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Hoje é terça-feira, 1 de julho de 2025

Juliano desiste de projeto que defendeu e mantém Mariana D’Elas

Após encaminhar e defender publicamente o projeto e ver sua base na Câmara aprovar o corte, prefeito volta atrás diante da impopularidade do projeto e mantém programa social

Prefeito Juliano Duarte recebeu elogios da população que pede cortes nas áreas sociais ao propor o projeto de desmonte do Mariana D'Elas e também conseguiu ser elogiado quando voltou atrás em sua decisão.
O prefeito foi elogiado nas redes quando propôs o projeto e quando desistiu dele - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz (arquivo)

Em uma reviravolta que fez muitas famílias carentes respirarem aliviadas, o prefeito Juliano Duarte anunciou na última sexta-feira (27) a desistência do corte nos benefícios do programa “Mariana D’Elas”. A notícia, que gerou uma onda de gratidão e emoção entre as mulheres beneficiárias, vem menos de um mês após a Câmara Municipal aprovar a Lei nº 205 de 2025. Enviada e defendida pelo próprio prefeito, a lei previa uma redução nos valores para as mães chefes de família atendidas pelo programa.

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O anúncio foi feito durante um evento com a participação de centenas de beneficiárias do programa, no Centro de Convenções. Em um momento de grande comoção, o prefeito Juliano Duarte comunicou que os pagamentos atuais do “Mariana D’Elas” seriam mantidos, sem as alterações que resultariam em cortes significativos para as famílias mais vulneráveis. “Não faremos mais a alteração na lei e não diminuiremos o salário”, afirmou o prefeito em vídeo postado em sua conta do Instagram “voltar atrás nessa decisão é o certo a fazer. O impacto financeiro na vida dessas famílias é gigante”.

O alívio de quem mais precisa

O “Mariana D’Elas” é um programa voltado para mulheres chefes de família em situação de vulnerabilidade social. Ele oferece qualificação profissional, auxílio financeiro e oportunidades de trabalho de meio período no setor público. Os objetivos do programa são garantir a dignidade das famílias atendidas e promover a reinserção das mulheres no mercado de trabalho.

As participantes trabalham 4 horas diárias e recebem R$ 1.059. Como muitas delas também recebem o Bolsa Família, a proposta originalmente enviada pelo prefeito e aprovada por ampla maioria pela Câmara, estabeleceria um teto de um salário-mínimo (R$ 1.518) para a soma dos benefícios, o que na prática representaria um corte médio de R$ 300. As famílias mais numerosas e vulneráveis seriam as mais afetadas.

A desistência do corte foi recebida com efusão pela população. Nas redes sociais, os comentários à publicação do prefeito Juliano Duarte transbordam de agradecimento e celebração. Duarte Júnior, irmão e ex-prefeito de Mariana, comentou: “Parabéns irmão, decisão acertada em favor dos que mais precisam.” Algumas beneficiárias se emocionaram com a notícia: “Tbm fiquei emocionada! São MTS mães q são pais q são chefes do lar q necessitam. Deus abençoe Juliano que nunca falte em sua mesa e na mesa de ninguém. Notícia linda do dia!”, diz outro comentário na publicação.

Muitas beneficiárias expressaram o quanto o programa é essencial: “Esse valor significa muito pra quem recebe e movimenta nossa cidade”, “Esse é meu prefeito do povo”, “Muito bem, Juliano! Repensar nossas ações e fazer diferente é sinal de inteligência”, e “Equidade e compromisso é a marca do nosso Prefeito!! Buscou a solução e garantiu dignidade!” foram algumas das mensagens.

Marcelo Macedo foi o único a defender o programa Mariana D'Elas durante a reunião do último dia 02.
Do contra? Vereador Marcelo Macedo foi o único a não aprovar o projeto de corte do programa - Foto: Larissa Antunes/Agência Primaz

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A situação dos vereadores e a lógica do impacto social

A decisão do prefeito de revogar uma lei que ele mesmo idealizou, enviou e defendeu exaustivamente, e que foi aprovada com 13 votos favoráveis na Câmara incluindo uma abstenção (Zezinho Salete) e apenas um voto contrário (Marcelo Macedo), escancara a dinâmica do legislativo municipal. 

É crucial salientar que os 13 vereadores que aprovaram o projeto pertencem à base governista, demonstrando a forte influência do executivo na aprovação da medida. A rapidez com que o projeto foi descartado pelo próprio autor, menos de um mês após a aprovação, levanta sérios questionamentos sobre a profundidade da análise e o real compromisso dos vereadores com as necessidades da população que representam.

Durante a tramitação, vereadores como Italo de Majelinha, Maurício da Saúde, Preto do Cabanas e Fernando Sampaio defenderam a medida com argumentos questionáveis, como a suposta “comodidade” das beneficiárias e a necessidade de forçá-las ao mercado de trabalho formal, citando a dificuldade do comércio local em encontrar mão de obra.

A justificativa do secretário de Desenvolvimento Social, Juliano Barbosa, de que a medida “forçaria” a saída dessas mulheres do programa, foi rebatida pela dura realidade das mães chefes de família, muitas delas com filhos pequenos e sem acesso a creches. Uma beneficiária, em vídeo que viralizou, questionou a lógica de trabalhar por um valor ínfimo, como os R$ 400 que receberia mensalmente com a lei em vigor.

Zezinho Salete se absteve durante a votação do projeto de mudança do Mariana D'Elas
O vereador Zezinho Salete preferiu se abster durante a votação do projeto - Foto: Larissa Antunes/Agência Primaz

Durante as discussões do projeto, o prefeito Juliano Duarte gravou um vídeo ao lado do secretário Juliano Barbosa para defender a aprovação da lei. Para ele, as mais de 400 vagas de trabalho não preenchidas no comércio local, permanecem ociosas por causa do impacto do programa social, pois “quando oferecemos essas vagas para as mulheres que estão acumulando esses benefícios (Mariana D’Elas e Bolsa Família), elas não querem ir”, argumenta Juliano.

A preocupação da população, expressa nos comentários, evidencia o descasamento entre a pauta legislativa e as prioridades dos cidadãos: “Se tiver que cortar que seja no salário dos vereadores que diminua assessores diminua cartão alimentação que foi votado o reajuste recente, mas cortar no bolso de quem precisa isso é algo injusto”, ponderou um cidadão.

A lição da impopularidade e o futuro do programa Mariana D'Elas

O prefeito Juliano Duarte, que originalmente foi o propositor e principal defensor da impopular medida de corte, acabou recebendo os aplausos e a gratidão da população ao anunciar o seu recuo. Esse episódio sublinha a importância da escuta ativa do poder público às demandas da sociedade civil, e como a pressão popular pode ser um fator decisivo para a revisão de políticas que afetam diretamente a vida dos cidadãos, especialmente os mais vulneráveis.

O programa “Mariana D’Elas” será agora “reformado e vai funcionar da melhor forma possível: oferecendo possibilidades, estudo e profissionalização”, conforme prometeu o prefeito. A esperança é que este capítulo sirva de aprendizado para que futuras decisões legislativas em Mariana, tanto do executivo quanto da sua base na Câmara, sejam tomadas com um olhar mais crítico, humano e atento às reais necessidades da população.

Foto de Lui Pereira
Jornalista, fotojornalista e contador de histórias. Cronista do cotidiano marianense.