- Mariana
Encontro discute problemas e novo modelo de mineração
Programação contou com fortes relatos dos atingidos pela mineração, e discutiu a importância das assessorias técnicas e propostas de soluções para a questão da mineração na Região dos Inconfidentes
- Amanda de Paula Almeida
- 11/11/2023

O 5° Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração/5ª Jornada Universitária de Debate na Mineração foi realizado no Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) da UFOP, de 06 a 08 deste mês. Organizado pela Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG), o evento contou com diversas mesas de debates, minicursos e exibição de documentário, com a presença de movimentos sociais e estudantis; coletivos de atingidos; entidades sindicais; equipes de assessorias técnicas independentes, e grupos de estudo, pesquisa e extensão.
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5° Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração/5ª Jornada Universitária de Debate na Mineração
Realizado desde 2019, o Encontro e a Jornada têm como objetivo aproximar a comunidade acadêmica da UFOP do território em que ela se insere. “A importância do evento é de aproximar as entidades, os movimentos sociais, entidades sindicais, movimentos sociais coletivos dos diretamente atingidos. É aproximar os diferentes sujeitos que estão na luta, nós precisamos dialogar cada vez mais”, explica Katiuça Bertollo, professora do curso de Serviço Social da UFOP e membro da FLAMa-MG.
A professora destaca também a importância do evento acontecer dentro da Universidade em uma cidade com territórios gravemente atingidos pela mineração e seus desdobramentos. “Vamos tentando aproximar cada vez mais a Universidade ao contexto em que ela se insere, que é muito preponderantemente tomado pela mineração extrativista, pelas suas formas violentas de acontecer, então a importância desses eventos é aproximar a Universidade da comunidade, trazer a comunidade pra dentro para ensinar, para nos potencializar teoricamente a partir dessa prática de extrema violência que eles vivenciam dia após dia”.

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Denúncias contra a mineração

Durante o evento, os participantes fizeram denúncias graves ao comportamento das mineradoras na região, como a contínua falta de reparação integral aos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão e a exposição dos moradores de diversos distritos de Mariana e Ouro Preto à má qualidade da água, do ar e do solo.
No último debate do evento, intitulado “Alternativas econômicas em territórios minerados: Ênfase na agricultura familiar”, teve a participação de Marisa Singulano, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFOP; José Nascimento de Jesus (Zezinho), agricultor de Bento Rodrigues, e Marlene Gomes da Silva, agricultora residente em Amarantina, distrito de Ouro Preto.
Marisa Singulano apresentou gráficos com dados sobre o impacto da mineração extrativista na região de Mariana e Ouro Preto, apresentando possíveis soluções a partir do aumento da produção e comercialização da agricultura familiar. Por sua vez, ‘Zezinho’ comentou sobre a perda da sua fazenda e tudo que havia sido construído por várias gerações da sua família pelo rompimento da barragem de Fundão e a falta de uma reparação integral. “Isso é um absurdo, por isso que eu falo: são criminosos, assassinos! Não gosto de mineração, desde quando eu trabalhava na Alcan. Eu fazia muito contrariado. (…) Por que Mariana é a favor da mineração? [Por] Dinheiro. Mariana não tem prefeito, não tem vereador”, afirmou Zezinho.
Marlene da Silva expôs os danos à terra e às nascentes, bem como os problemas que a grande concentração de mineradoras e pedreiras causam em suas plantações, destruídas pela poeira dos caminhões das empresas que passam pela sua rua. De acordo com a agricultora, a fertilidade e saúde do solo são comprometidas pela mineração. “Nós estamos sufocados, sufocado até perante a comunidade, porque eles usam o argumento de pequeno prazo, as pessoas se iludem com uma festa, com um programa qualquer e esquece o que está acontecendo”, reiterou Bruno, genro de Marlene.
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Assessorias Técnicas Independentes (ATI’s)
Durante a Coletiva de Imprensa realizada no dia 1º de novembro, com membros da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), foi informado o possível fim do contrato da ATI de Mariana, representada pela Cáritas. Na terça-feira (07), no 5° Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração/5ª Jornada Universitária de Debate na Mineração, foram novamente abordadas as condições e a importância das Assessorias Técnicas Independentes nos territórios atingidos. No debate com o tema “A importância das ATI’s e dos movimentos sociais nos processos de reparação, compensação e repactuação nos territórios”, Anderson Ventura comentou sobre a ameaça de finalização do contrato de ATI da Cáritas, afirmando que a entidade está “com data prevista para desmobilização no dia 30 de novembro”, mas que ainda está sendo travada uma luta para a permanência no território.

“Sabemos que a reparação aqui em Mariana ‘tá’ muito distante de acabar ou de chegar no mínimo razoável ‘pra’ que as famílias possam ter autonomia de vida. No último trimestre, nós fizemos um pouco mais de 900 assessoramentos de famílias, no âmbito do reassentamento. Basicamente em 30% desses assessoramentos as moradias, que já estão prontas, encontram avarias severas que inviabilizam as pessoas a morar, como por exemplo, casa que não tem ralo na cozinha, casa que o teto cai quando chove. Tudo que vocês veem de propaganda, inclusive, a Renova está proibida de fazer propaganda, né? Porque elas são enganosas, e basta uma visita, né? Basta andar para entenderem um pouco mais como é difícil a vida daquelas pessoas que estão se mudando e parece muito bonitos de fora, mas dentro…”, finalizou Anderson.

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