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Hoje é quinta-feira, 2 de maio de 2024

Biblioteca Pública promove Semana de Incentivo à Literatura

Instituída em 2021 pelo Governo de Minas, a quarta edição do evento faz homenagem à escritora mineira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), que completaria 110 anos em 2024.

Semana de Incentivo à Literatura acontece até sexta-feira (19), na Biblioteca Municipal Benjamim Lemos, em Mariana
Semana de Incentivo à Literatura acontece até sexta-feira (19), na Biblioteca Municipal Benjamim Lemos, em Mariana - Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Desde segunda-feira (15), até sexta-feira (19), a Biblioteca Municipal de Mariana promove a 4ª Semana Estadual de Incentivo à Literatura, com exposições literárias, intervenções artísticas, jogos, brincadeiras, exibição de filmes e palestras. Nessa quarta-feira (17), as principais atrações foram a exibição do filme “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin, e a palestra “Afromineiridades”, com a participação de escritores e professores. Todas as atividades acontecem a partir do meio-dia e o encerramento da programação, na sexta-feira, às 19h30, vai contar com uma versão pocket da Batalha das Gerais.

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Semana de Incentivo à Literatura

Mais de 50 bibliotecas públicas e comunitárias de todo o estado promovem, até domingo (21), cerca de 100 atividades para estimular a leitura literária em todos os públicos. A grande homenageada da edição é a escritora mineira Carolina Maria de Jesus, que completaria 110 anos em 2024. A realização é da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas e do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas e Comunitárias, e atende à Política Estadual do Livro.

As atividades incluem rodas de samba, saraus, exposições literárias, rodas de conversa, capoeira, exibições de filmes e oficinas, entre outras ações que convidam a comunidade a ler, discutir e compartilhar textos produzidos por afrodescendentes nas Minas e nos Gerais. Toda programação é gratuita e pode ser conferida na íntegra aqui.

A partir da iniciativa, as bibliotecas transformam-se em centros de promoção das culturas e das artes afrodiaspóricas, por meio de manifestações da tradição oral. A Semana Estadual de Incentivo à Literatura também é uma oportunidade para que as instituições realizem atividades que divulguem e valorizem seus acervos de memória local.

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Biblioteca Municipal Benjamim Lemos

Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”, é a homenageada da IV Semana de Incentivo à Leitura
Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”, é a homenageada da IV Semana de Incentivo à Leitura - Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

É o quarto ano da Semana [de Incentivo à Literatura] e a Biblioteca Pública de Mariana está na sua terceira participação. Nos anos pregressos, participamos com a Mostra Digital de Literatura Marianense, vencedora de prêmios como o do Projeto Incentivo à Leitura, da Fundação Renova”, informou Alexandre Amorim, bibliotecário responsável pela instituição.

Segundo Alexandre, é muito importante ressaltar a importância da literatura, uma vez que ela, longe de competir com os meios digitais de informação, “promove o ponto que chamamos hoje de Era da Informação, onde nunca se teve tanto incentivo e tanto estimo para que adultos, jovens, idosos e crianças se inserissem nas formas de comunicação e de leitura, da forma que é determinada pela UNESCO, ONU e demais associações multigovernamentais”.

Em Mariana, a programação do evento conta exposição literária, intervenções artísticas, jogos e palestras. Além disso, a reapresentação das duas edições da Mostra Digital Marianense inaugura o Cinema na Biblioteca que, nessa quarta-feira exibiu o filme “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin, com atividades que se estendem do meio-dia até as 21h.

Em termos de atratividade da biblioteca, Alexandre considera fundamental distinguir os aspectos particulares do incentivo à leitura e do incentivo à literatura, ressaltando que não é interessante tentar atrair a juventude com a oferta de soluções antigas. “Todo mundo reconhece os louros e as virtudes de ler Machado de Assis, mas nós temos que entender que não se trata de um aprofundamento literário, se trata de um incentivo à leitura. E o incentivo da leitura é buscar o que já existe no coração de cada indivíduo”, destaca, acrescentando que é importante tentar explorar “quais são os esportes que eles mais gostam, os jogos que eles mais gostam, ou os temas que eles mais gostam. Enfim, a ideia é que a biblioteca se aproxime mais, fazendo seus trabalhos de reconhecimento do seu público, de sua comunidade literária, e não de oferecer aquilo que se considera de alto valor”.

Afromineiridades

Alexandre Amorim conceitua “Afromineiridades” como “um movimento ímpar de escuta e diálogo com mestres e mestras de culturas africanas provenientes dessa ancestralidade, de modo a balizar e criar novos diálogos sobre essa estrutura”, considerando que, essa discussão, “é uma questão de reconhecimento e salvaguarda do patrimônio cultural de Minas Gerais, que é bastante recente”, tendo sido iniciado apenas em 2022.

Para o bibliotecário, embora o tema seja  de extrema relevância, “até para o conhecimento mesmo, o melhor entendimento de nossas origens de cultura”, é importante ressaltar que ainda faltam incentivos para que se tenha um acervo robusto, e para que essa proposta de início de diálogo não caia no esquecimento, resultando em um conjunto de obras de referência que seja interessante para a comunidade marianense, possibilitando que todos os visitantes da biblioteca possam se aprofundar nesse assunto.

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Palestra é o ponto alto da Semana de Incentivo à Literatura

Moacir Maia, Adelina Nunes, J. B. Donadon Leal e Anício Chaves foram os convidados para a palestra sobre “Afromineiridades”, integrando a Semana de Incentivo à Literatura
Moacir Maia, Adelina Nunes, J. B. Donadon Leal e Anício Chaves foram os convidados para a palestra sobre “Afromineiridades” - Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Para falar sobre o tema “Afromineiridades”, a Biblioteca Municipal Benjamim Lemos convidou um time de respeito, composto por J. B. Donadon Leal, poeta, ensaísta, crítico de arte, professor emérito da UFOP e presidente da Academia Marianense de Letras; Anício Chaves, poeta, professor e compositor; Adelina Nunes, mestre em Educação pela UFOP, psicóloga, professora, escritora e integrante do Movimento Negro de Mariana; e Moacir de Castro Maia, historiador, doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, detentor do prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, autor dos livros “De reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais” e coautor com Aldair Rodrigues do livro “Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais no século XVIII, livro que inspirou o Carnaval da Viradouro, campeã do grupo especial do Rio de Janeiro este ano.

Cada um dos especialistas abordou o tema segundo uma ótica distinta. Anício Chaves, por exemplo, relembrou aspectos da vida dos escravos a partir de sua produção de Aldravias. Já Moacir Maia utilizou histórias de personagens que fizeram parte da vida de Mariana, para ressaltar a importância dos negros na formação da cultura e costumes locais.

Benedito Donadon, primeiro a falar para a plateia composta por estudantes, militantes do movimento negro e, inclusive, dois colunistas da Agência Primaz – Andreia Donadon Leal e Júlio Vasconcelos -, relembrou sua própria origem, resultado de duas diásporas, para falar de dois outros momentos relevantes da afromineiridade.

Eu trouxe aqui uma reflexão de dois golpes grandiosos no Brasil, que antecedem à formação de Minas. O primeiro, que é o golpe jesuítico, que de alguma forma fazia com que as culturas africanas fossem amalgamadas com a cultura portuguesa. E depois o golpe pombalino que fez com que as culturas africanas sucumbissem e elas fossem, de fato, substituídas pela cultura portuguesa”, destacou Donadon à reportagem da Agência Primaz.

Para o presidente da Academia Marianense de Letras, a escolha do tema da Semana de Incentivo à Literatura traduz a “ideia de fazer com que, nesse contexto todo de Minas Gerais, seja possível refletir um pouco sobre a sua própria história, a sua própria formação social, a sua própria formação cultural. E, dessa forma, chamar a atenção também para o plural, afromineiridades, já que se trata de alguma coisa que não é única”, uma vez que “nós temos povos que vieram de muitos lugares e muitas culturas se juntaram, inclusive, com as culturas dos povos originários que aqui estavam, deixando grande contribuição, por meio desse amálgama que fizeram, já tiveram que assumir uma cultura eminentemente portuguesa e católica”.

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Coube a Adelina Nunes (ao centro), pesquisadora e integrante do Movimento Negro de Mariana, o fechamento da palestra sobre “Afromineiridades”
Coube a Adelina Nunes (ao centro), pesquisadora e integrante do Movimento Negro de Mariana, o fechamento da palestra sobre “Afromineiridades” - Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Última a se manifestar, Adelina Nunes apresentou questões ligadas à sua militância e estudos relacionados às questões da sociedade com traços marcantes de falta de inclusão de negros e negras, inclusive no cenário marianense, abordando ainda alguns dos aspectos abordados pelos palestrantes que a antecederam.

À Agência Primaz, Adelina ressaltou a importância da inclusão do tema no evento. “Essa semana de incentivo à leitura é uma homenagem a Carolina Maria de Jesus, e acho que não é à toa que a gente ‘tá’ reunindo o estado inteiro ‘pra’ poder fazer esse incentivo, né? ‘Pra’ falar um pouco da importância da gente ter representações, e ter um referencial cultural positivo, fora da narrativa do colonizador, fora da narrativa da branquitude, que é esse olhar, que não é só a identidade do branco, mas também um olhar de normalidade”, destacou.

De acordo com a pesquisadora, “a literatura vigente é a literatura hegemônica e, não necessariamente, a literatura negra é a do negro, sendo possível reconhecer que tem uma parcela produzindo e que não tem espaço. Assim, a semana permite celebrar os escritores negros mineiros, mas também essa literatura, essa cultura afro-mineira, dentro de uma semana que movimenta o Estado inteiro. E ter Mariana nessa agenda, para discutir, para colocar isso em cena, eu acho fantástico, (…) para que se possa fazer uso de uma literatura que sirva de identificação positiva para a gente pensar pertencimento e identidade racial saudável”, ressaltou Adelina.

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