Reencontrando meu passado
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Ouça o áudio de "Reencontrando meu passado", da colunista Andreia Donadon Leal:
Há tempos desejo escrever sobre as fases da minha vida. É que passei por despedidas dolorosas da menina, da adolescente e da mulher jovem que habitaram meu corpo. Estão dentro de mim. Carrego cada uma com suas marcas, delicadezas, defeitos e rudezas. Desde que nasci sou meio triste e rude; não por malvadeza ou instinto animalesco, apesar de que todos temos um quê de animais. O homem deixa de ser animal quando se faz humano. Não mata, não comete atos de violência e injustiça. O conflito é humano, é inerente às relações pessoais e interpessoais. De acordo com a moderna teoria do conflito, ele pode ser positivo, se direcionado ao aprendizado e crescimento pessoal e social. Conflitos bem gerenciados podem potencializar o fortalecimento de ações criativas, entrelaçando diálogo e propostas construtivas em quaisquer ambientes, inclusive dentro da gente. Os conflitos dentro de mim são gerenciados com sessões de leitura, arte, atividades físicas e terapia. Não há outra forma de manejar a saúde mental sem aderir às ferramentas do equilíbrio do comportamento e das ideias. Janeiro branco está de malas prontas para o ano que vem; neste instante já colocou sua barba de molho na linha do tempo. O mês dois bate à porta. Não, não tive tempo de assimilar o início do ano. Não tive prazo para nadar, viajar para outras montanhas ou mares. Mergulhei em mim mesma à procura da adolescente que fui: potente no amor, no ânimo, nos sonhos, nas esperanças e nos planejamentos. Lá no fundo, bem no fundo de mim, encontrei uma adolescente assustada, temerosa em encarar a fase da menopausa. Uma adolescente amedrontada com os hormônios em decadência, sem energias e equilíbrio para pensar, caminhar, compreender e lutar com todas as forças para dar as boas-vindas à menopausa. Saber acolher os cabelos brancos, as rugas que se despontam no canto dos olhos, no corpo em desaceleração, no ressecamento da pele, nos cabelos que já não têm o mesmo viço. A adolescente que habita em mim se desentende com a mulher madura; chora de revolta, sapateia, perturba e ataca. A adolescente que habita em mim teme perder o trono. Respiro. Converso com minha adolescente. “Vamos acolher a maturidade, sem sofrimento?” Afago a adolescente que chora baixinho. “Caminhamos de mãos dadas? Toda vez que eu não tiver energia para passear, namorar, viajar, escrever e planejar novos projetos, você me sujiga? Preciso de você mais do que nunca para continuar a viver. Sem você, eu não existo. Só você para dar direção à nossa nova fase… Só você me fará voltar a viver e a sonhar. A adolescente sorriu para mim. Enxugou as lágrimas. Abriu os braços e me acolheu num aconchegante abraço!

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