A organização do festival acontece durante todo o ano, envolvendo todos os alunos da Escola Estadual João Ramos Filho

O VII Festival de Teatro Comunitário de Mariana (Festeco) lotou os espaços da cidade na última semana de setembro, composto por diversos espetáculos e oficinas relacionadas ao teatro. De 24 de setembro a 1º de outubro, alunos da Escola Estadual João Ramos Filho, artistas e grupos convidados apresentaram peças – clássicas e autorais – no Cine Theatro, ICHS, Sagarana, Jardim, Centro de Convenções e na Sede São Sebastião em Passagem. O festival atraiu ótimo público já nos primeiros dias.
*** Continua depois da publicidade ***
***
Juliana de Conti, principal organizadora e idealizadora do festival, ficou satisfeita com o resultado da edição deste ano. “Nós tivemos uma plateia muito generosa, que lotou o teatro todos os dias. Até ficaram muitas pessoas em pé, é muito bonito a gente ver aquela fila. Tinha hora que eu olhava assim o Jardim e ele vazio, e o teatro lotado”, comemorou. A meta do festival comunitário, diz Juliana, é oferecer acesso à arte e à cultura na cidade, já que vê o Cine Teatro sendo usado para reuniões e palestras e muito pouco para fins teatrais.
Ver Mais

Novos vereadores: Conheça Samuel de Padre Viegas

Evento na UFOP celebra riqueza da música e cultura africana

Começou o Carnaval 2025 em Mariana
Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.
Estudantes
Os atores e as atrizes que compuseram a Fase Estudantil do festival são todos da Escola Estadual João Ramos Filho, do bairro Cabanas, com todos os espetáculos estudados e elaborados por eles próprios, pensando na iluminação, cenário e direção, “tudo vinda gloriosa dos alunos”, diz Juliana. Para ela, a autonomia e a iniciativa de organizar um espetáculo é muito importante, principalmente após o período de pandemia da Covid-19, em que a juventude “fica muitas vezes cristalizada no celular”.
No processo de criação, os alunos do primeiro ano do Ensino Médio precisam conhecer os textos clássicos e a turma precisa ser mais dirigida. Já os alunos do segundo e terceiro possuem mais autonomia e se separam em funções, como direção, iluminação, sonorização e maquiagem. No terceiro ano, existe também a responsabilidade de criar o próprio espetáculo e se encarregarem também da direção teatral.
A turma do primeiro ano da escola apresentou a peça “Ensaio para uma revolução”, uma adaptação de Augusto Boel, dirigida por Hayslan Rodrigues; o segundo ano encenou “Vestido de Noiva”, um clássico de Nelson Rodrigues; e o terceiro a peça “Glória em Fim”, escrita pelo estudante Dyan Charles de Souza Gonçalves e dirigida pelos próprios alunos.
Além dessas, os alunos também apresentaram “Chaves del 8”, de Roberto Gómez Bolaños; “Uai Zé”, escrita por Juliana; e a dramaturgia brasileira “Namíbia, Não”, de Aldri Anunciação.
Uma das estudantes da escola, de 17 anos, que atualmente estuda no segundo ano, falou sobre o seu sentimento de participar do Festeco e como isso foi importante para o seu crescimento pessoal. “Você se compromete com uma coisa, você precisa ter ali a organização, precisa ter comprometimento, ao mesmo tempo que é uma coisa muito legal. É uma coisa que você se diverte, se expressa, interage com outras pessoas” afirmou. Ano passado e este ano, ela interpretou papéis principais nas peças “Roque Santeiro” e “Namíbia, Não”, além de levar o prêmio de Melhor Atriz na premiação da edição do Festeco de 2023.
Porém, para ela, o que importa mais que o prêmio é a sensação de se expressar. “O melhor não é o troféu. O melhor é a sensação de você estar viva, de você apresentar uma coisa para pessoas de verdade. Isso daí é recompensa”, declarou. A aluna do segundo ano já tem ideias para o festival do próximo ano, quando será o momento de a turma criar a própria peça, e deixa um recado: “Se expresse. Não tenha medo de se expressar, faça muita arte, descubra coisas diferentes, saiam da zona de conforto, porque vai ser incrível”.
Construção e recurso financeiro
O festival começa a ser planejado, geralmente, após o carnaval, com debates e buscas por criações coletivas, e o recurso financeiro começa a ser procurado em março, para que os alunos possam pensar em cenários e figurinos o quanto antes. Neste ano, as mudanças políticas dificultaram o processo. “A gente tinha conseguido uma Lei Rouanet, já ‘tava’ com a empresa, toda certinha, só que pela instabilidade política a empresa não quis continuar com o projeto. A proposta era uma reforma no Sesi e a realização do Festeco. Vinha em um montante de uns 500 mil reais para o município, no entanto, pela instabilidade política, a gente perdeu esse recurso, então a gente teve que recorrer à prefeitura”, informou Juliana.
Ela afirmou que, embora tenha havido boa vontade da nova gestão, a burocracia dos processos dificultou o repasse. “A gente teve que investir antes, acreditar que o recurso ia chegar, porque senão não ia ter nem propaganda, nem nenhuma outra forma de divulgação. Muita gente ainda reclama que foi muito em cima da hora a divulgação, mas a gente fez o máximo que deu, de acordo com a data que o recurso saiu para nós”.
A professora espera que esse processo seja diferente no próximo ano, com a organização iniciada o quanto antes para que seja possível atingir diversas escolas da cidade. “A gente trabalha com Festeco o ano inteiro, a realização do evento é só um momento crucial, que finaliza um projeto de longo prazo”, afirmou.
*** Continua depois da publicidade ***
Qual o lugar do teatro?
“Tem muitas pessoas que falam que não gostam, que não querem apreciar esse tipo de arte, [mas] a gente sabe que é no teatro que nascem os grandes atores e atrizes para os grandes filmes, séries, novelas, e o teatro é a base de tudo isso”, afirmou Juliana em uma reflexão sobre a valorização e a adesão das pessoas à arte teatral. Ela chamou a atenção para a mudança na perspectiva e na postura dos estudantes depois de encenarem sobre os palcos. “A gente observa como os estudantes mais tímidos desabrocham com o teatro. Mais do que isso, acabam mudando a atitude deles na vida. Então é muito importante esse trabalho do teatro que trabalha a mente também, a consciência”.

A adesão do público também é muito satisfatória, assim como ver a plateia e os alunos debatendo sobre as peças e as questões abordadas nelas. “Não é qualquer peça que agrada. Tiveram peças na Fase Nacional que eles adoraram, tiveram peças que eles não gostaram. Porque já existe uma consciência crítica, né? Um senso crítico deles que não aceita qualquer coisa também”, afirmou.
O recebimento de artistas de fora da cidade na Fase Nacional, com certeza, é algo marcante e característico do festival, principalmente neste ano, em que vieram artistas colombianos e chilenos. O objetivo, agora, diz Juliana, é expandir cada vez mais, com mais recursos e mais parcerias para a América Latina para que se crie a “cara de um teatro comunitário latino-americano”.

***