Notícias de Mariana, Ouro Preto e região

Hoje é sábado, 2 de agosto de 2025

E se não existisse a morte?…

“A vida só tem sentido se a morte também o tiver.” (Carl Gustav Jung)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

E se a morte não existisse?

Ouça o áudio de "E se não existisse a morte?..., do colunista Júlio Vasconcelos:

A morte sempre foi um tema debatido por filósofos, psicólogos, médicos, poetas, religiosos e, de uma forma geral, por toda a humanidade ao longo dos tempos. Afinal, surge sempre no ar uma pergunta que insiste em não se calar, mesmo que os crentes afirmem que já tem a resposta: Para onde vamos no final da nossa jornada terrena? Para o inferno, para o purgatório ou para o céu, com a ressureição, como acreditam os cristãos? Para o umbral, para instâncias espirituais superiores ou de volta para a terra, com a reencarnação, como pregam os Espíritas? Ou simplesmente viramos pó, não vamos para lugar nenhum, como dizem os ateus?

Independentemente dessas crenças, surge no ar uma outra pergunta curiosa, que também não quer se calar: E se não existisse a morte no plano terreno? O que aconteceria? Já pensaram sobre isso? Vale a pena refletir!

Além dos impactos nas diversas religiões, na medicina e suas especialidades, nas indústrias farmacêuticas e armamentistas, no sistema previdenciário que provavelmente despareceriam, dos impactos gerados com a superpopulação mundial, sem alimentos, recursos e espaço para todos, surgiriam também os impactos psicológicos na mente do ser humano, que poderiam ser ainda mais desastrosos. 

Para Sigmund Freud, considerado o Pai da Psicanálise, a consciência da morte é central para a formação do desejo e da motivação do ser humano. A vida é limitada e isso nos impulsiona a desejar, criar, amar, lutar. Sem a morte, o desejo poderia se tornar vazio, pois o tempo deixaria de ter urgência. O que desejamos tem valor justamente porque não dura para sempre.

A angústia existencial poderia explodir! Freud dizia que a angústia de morte é um dos núcleos da psique. Se a morte desaparecesse, o sujeito possivelmente ficaria desorientado, sem motivos para continuar vivendo. A ausência da morte poderia gerar uma nova forma poderosa de angústia, com o peso de existir para sempre.

Freud, em seus estudos, propôs a existência de uma pulsão de morte (Tânatos) que funciona como um limite simbólico e é o que dá sentido à nossa vida. Sem morte, não há limites e se nada terminasse, nada teria começo claro e nem um sentido definido. As relações humanas, identidades, memórias, tudo poderia se diluir num eterno presente. Se a morte real fosse suprimida, a pulsão de morte possivelmente se voltaria para formas mais simbólicas ou destrutivas, tais como a autossabotagem, a violência, o vazio e a repetição sem sentido. A vida eterna terrena, portanto, não eliminaria o conflito psíquico, apenas o deslocaria para instâncias ainda mais danosas para a mente humana. Surgiria a “Síndrome de Tempo Infinito”, com a sensação de aprisionamento, condenados a uma existência sem limites em um planeta super habitado, sem espaço e recurso para todos!

Diante das múltiplas reflexões, quer sejam de caráter geopolítico, ambiental, filosófico, espiritual ou psicanalítico, talvez possamos concluir que, apesar de nosso medo e da nossa angústia diante da morte, ela revela-se não como um castigo, mas como uma condição essencial da nossa existência. É justamente por ser finita que a vida adquire valor, urgência e profundidade. Se tudo fosse eterno, o desejo perderia seu ritmo, os afetos se diluiriam na repetição e a própria identidade humana se desfiguraria. A morte, paradoxalmente, é o que dá forma à vida: ela a delimita, orienta escolhas e sustenta o sentido do tempo. Aceitar sua presença não é ceder ao pessimismo, mas reconhecer que, em sua essência, a morte é uma necessidade benéfica, um ciclo natural que permite o renascimento, a transformação e o constante movimento da experiência humana.

Como dizia o grande poeta Mário Quintana em uma das famosas frases atribuídas a ele: “Um dia eu me acabo e pronto! A morte! Que venha a morte! Eu tenho medo é de perder a vida!”. O pior é que tem muita gente por aí que já perdeu a vida!…

Quem tem ouvidos, que ouça!

Se você quiser se aprofundar no assunto, é só fazer contato: Júlio César Vasconcelos – Psicanalista Integrativo (31)99345-0515.

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
***

Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.

Veja mais publicações de Júlio Vasconcelos