- Mariana
Saúde e cultura são pautas da 3ª Semana da Diversidade
Capacitações de profissionais de saúde e atrações culturais marcam a semana dedicada à inclusão e ao respeito em Mariana.
- Maria Eduarda Marques
- Maria Teresa Carvalho
- Supervisão: Lui Pereira
A abertura da Terceira Semana da Diversidade aconteceu na última quinta-feira (8), durante a programação da feira noturna, que acontece todas as quintas-feiras, a feira foi tomada por manifestações culturais que destacaram as diferenças e o afeto. A Semana da Diversidade é uma iniciativa do coletivo Mães da (R)existência, que na edição deste ano, focou na capacitação por meio da saúde no atendimento e acolhimento à comunidade LGBTQIAPN+ de Mariana.
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O Coral RecriaVida (Programa Municipal de Atenção à Pessoa Idosa) abriu a noite, trazendo um repertório que homenageou as mães, tratou da periferia com “O Morro Não Tem Vez”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e também cantou clássicos da MPB.
O Congado também integrou a celebração do evento. Os grupos Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião e Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Graças fizeram uma apresentação conjunta no centro da praça que envolveu o público com a percussão e cantos fortes.
A Bateria Carabina encerrou as atividades culturais da noite. Um grupo de percussão feminino, a Carabina veio de Ouro Preto para cantar sobre empoderamento e liberdade das mulheres. O grupo, que cantou também sambas de roda, é também um espaço de promoção da cultura afro-brasileira.
O vereador Ítalo de Majelinha (PSB), esteve presente na abertura do evento e falou sobre a importância da promoção de eventos como a Semana da Diversidade. “É um mundo tão cruel que a gente vive hoje em dia. Precisamos aprender a respeitar a todos e conviver como seres humanos com amor no coração, sem fronteiras, sem barreiras. Que vocês [Coletivo Mães da (R)Existência] possam conquistar, a cada dia que passa, esse respeito ainda maior da nossa sociedade”, felicita o vereador.



A farmacêutica Renata Sousa, que participa pela primeira vez da Semana da Diversidade, fala sobre a necessidade da iniciativa. “Eu acho que são pontos que a gente precisa trabalhar muito, principalmente na cidade de Mariana, que enfrenta grandes violências em relação a isso [violências ligadas a identidade de gênero e sexualidade]. Então, trazer isso para a feirinha, que é um lugar em que se tem uma grande diversidade de público, é muito importante”, comenta.
Semana da Diversidade
A 3ª Semana da Diversidade promoveu capacitações para os profissionais da saúde ao longo da última semana, no auditório do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS).
É notório que a saúde é uma das áreas mais vulneráveis para a população LGBTQIAPN+. Os centros de saúde, porta de entrada para o SUS, são um dos principais problemas enfrentados pelos que buscam atendimento, principalmente para aqueles que precisam de acompanhamento permanente.
Nesse sentido, os debates foram centrados na importância do acolhimento e da conscientização das demandas da comunidade, a partir do tema “Vivências e experiências da comunidade LGBTQIAPN+ na área da saúde: podemos mudar essa realidade!”.
Na segunda-feira, o Dr. André Diniz abordou quais erros comunicacionais precisam ser evitados no atendimento de urgência, emergência e na atenção primária. A Dr. Tatiane Miranda abordou, na terça-feira, temas como atenção especializada (ambulatórios), denúncias e políticas públicas nos municípios de Minas Gerais.
Já na quarta-feira, mães e filhos LGBTQIAPN+ participaram de uma roda de conversa para compartilhar seus relatos e vivências nos espaços da saúde. A palestrante da quinta-feira foi a Dr. Laura Gomes Marchetti, que discutiu o câncer de mama e de colo do útero em pessoas trans.
O último dia de palestras da 3ª Semana da Diversidade aconteceu na sexta-feira (9) e contou com a presença do Dr. Lucas Assunção, que mediou uma roda de conversa sobre saúde mental da comunidade LGBTQIAPN+.
Lucas trabalha na psicologia clínica e atende crianças e adolescentes, além de coordenar uma comissão de orientação em psicologia, gênero e diversidade sexual no Conselho de Psicologia de Minas Gerais. Ele também participa do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), atuando na frente de Minas Gerais.
O momento de escuta, acolhimento e troca de saberes foi importante para conscientizar e solucionar as dúvidas dos profissionais de saúde que participaram da palestra. Estiveram presentes enfermeiros das UBS de Passagem, Padre Viegas, Marisa Quintão, Cabanas, Centro e Furquim.
Além disso, as organizadoras do evento e as convidadas do “Mães Pela Liberdade”, um coletivo de apoio às famílias das comunidades LGBTQIAPN+ em Minas Gerais, compartilharam suas experiências e vivências enquanto mães e militantes da causa.
A enfermeira da UBS Marisa Quintão, Viviane Guimarães, comentou que não teve capacitações acerca das temáticas discutidas na Semana da Diversidade durante sua graduação. “A semana do movimento é extremamente importante, então eu acho que deveríamos tirar isso de uma ‘semana’ e transformar em uma coisa constante. Vamos promover rodas de conversa nos postos, por exemplo”, declara.
De acordo com o psicólogo Lucas, eventos como a Semana da Diversidade são importantes para desestigmatizar pautas associadas à saúde mental para que seja possível falar sobre esse tema diariamente, sanar dúvidas, se aproximar dos coletivos da cidade e entender como a saúde mental pode impactar a vivência nesse território.
“Momentos como esse contribuem para o fortalecimento dos profissionais da ponta, para que eles fiquem mais especializados naquele trabalho, como também oferecer para a população LGBTQIAPN+ um atendimento de qualidade”, explica Lucas.
Ao final da Semana da Diversidade, os profissionais de saúde receberam um certificado de capacitação.
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Mães Pela Liberdade
O Mães Pela Liberdade é um coletivo mineiro, fundado em 2020, de mães e pais unidos para lutar não só pela plena cidadania como também pelo direito de ser e de amar de toda a população LGBTQIAPN+.
O coletivo faz um trabalho de acolhimento de famílias em processo de entendimento da orientação ou identidade de gênero de suas filhas, filhos e filhes. Também promovem palestras e rodas de conversa a fim de desconstruir o preconceito que gera a violência.
Além disso de acolher e apoiar os filhos, as Mães Pela Liberdade também enfrentam a LGBTfobia, lutam por direitos, por políticas públicas, pela criação de espaços de acolhimento e de cuidados com a saúde física e mental.
Edwiges Lempp, popularmente conhecida como Hedy, é vice-presidente da Associação e foi uma das convidadas do coletivo Mães da (R)Existência para integrar a palestra sobre saúde mental da população LGBTQIAPN+.
Ela compartilhou a importância da Semana da Diversidade para a formação dos profissionais de saúde, especialmente sendo mãe de uma filha trans. “A questão da formação para lidar com a população LGBTQIAPN+ ainda é pouco discutida profissionalmente, os centros de saúde são onde mais sofrem desrespeito e preconceito. Então, eventos de capacitação como esse são fundamentais, porque eles são multiplicadores”, salienta Hedy.
Fale com as Mães pelo instagram @maespelaliberdade.
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Coletivo Mães da (R)Existência
Teresa Gertrudes, estudante, técnica de enfermagem e co-fundadora do Mães da (R)Existência, explica que a criação do coletivo foi motivada pelo número expressivo de casos de violência que chegaram até o hospital em que ela trabalhava entre meados de 2017 e 2018. Segunda ela, muitas vítimas de agressão faziam parte da comunidade LGBTQIAPN+. “Por conta disso, conversei com a minha filha e resolvemos pensar o que poderia se fazer em prol da comunidade LGBTQIAPN+. O fato de eu ser mãe de uma bissexual também me ajudou a abrir meu horizonte e abraçar o movimento”, explica Teresa.
A primeira edição da Semana da Diversidade aconteceu em 2023 com a primeira caminhada LGBTQIA+ de Mariana, que teve o apoio do Movimento Negro, da Secretaria de Educação e do vereador Edson Agostinho, prefeito interino de Mariana na época. A caminhada promoveu debates e conscientização sobre gênero e sexualidade.
Teresa explica que as atrações da noite foram pensadas em comemoração à diversidade. “Eu procuro sempre trazer tudo que é de cultura, mas que carrega a diversidade junto. Quando você olha uma guarda de congado, ali tá a mãe junto com o filho. Você olha para a Bateria Carabina, são mulheres que lutam, resistem”, comenta a fundadora.
O Coletivo, que trabalha com atividades sócio-educativas voltadas para a promoção da educação, cultura e saúde, realiza a cada dois meses, o Varal Solidário, uma iniciativa que arrecada, seleciona, higieniza e distribui roupas e calçados para pessoas que precisam.
Sem sede própria, o Coletivo se organiza na casa de Teresa, que pede atenção da política marianense, especialmente agora em que o Mães da (R)existência está em vias de se tornar uma ONG (Organização Não-Governamental).
Serviço
Ainda dá tempo de participar das atividades da 3ª Semana da Diversidade. Confira a programação da semana:
- Blitz educativa com apoio da Guarda Municipal de Mariana com panfletagem, para conscientizar sobre temas como LGBTfobia (como denunciar, como acolher e respeitar):
Data: 15 de maio, quinta-feira
Horário: 14h às 17h
Local: Terminal Turístico de Mariana
- A Cerimônia de encerramento da Semana da Diversidade acontece no final de semana, com apresentação musical e homenagem às pessoas da comunidade LGBTQIA+ e aos apoiadores da causa. Não perca:
Data: 17 de maio, sábado
Horário: 18h
Local: Museu de Mariana
Acompanhe as ações e os trabalhos realizados pelo coletivo no instagram @maesdarexistencia.