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Hoje é domingo, 19 de maio de 2024

Taxa de evasão de estudantes da UFOP sobe para 21% em Mariana

Relatório aponta aumentos dos aluguéis como principal causa de abandono dos cursos em Mariana.

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Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) teve forte evasão de estudantes
Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) - Foto: Daisy Pereira/Agência Primaz

O relatório anual de atividades de 2022, elaborado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e, apresentado na Reunião Ordinária da Câmara Municipal na segunda-feira (20), mostra que o índice de evasão de estudantes nos cursos ofertados nos dois campi de Mariana chegou a 21% no ano letivo anterior. A principal causa do abandono, de acordo com o estudo, são os custos elevados de aluguéis na cidade e a dificuldade de se manterem financeiramente.

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Para o desenvolvimento do relatório foi criada uma Comissão de Políticas de Graduação com representantes dos Núcleos Docentes Estruturantes e Colegiados de Curso. O objetivo da pesquisa proposta pela UFOP foi o de apontar as questões relacionadas à evasão dos estudantes e propor uma reflexão sobre possíveis soluções para o problema do alto custo dos aluguéis.

A soma dos números de alunos da UFOP nos campi de Mariana – Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) e Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) –, em 2022, superava 3 mil pessoas fomentando a economia local, mas cerca de 20% desses estudantes são considerados em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Estudante do 7º período do curso de Jornalismo da UFOP, Ana Flávia Domingos precisou se mudar no começo deste ano, devido ao fim do contrato da sua antiga moradia. Em entrevista concedida à reportagem da Agência Primaz, Ana Flávia relatou que teve muita dificuldade para encontrar um novo lar, devido ao alto custo das locações. “Quando eu e as meninas, que dividiam a casa comigo, fomos procurar outros lugares para morar, tivemos muitas dificuldades, pois era começo do período [letivo] e os valores dos aluguéis da cidade estavam exorbitantes”, afirmou.

A solução para a estudante foi dividir o aluguel de um apartamento, mas o valor continuou caro. “Mesmo com essa divisão, os valores continuam altos, porque a maioria dos lugares que encontramos, são casas/apartamentos com quatro cômodos em um valor mínimo de mil reais. Acredito que esses valores, são primordiais para a permanência do universitário na cidade, mesmo com o apoio financeiro da Universidade”, destacou a futura jornalista.

Estudante de Jornalismo, Ana Flávia teve dificuldades em encontrar moradia

Dados sobre a evasão e baixa taxa de inscrições

Segundo a UFOP, no primeiro semestre letivo de 2022, 1.669 discentes estavam matriculados nos cursos oferecidos pelo Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA), número que caiu para 1.471 no segundo semestre, totalizando menos 198 estudantes matriculados na graduação. Em outras palavras, segundo o relatório, não somente a taxa de evasão foi afetada, mas também houve redução da taxa de matrículas.

No Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), a evasão de estudantes chegou a 21%
Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) - Foto: Divulgação/Universidade Federal de Ouro Preto

Atualmente, no ICHS, são 921 estudantes matriculados, 236 deles ingressantes em 2022 foi de 236, o menor número dos últimos 10 anos. Desses, 234 são atendidos por bolsa permanência oferecidas pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (PRACE).

Além disso, foi observada uma queda de 42% das inscrições do Sistema de Seleção Simplificada (SISu) no cenário nacional, de 2015 para 2022. De acordo com dados do Ministério da Educação, houve redução de 41% das inscrições da UFOP. Com isso, a taxa de ocupação das vagas do ICHS sofreu impacto em todos os cursos em 2022.

Aumento dos aluguéis

Para Aurélio Weber Lage, corretor e proprietário da AW Imobiliária, o mercado de imóveis para locação, em Mariana, está extremamente aquecido, devido à retirada de várias famílias de seus distritos (Bento Rodrigues e Paracatu), trazidas para Mariana pela Fundação Renova e pela Vale, causando alta especulação dos preços por parte dos proprietários e imobiliárias. “Com isso, eles alugaram imóveis fora do valor, fora da curva, e isso levou a especulação dos valores para cima. Acontece a lei da oferta e procura, que faz com que o valor do aluguel suba muito”, afirmou Aurélio em contato com a Agência Primaz.

Outro fator apontado pelo corretor são as locações realizada por empresas prestadoras de serviços no município. “Além disso, várias empresas que foram prestar serviço para a Samarco e Fundação Renova, alugaram diversos imóveis para os seus funcionários. A pressão para a alta dos aluguéis foi de todos os lados. Nós vemos, hoje em dia, que devido a isso, os estudantes estão tendo dificuldades”, destacou o corretor.

Segundo Aurélio a procura está muito alta, há poucas ofertas de imóveis, e os valores continuam altos, mas a expectativa é de que ocorra uma baixa após as famílias ocuparem o Novo Bento e o Novo Paracatu: “Nós do mercado imobiliário estamos ansiosos por isso, esperando essa baixa, é melhor trabalhar dentro da curva, do valor de mercado real, tanto para nós quanto para os locatários”, finalizou.

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Soluções para o aumento dos aluguéis e evasão dos estudantes

FErnando Sampaio (centro), Marcelo Macedo (esquerda) e Zezinho Salete, durante reunião da Câmara que discutiu a questão da evasão de estudantes da UFOP
Presidente da Câmara, Fernando Sampaio em reunião ordinária - Foto: Larissa Viana/Câmara Municipal de Mariana.

Na reunião ordinária da Câmara de Mariana, realizada em 20 de março, o Presidente da Câmara, Fernando Sampaio (PSB), afirmou que realizou uma reunião com Vanessa Campolino Horta, promotora do Estado de Minas Gerais e representantes do ICSA e ICHS para discutir a situação e pensar em soluções.

Em plenário, Fernando Sampaio nomeou uma comissão para averiguar a questão, em profundidade, e elaborar novo relatório, em conjunto com as secretarias municipais, com o intuito de levantar o que Mariana pretende ter como compensação da Renova e de outras mineradoras que trabalham no município, sendo nomeados os vereadores Marcelo Macedo, José Antunes Vieira e Manuel Douglas.

O objetivo da Comissão de Políticas de Graduação da IFOP é abrir possibilidades de debates e discussões a respeito do que pode ser feito para que a taxa de evasão não aumente mais, as taxas de matrículas não caiam e os estudantes se sintam mais acolhidos e estimulados.

De acordo com o relatório, “É urgente a instituição de uma política de estímulo e facilitação de acesso dos estudantes de escolas públicas da Região dos Inconfidentes na UFOP. Tal política carece de investimento por parte da Administração Superior (em especial, da Prograd e da Proex), no sentido de firmar parcerias com as prefeituras de Mariana e de Ouro Preto, Itabirito e Ouro Branco, construir diálogos com as escolas e intensificar as matrículas desses alunos. É necessário utilizar a estratégia de cotas para esses estudantes e, fundamentalmente, divulgar a UFOP nas escolas públicas”.

Entre as estratégias para estimular os estudantes estão o desenvolvimento de ações permanentes de recepção e acolhimento dos estudantes calouros; o desenvolvimento de ações permanentes de acompanhamento e de orientação dos estudantes (Mentoria) em relação às vidas acadêmicas; a busca de engajamento do movimento estudantil e das empresas juniores na implementação de um cursinho popular e de uma agenda cultural mais intensa; a discussão sobre ampliação da graduação no Instituto, novos cursos, novas formações. A parte do relatório referente ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) pode ser acessada aqui.

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