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Hoje é quarta-feira, 9 de julho de 2025

Museu de Arte Sacra inaugura galeria de arte contemporânea

Espaço permanente homenageia artistas vivos e celebra os 150 anos da morte de Dom Viçoso com novas obras do barroco mineiro contemporâneo

Arcebispo e artistas discursaram durante a abertura da nova sala de exposições de arte sacra contemporânea
Dom Airton, Elias Layon, Hélio Petrus e Rinaldo Urzedo discursaram durante a inauguração da nova sala de exposição - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Na noite do dia 7, durante as celebrações pelos 150 anos da morte do Venerável Dom Antônio Ferreira Viçoso, a cidade de Mariana testemunhou um marco simbólico e artístico: a inauguração da Galeria dos Artistas Sacros Contemporâneos, no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra. A nova sala do acervo se propõe a reconhecer e valorizar a produção viva da arte sacra, com foco em artistas que mantêm viva a tradição do barroco mineiro com novas linguagens e técnicas.

A inauguração da galeria ocorreu após a Santa Missa celebrada na Catedral da Sé pelo arcebispo metropolitano de Mariana, Dom Airton José dos Santos. O evento fez parte de um dia inteiro de programação religiosa e cultural dedicado à memória de Dom Viçoso, que incluiu uma caminhada até a Cartuxa (local onde o bispo morou e faleceu) e apresentações musicais com hinos dedicados ao religioso.

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Galeria reúne três obras inéditas e homenageia artistas vivos

O novo espaço no Museu Arquidiocesano abriga, inicialmente, obras de três artistas, produzidas especialmente para a ocasião. As peças foram doadas ao museu pelos artistas Elias Layon, Hélio Petrus e Rinaldo Urzedo. Além das obras principais, cada artista contribuiu com objetos e ferramentas de trabalho, compondo uma exposição que revela não apenas o resultado, mas também o processo criativo por trás de suas produções.

A iniciativa é parte de um projeto contínuo da Arquidiocese de Mariana. A proposta é convidar novos artistas sacros da região para integrar a galeria, valorizando talentos contemporâneos com raízes na tradição católica e mineira. “Esse é um primeiro passo. Outros artistas virão. A proposta é valorizar quem já tem uma trajetória consolidada e abrir espaço para novos nomes”, explicou o padre Anderson Eduardo de Paiva, diretor do Museu de Arte Sacra.

O arcebispo e os artistas descerram a placa da sala de exposições de Arte Sacra Contemporânea
O Arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos descerrou a placa junto com os artistas Elias Layon, Hélio Petrus e Rinaldo Urzedo - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

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A arte como expressão da fé e do presente

Durante a inauguração, Dom Airton José dos Santos destacou o valor da arte como linguagem de evangelização e contemplação espiritual. Para o arcebispo, é essencial reconhecer o papel dos artistas vivos como continuadores de um legado que remonta aos tempos de Aleijadinho e Michelangelo.

“A arte é viva. Os artistas estão vivos, assim como outros já estiveram e criaram coisas incríveis. É bonito anunciar a beleza do Evangelho através da obra das mãos de algumas pessoas que nós chamamos de artistas”, afirmou Dom Airton.

O arcebispo também revelou o desejo de criar uma escola de arte para crianças na cidade, como forma de garantir a formação de futuras gerações de artistas com vínculos espirituais, estéticos e culturais.

Anunciação de Nossa Senhora em madeira, arte sacra esculpida por Hélio Petrus

Obras inaugurais: tradição e contemporaneidade

Cada artista homenageado produziu uma obra original para marcar a inauguração da galeria, trazendo diferentes técnicas e materiais, mas todas enraizadas na tradição da arte sacra.

Elias Layon apresentou uma pintura da Assunção de Nossa Senhora. Entre os personagens presentes na cena, o artista inseriu, de forma simbólica, a figura de Dom Airton, representado entre os fiéis impressionados pela ascensão da Virgem. “O Museu de Arte Sacra de Mariana é o Louvre de Minas. Assim como os impressionistas foram homenageados ainda em vida, nós recebemos hoje essa honra”, declarou.

Hélio Petrus doou uma escultura em madeira entalhada que retrata a Anunciação do Anjo Gabriel a Maria, com destaque para figuras angelicais em estilo neobarroco. Petrus preferiu não discursar, afirmando que fala melhor com os formões do que com palavras.

Rinaldo Urzedo apresentou um oratório de Nossa Senhora da Conceição esculpido em pedra-sabão. Em sua fala, ressaltou a importância da Igreja Católica na formação de seu olhar artístico: “Todo o meu conhecimento artístico veio da observação das obras sacras nas igrejas. A Igreja sempre foi parceira dos artistas”, contou o artista.

Arte Sacra que mostra Nossa senhora da Conceição em um oratório de pedra sabão

Conheça os artistas homenageados

Elias Layon nasceu no Líbano, mas foi naturalizado brasileiro e vive em Mariana e Ouro Preto desde os seis anos de idade. Teve sua vocação artística incentivada ainda na infância por sua mãe, Laurice Chamon Layon. Estudou com grandes nomes das artes plásticas, como Ema Antunes e Theo Lorer, e é conhecido por retratar paisagens coloniais imersas em brumas. Desde 1997, dedica-se também à escultura sacra, com obras presentes em igrejas, museus e até no Vaticano.

Hélio Petrus, mineiro de nascimento, ex-seminarista e ex-prefeito de Mariana, é conhecido por sua produção de esculturas religiosas em madeira que dialogam com o barroco, mas com forte carga expressiva contemporânea. Suas obras têm como marca a leveza e o aspecto humanizado dos anjos e santos que entalha, num estilo que ele próprio chama de “novos caminhos do barroco”.

Rinaldo Urzedo é formado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, com especialização em conservação de elementos arquitetônicos pelo Centro Europeo di Venezia. Atuou em restaurações de igrejas e monumentos históricos em Mariana, Ouro Preto e Belo Horizonte. É também o primeiro escultor, em mais de um século, a inserir esculturas públicas em Mariana, como os chafarizes da Praça da Sé e a Fonte da Samaritana. Atualmente, leciona cantaria na Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana.

Obra de arte sacra criada por Elias Layon

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Museu se abre para o futuro da arte sacra

Fundado em 1960 pelo arcebispo Dom Oscar de Oliveira, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra é um dos mais importantes museus do gênero no Brasil. O acervo reúne obras de Aleijadinho, Vieira Servas, Mestre Piranga, Manoel da Costa Ataíde, entre outros grandes nomes da arte sacra colonial. Além disso, possui a maior coleção de prataria litúrgica da região.

Para o padre Anderson, a criação da nova galeria representa também um movimento de renovação e visibilidade para o museu. “Muitos turistas passam por Mariana apressados, depois de visitar Ouro Preto, e deixam de conhecer nosso acervo. Este novo espaço quer valorizar o hoje, os artistas da nossa terra, e proporcionar aos visitantes uma experiência de contemplação e espiritualidade”, afirma.

A Galeria dos Artistas Sacros Contemporâneos está aberta ao público e pretende seguir crescendo com novas exposições e homenagens nos próximos anos.

Quadro de Elias Layon, uma obra de arte sacra retrata a assunção de nossa senhora e contém a figura de Dom Airton retratada no quadro

Serviço:

Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana – MG


Endereço: Rua Frei Durão, 49 – Mariana, MG


Visitação:

Terça a sábado: de 8h30 às 12 e de 13h30 às 17h

Domingos: de 8h30 às 14h

Foto de Lui Pereira
Jornalista, fotojornalista e contador de histórias. Cronista do cotidiano marianense.