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Hoje é sábado, 7 de junho de 2025

Futilidades e ataques pessoais nas redes sociais

“As redes sociais profissionalizaram a imbecilidade. Fofoqueiros e invejosos se acham doutores e a maledicência ganhou ares de debate profundo.” (Tati Bernardi)

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Futilidades e ataques pessoais nas redes sociais

Ouça o áudio de "Futilidades e ataques pessoais nas redes sociais", do colunista Júlio Vasconcelos

Uma mulher vestida com um biquini minúsculo aparece num post em frente a uma praia paradisíaca com uma frase clichê. Uma multidão enorme curte e deixa seus comentários. Alguns comenta que também já estiveram lá, outros que é o sonho deles estarem lá e outros ainda postam outra paisagem semelhante, numa tentativa esnobe de concorrer com a anunciante.

Um bolsonarista radical e extremado estampa um post com uma foto do Lula caricaturado de demônio, com um comentário sarcástico e cheio de ódio. Um bando de partidários curte e deixa seus comentários carregados de ataques pessoais. Por outro lado, em outro post, um lulista radical e extremado estampa uma foto do Bolsonaro caricaturado de Bozo, com um comentário ridicularizando de forma desrespeitosa e agressiva o ex-presidente. Em ambos os casos, partidários de um e de outro se engalfinham em ataques mútuos em uma baixaria interminável e o circo romano fica formado.

Um indivíduo que possivelmente sofra de algum tipo de transtorno mental estampa uma foto distorcida ou um vídeo descontextualizado de algum político, religioso ou artista famoso, com notícias falsas, as famosas fake-news, sobre o personagem. Sem nenhum tipo de cuidado, análise crítica, escrúpulo ou autocensura, uma multidão enorme acusa, agride e crucifica o infeliz da foto, postando comentários criminalizantes.

Um influencer qualquer, sem nenhuma habilitação ou qualificação profissional, cria uma página na internet e começa a encher de “abobrinhas” essa página, com fotos e fatos sem nenhum conteúdo que valha a pena se aprofundar. Incrivelmente, um grupo enorme de pessoas que parecem não ter nada importante para fazer na vida sobrecarrega o espaço de comentários formando uma corrente interminável de frases vazias.

Esses são alguns exemplos das várias ocorrências tóxicas e típicas com que nos deparamos nas mídias e que acabam por influenciar negativamente um grande número de pessoas despreparadas ou mal intencionadas. Vivemos uma era de likes, stories e aparências cuidadosamente editadas. As redes sociais, em sua dinâmica frenética, muitas vezes premiam o que é passageiro, sensacionalista ou esteticamente atraente em detrimento do que é profundo, reflexivo ou real.

Nos últimos tempos, explorando meus estudos, conhecimentos e experiência adquiridos ao longo de vários anos, dei início a um projeto de compartilhamento de textos reflexivos diários relacionados a temas profundos e bastante atuais através das minhas redes de contatos na mídia, atingindo um total de 100 dias de reflexão. Para minha surpresa, o resultado foi um baixíssimo nível de acessos, curtidas e comentários diários! Mesmo quando questionados através questões provocativas e pertinentes, somente um pequeno grupo seleto se aventurou a manifestar. Lamentavelmente, o que podemos observar é que as redes sociais são construídas para normalmente para priorizar o que supérfluo e não necessariamente o que é profundo. Posts que exigem reflexão acabam perdendo o interesse confrontados com outros fúteis, com frases de efeito, com selfies de pessoas narcisistas e com agressões pessoais, principalmente quando se trata de assuntos políticos, ideológicos e polarizados.

A reflexão demanda tempo e atenção, confronta o ego, provoca desconforto, autoquestionamento e leva ao amadurecimento se bem utilizada nas redes, o que, infelizmente, não interessa à grande massa, transformada em gado.

É lamentável observar que as massas tendem a valorizar as celebridades, independentemente das besteiras que postam ou comentam. Uma frase banal e fútil ou uma foto qualquer ganha um enorme peso se postada por uma figura famosa, enquanto um texto profundo de algum cidadão comum passa despercebido e não é nem um pouco valorizado. Infelizmente, conteúdos que ajudam a crescer não atraem as massas, pelo contrário, eles são normalmente excluídos. A espiritualidade simples, autêntica e humana ainda é uma linguagem que poucos têm ouvidos para escutar.

Amante da arte literária que sou, decidi não me deixar abater pelas barreiras em contrário. Decidi não permitir que isso invalide o meu trabalho e, numa atitude persistente, resolvi transformar essas reflexões em um livro que em breve estarei lançando. Acredito que as sementes bem plantadas nem sempre brotam na hora, mas tocam o coração de espíritos maduros e espiritualizados, que são raramente encontrados. Um único leitor silencioso e espiritualizado vale muito mais que milhares de leitores vazios e descompromissados, que infelizmente são a grande maioria. Os conteúdos verdadeiros não vivem de aplausos, mas de coerência e missão.

Quem tem ouvidos, que ouça.

Foto de Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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