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Hoje é quarta-feira, 30 de julho de 2025

Convivência requer compreensão da diversidade

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A diversidade humana é uma oportunidade de crescimento e empatia
Foto; Sharath G./Pexels

Ouça o áudio de "Convivência requer compreensão da diversidade", da colunista Andreia Donadon Leal:

Cantoria estridente de maritacas e de pardais sobre os telhados vizinhos desperta-me nesta manhã. A possibilidade de voo das maritacas, que vão e voltam, é meu elo com o mundo lá fora. O meu mundo aqui dentro é imutável e inclusivo. O frio, que por tanto tempo se impôs nesses meses, começa a se dissipar gradualmente, como uma neblina que se dilui com os primeiros raios do sol. Anseio pela chegada do verão, a estação amarelada que sempre retorna no tempo e no jeito dela, trazendo calor e brilho que ilumina tudo ao seu redor. O sol do verão é tão profundo que aquece o corpo, a alma e o coração. No verão, depois de intenso calor, nuvens repentinas trazem duchas refrescantes. Anseio pela estação quente que alivia minhas dores, que diminui o peso do fardo da dor que se torna cada vez mais excruciante no inverno.

Enquanto o frio persiste, as dores nas minhas articulações e músculos se intensificam. Essas dores são lembranças constantes de fragilidade e finitude. E que poético ser finito! Dores no corpo, dores na alma! A liberdade de viver, sem monopolizar a existência de ninguém é dádiva. Sem conseguirmos explicações sobre as origens das coisas e dos seres, encontramos Deus, ser brilhante e divino. E aplaudindo sua divindade, creio ser saudável não colocar homem ou mulher em nenhum pedestal. Semideuses tendem ao autoritarismo.

Depois do inverno teremos a explosão floral de primavera. Primavera é renascimento. Troncos ressecados pelo inverno refolham-se repentinamente. O solo queimado pelas coivaras enverdecem-se. O calor retorna, o veranico de outubro. Resta-nos esperar um verão de calor equilibrado, na medida certa — nem tão brando, nem tão intenso. A terra gira, o tempo gira, o dia gira. Nem percebi que o dia já se foi, e a noite deitou escuridão sobre nós. A escuridão propicia condições de repouso.

Já passou da meia-noite, e em meio à escuridão a segunda-feira chega, abrindo contagem de tempo para a inevitável rotina para trabalhadores e estudantes.

Para mim, no entanto, os dias têm se arrastado, todos iguais, e a monotonia é quase palpável. Aprendi a navegar pela roda da rotina. Meu olhar vaga na noturna escuridão das incertezas desta segunda-feira neonata. Estopim para a tristeza. Quando a tristeza se transforma em um visitante indesejado, busco reviver a alegria que reside dentro de mim, tentando resgatar momentos especiais, aqueles que conseguem aquecer meu coração e desenhar fartos sorrisos no meu rosto enrugado. Estratégias que aprendi com minha mãe, tempos atrás, e aprendo em minhas análises atualmente. Depois que meus pais partiram, tenho me recolhido em um luto recorrente, numa fase que precisa se transformar em poesia! Ainda não consegui superar, mas terapias me ajudam. Tudo tem seu tempo. Tempo para amadurecer e superar; tempo de sofrer e sorrir; tempo para lidar com a dor e, finalmente, superar. Superei perder falsos amigos e falsas relações culturais. Essas perdas superficiais foram livramentos; afinal, divindades livraram-me das cizânias espalhadas pelas ruas. Elas escutaram as manobras de exclusão. Elas ouviram que é ruim conviver com PCDs. Eu sei que é muito mais simples se afastar dos PCDs, excluí-los de nossas vidas, do ambiente de trabalho, das celebrações e das conversas informais. E nós sabemos que os movimentos de exclusão revelam a incapacidade de lidar com a diversidade humana em sua existência e essência. A vida é feita de nuances, e cada experiência, por mais desafiadora que seja, é uma oportunidade de crescimento e empatia com o DI-VERSO.

Que possamos, então, abrir nossos corações e mentes, permitindo que a inclusão e a compreensão sejam as luzes que guiam nossos caminhos. Que o calor do sol que iluminará em pouco a segunda-feira não traga apenas alívio para minhas dores, mas quem sabe um renascimento da esperança, da solidariedade e da capacidade de ver o outro em sua totalidade e em sua diversidade. A cantoria de maritacas e pardais já não é incômodo, mas uma lembrança de que a convivência requer compreensão da diversidade em sua plenitude, não só nas aparências, mas, e especialmente, nas atitudes.

Foto de Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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