- Ouro Preto
Mulher é vítima de capacitismo em show do Festival de Inverno
Engenheira com deficiência invisível é humilhada e agredida em área PCD de show; plateia aplaude exclusão

Uma noite que deveria ser de celebração e música no Festival de Inverno de Ouro Preto transformou-se em um episódio de discriminação e agressão para a engenheira ambiental Daianna Lana e sua família na última segunda-feira, 7 de julho. Durante o show da banda Capital Inicial, na Praça da Ufop. Daianna, que é autista, e sua família foram alvo de xingamentos e agressões físicas e verbais por ocuparem a área destinada a Pessoas com Deficiência (PCDs).
O relato chocante veio à tona através de uma publicação no Instagram de Daianna, onde ela descreveu a violência sofrida. Acompanhada da esposa, filha de 7 anos, cunhado e uma irmã em tratamento contra o câncer, Daianna foi hostilizada por outras pessoas presentes no evento, que a acusaram de “mentirosa”, “oportunista” e “folgada” por estar na área PCD, mesmo apresentando a documentação necessária.
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A situação escalou a ponto de um homem empurrar uma cadeira em direção à irmã de Daianna. O motivo alegado pelos agressores? A família estava em pé, curtindo o show e sorrindo. “Eu entendo que a visão deles possa ter sido prejudicada. Mas ao contrário de nós, eles podiam escolher qualquer outro lugar pra ficar. Eles não tinham restrição. Eles não precisavam daquela área como nós”, desabafou Daianna em sua publicação.
O aplauso ao capacitismo
A cena de horror foi ainda mais dolorosa com a reação de parte do público. Quando a equipe da prefeitura interveio, retirando a família do local para evitar um conflito maior, os agressores aplaudiram. “Fomos retiradas para evitar o conflito, não para enfrentá-lo. Acomodaram os agressores, não as vítimas. Fomos silenciadas com gentileza”, lamentou Daianna, ressaltando a dor de ser aplaudida ao ser removida, como se os agressores tivessem “vencido”.
A criança de 7 anos, filha de Daianna, presenciou toda a cena e perguntou à mãe: “Mãe, por que estão te xingando?”. A pergunta inocente expôs a crueldade do capacitismo, que é o preconceito e a discriminação contra pessoas com deficiência.
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Consequências legais e apoio
Daianna Lana informou que tomará todas as medidas legais cabíveis. Ela citou artigos da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), como o Art. 88 (discriminação contra PcD) e Art. 8º (violação dos direitos à convivência, segurança e dignidade), além do Art. 140, §3º do Código Penal (injúria qualificada por capacitismo).
O relato gerou uma onda de solidariedade nas redes sociais. A vereadora Lilian França, se colocou à disposição para acompanhar o caso e cobrar providências. Outros comentários expressaram repúdio e ofereceram apoio à família, destacando a importância de combater o preconceito contra deficiências ocultas. O secretário de saúde de Ouro Preto, Leandro Moreira se manifestou na publicação e fez questão de esclarecer que um dos agressores não era profissional do SAMU, como havia sido divulgado nas redes sociais, mas sim um motorista da prefeitura que presta serviço de ambulância.
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As deficiências ocultas e os desafios diários
O caso de Daianna Lana lança luz sobre um problema frequente na sociedade: a dificuldade de reconhecimento e aceitação das deficiências ocultas. Diferente de deficiências físicas visíveis, condições como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ou doenças crônicas que impactam a mobilidade ou bem-estar, não são imediatamente perceptíveis. Isso gera um ciclo de descrença e julgamento por parte de quem não entende ou não se importa em buscar conhecimento.
Em seu relato, Daianna menciona ter tentado “pegar desesperadamente o seu crachá” para demonstrar que era uma pessoa com deficiência. Este crachá é uma das maneiras encontradas para tornar visíveis as deficiências que não são óbvias. Existem dois modelos principais para essa finalidade:
Cordão de Girassol: Símbolo internacional das deficiências ocultas, o Cordão de Girassol é reconhecido globalmente e indica que a pessoa que o utiliza pode precisar de atenção extra, paciência ou tempo em determinadas situações. Ele abrange uma vasta gama de condições invisíveis, desde doenças crônicas a transtornos neurológicos.
Cordão de Quebra-Cabeça (Autismo): Especificamente para autistas, o Cordão de Quebra-Cabeça é um símbolo mundialmente aceito para representar o Transtorno do Espectro Autista. O uso desse cordão sinaliza que a pessoa pode ter necessidades específicas relacionadas à comunicação, sensibilidade sensorial ou interação social.
Mesmo com o uso desses símbolos, pessoas com deficiências ocultas, muitas vezes, precisam de adaptações e acessibilidade que não são óbvias para o público em geral. Um simples estar em pé em uma área PCD, como no caso de Daianna, pode ser visto como uma “fraude” por quem não compreende que a deficiência não se manifesta apenas em cadeiras de rodas ou muletas.
A cada nova situação social, a pessoa com deficiência oculta é obrigada a “se justificar”, a apresentar documentos e a provar sua condição, um fardo exaustivo e humilhante. A agressão sofrida por Daianna e sua família reflete o desconhecimento e a falta de empatia, transformando um momento de lazer em um trauma profundo. O episódio em Ouro Preto mostra que, apesar dos avanços na legislação e no uso desses símbolos, a falta de conhecimento e o preconceito ainda são barreiras significativas.