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Hoje é quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Soberania, Justiça e o Jogo Internacional

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A soberania nacional está sendo ameaçada por sobretarifas aolicadas às exportações brasileiras para os EUA, inclusive sobre algumas commodities

Ouça o áudio de "Soberania, Justiça e o Jogo Internacional", do colunista João Luiz Martins:

O Brasil vive um momento delicado, em que sua soberania econômica, política e institucional tem sido colocada à prova tanto por pressões externas quanto por ameaças internas. De um lado, enfrentamos tentativas internacionais de impor barreiras comerciais injustificáveis — como a taxação excessiva de produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos — que ameaçam diretamente setores produtivos estratégicos da nossa economia. De outro, vemos nosso Judiciário sendo desafiado, mesmo enquanto atua com firmeza, imparcialidade e respeito à Constituição no julgamento de crimes contra o Estado democrático de direito.

O Duplo Padrão nas Relações Internacionais

É inaceitável que os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que exigem “liberdade de mercado”, pratiquem medidas protecionistas contra nações em desenvolvimento, como o Brasil. Essas atitudes revelam um duplo padrão histórico: o discurso de liberdade e justiça para fora, e a prática da imposição e do domínio quando seus interesses estratégicos e geopolíticos estão em jogo.

O Papel do Judiciário e os Ataques à Democracia

Internamente, o Brasil tem dado exemplo ao conduzir com transparência os processos que apuram as tentativas de golpe de Estado, a invasão das sedes dos Três Poderes e a articulação de movimentos antidemocráticos que atentaram contra a Constituição Federal. Esses atos, incentivados por campanhas de desinformação, culminaram em manifestações que invocavam a volta de uma ditadura militar. Na verdade, um dos capítulos mais tristes da nossa história — e que, ironicamente, foram acompanhadas por bandeiras dos Estados Unidos e de Israel.

Interferência e Silêncio Internacional

A contradição é flagrante: enquanto exigem que o Brasil puna com rigor os envolvidos nos atos golpistas, setores internacionais ligados ao governo norte-americano tentam constranger nosso sistema financeiro e jurídico, interferindo indiretamente na autodeterminação do povo brasileiro. Mais grave ainda, é o silêncio ensurdecedor sobre as graves violações de direitos humanos promovidas por nações que ostentam a retórica da civilização e da democracia, mas mantêm políticas sistemáticas de ocupação, apartheid e extermínio — como se vê nos conflitos em que Israel mantém um cerco desumano contra a população palestina, incluindo ataques fatais contra crianças e o confinamento de um povo inteiro em uma estreita faixa de território.

O massacre imposto por Israel ao povo palestino, com suas milhares de vítimas civis — entre elas, um número alarmante de crianças e jovens — poderia e deveria ter sido evitado. No entanto, o veto dos Estados Unidos ao pedido de cessar-fogo apresentado por ampla maioria das nações na Organização das Nações Unidas (ONU) representou não apenas um bloqueio diplomático, mas um ato de cumplicidade. Ao se posicionar contra o clamor global pelo fim da guerra, os EUA reafirmaram seu alinhamento incondicional a Israel e revelaram, mais uma vez, a força dos interesses econômicos que os movem — em especial os das grandes indústrias de armamentos, que lucram com cada bomba lançada e cada vida ceifada. Trata-se de uma solidariedade não à paz, mas ao lucro, mesmo à custa do extermínio de um povo inteiro confinado e sem chance de defesa.

Seletividade Moral e Defesa da Soberania

Não se trata de relativizar crimes nem de defender a impunidade. Trata-se de denunciar a seletividade moral e política que orienta a diplomacia das potências ocidentais, especialmente quando seus interesses econômicos ou ideológicos estão em jogo. É preciso reafirmar sempre, que o povo brasileiro tem o direito de escolher seu caminho político e econômico com soberania, sem ameaças externas disfarçadas de preocupação democrática.

Conclusão

Neste contexto, é essencial que o Brasil mantenha sua postura firme em defesa da justiça, da soberania nacional e do respeito ao Estado de Direito. Devemos seguir fortalecendo nossas instituições, enfrentando os desafios internos com rigor e responsabilidade, e exigindo no cenário internacional o respeito que merecemos como nação independente e democrática.

Foto de João Luiz Martins
João Luiz Martins é ex-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto e atual Diretor do Gabinete do Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina
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