público, comunidades ribeirinhas utilizam a água para atividades agrícolas e tratamento dos animais, além de existirem garimpeiros trabalhando em diferentes pontos do curso do Ribeirão.
Na última terça-feira (19), a partir do resultado da última análise do SAAE, o subsecretário de Defesa Civil de Mariana, André Machado, disse que “quem utiliza o Ribeirão do Carmo para alguma atividade, já pode voltar a utilizá-lo com segurança”. De acordo com Machado, o pH da água voltou ao normal e o uso do Ribeirão não coloca a comunidade e a fauna em risco.
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Apesar da normalidade, os municípios a jusante do ponto de derramamento da soda cáustica, como Acaiaca e Barra Longa, podem ser afetados pela soda cáustica. Isso porque o Ribeirão do Carmo deságua no Rio Gualaxo, que corta os dois municípios, integrando a Bacia do Rio Doce.

De acordo com o Secretário de Meio Ambiente de Ouro Preto, Chiquinho de Assis, por se tratar de um evento que envolveu produto perigoso e em razão da magnitude e da área atingida, todo o procedimento foi conduzido conforme as determinações do Decreto Estadual nº 48.706/2023. O regimento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) explicita que é dever da Semad prestar atendimento, assessoramento e colaboração na investigação e gestão dos acidentes e emergências ambientais decorrentes de transporte de produtos e resíduos perigosos, estabelecendo medidas de controle, limpeza e recuperação para minimizar os impactos ambientais gerados na área atingida pelo evento.
Semad contesta contaminação
Em nota encaminhada à redação da Agência Primaz, a Semad comunicou que “o produto derramado não é tóxico e possui alta solubilidade em água, o que contribuiu para sua rápida diluição. O Córrego do Funil apresenta vazão suficiente para dissipação do produto, não sendo esperados efeitos negativos significativos sobre o uso da água para irrigação agrícola ou dessedentação animal”
A secretaria ainda afirmou que apenas uma pequena quantidade alcançou o Córrego do Funil, localizado dentro das dependências da empresa Actech, que deságua no Ribeirão do Carmo. De acordo com o órgão ambiental, todas as ações de emergência foram realizadas conforme protocolo técnico e a empresa responsável pela carga será autuada por causar dano ambiental com agravante.
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Animais afetados
Apesar da Secretaria negar a toxicidade da substância, peixes e outros animais encontrados próximos ao Ribeirão tinham sinais de contato com substância tóxica. O Instituto Habitat, que presta assistência médica, resgate e reabilitação de animais, foi responsável pela coleta de animais na região do Ribeirão após o derramamento da substância.
De acordo com o Instituto, centenas de peixes já foram retirados do Ribeirão do Carmo. Entre espécimes com ou sem vida, os animais apresentavam lesões por queimaduras e brânquias deterioradas. O nível de alcalinidade da água estava alto, de acordo com o Habitat. Contrariando as afirmações da Semad, todos esses indícios são compatíveis com a presença de material tóxico na água.
O Instituto Habitat informou, ainda, que dois cães foram resgatados em localidade próxima ao acidente, ambos com queimaduras graves nas patas. Acredita-se que os animais tenham caminhado sobre a substância. Os cães estão internados e seguem sob cuidados do Instituto Habitat.
Ressalte-se que os animais resgatados sem vida são descartados segundo protocolo da legislação ambiental para evitar outras contaminações.
