- Ouro Preto
Moradores expõem problemas na Vila Universitária: “A gente é invisível para a UFOP”
Mofo, problemas elétricos e escorpiões fazem parte da rotina na moradia socioeconômica
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Os problemas na Vila Universitária, nas moradias socioeconômicas estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto, estão muito além da cobrança da conta de energia. Infraestrutura precária, falta de segurança e risco com animais peçonhentos estão entre os problemas relatados pelos moradores das casas que ficam a 200m de uma das entradas do campus Morro do Cruzeiro.
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O que era para ser uma garantia de sobrevivência longe de casa, com o mínimo de conforto para manter os estudos, tem se tornado mais uma fonte de problemas para os estudantes alojados nas moradias socioeconômicas da UFOP, tanto do campus Ouro Preto quanto de Mariana. Entregues em 2016, as casas mobiliadas passaram por poucas manutenções desde então, gerando transtornos aos moradores. “Chuveiro, por exemplo, é algo que na minha casa não dura. São quatro chuveiros no banheiro de cima e quatro no de baixo, mas que estão funcionando mesmo são só dois, um em cada banheiro”, relata Rennan, morador da Casa 8 e estudante que depende dos auxílios garantidos pela universidade.
As moradias são destinadas a estudantes em vulnerabilidade econômica, que não possuem condições de morar em casas alugadas ou repúblicas. Para concorrer a uma vaga, os alunos passam por um processo de avaliação feito pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (PRACE) da universidade. Contudo, segundo os moradores, não há critérios de avaliação evidentes para aqueles que necessitam da bolsa, sendo um empecilho, inclusive, na contestação da classificação de cada aluno. De acordo com estudantes, a categoria socioeconômica em que foram classificados muitas vezes não condiz com a realidade atual. Além disso, uma moradora acrescenta que, antes de mudar para Ouro Preto, trabalhava de carteira assinada, e sua renda era maior. Mas ao pedir para ser reavaliada pela PRACE, foi surpreendida pela resposta de que sua categoria não havia mudado, mesmo não recebendo mais o salário do antigo emprego.
Rennan faz um desabafo à reportagem da Agência Primaz, dizendo estar cansado com toda a situação vivida. “A verdade é que a gente é invisível para a UFOP. Ela sabe que tem o gasto com a gente, ela quer diminuir esse gasto o máximo possível, e ela não conversa com a gente. O próprio regulamento disponível no contrato não é cumprido, a gente não tem vigia, como vocês viram. Quem quiser entrar aqui pode entrar, tanto que tem situação de furto nas casas”, aponta o estudante.


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Caso Josué expõe problemas nas moradias
Em setembro deste ano, o caso do estudante Josué ganhou repercussão após o aluno enviar um e-mail a todo corpo discente da Universidade. Apesar do tom cômico alcançado pela mensagem, o e-mail expunha lacunas referentes ao processo de moradias estudantis, porque o estudante estava sem poder estudar por não ter condições de se manter longe de casa. Contudo, Rennan afirma que esse e-mail foi usado pela UFOP como uma “cortina de fumaça”, para esconder problemas mais sérios das moradias.
Petrus Curiel Rigotti, estudante do curso de Museologia e morador da Casa 8, expõe a dificuldade que é fazer solicitação à UFOP para arrumar algum problema estrutural. “No começo estava tudo certo, as casas novinhas, a PRACE cumpriu com o que foi determinado. No entanto, com o decorrer dos anos, começaram a aparecer os problemas nas casas, e nisso a gente fez solicitações para a UFOP constantemente, mas ela falava que tem que fazer solicitação, mandar ‘pra’ prefeitura do campus para avaliar, mas não resolveram nada”, conta o universitário.
A Agência Primaz pôde averiguar que as casas apresentam grandes problemas, como quartos com grande quantidade de mofo, infiltrações nas paredes e tetos dos banheiros, pisos soltando, falta de pintura, eletrodomésticos estragados e acumulados por não haver recolhimento, camas mofadas que não servem mais para uso, mas que estão guardadas nos depósitos porque não foram recolhidas, entre outros problemas já apresentados.
De acordo com os moradores, o termo que assinam quando são designados para as moradias pela PRACE, deixa explícito, pela resolução do Conselho Universitário (CUNI), que é proibido fazer qualquer tipo de manutenção estrutural nas casas que passe de um terço do valor da bolsa, mas não especifica a qual quantia se refere.
Ao contrário das repúblicas federais que tem um contrato de consórcio com a universidade e podem fazer reparos e mudar estruturalmente as casas, os estudantes da Vila Universitária não possuem a mesma liberdade e são veemente proibidos de fazer festas ou vender produtos visando arrecadação dinheiro para manutenção. Caso façam algo, pode gerar até mesmo a expulsão do indivíduo. Como não há uma solução de problemas pela própria universidade, os estudantes ficam sem saber como resolver os problemas.

Cortes orçamentários impossibilitam reformas em 2022
Procurada pela Agência Primaz, a Pró-Reitora de Assunto Comunitários Estudantis (PRACE), Natália Lisbôa, informou, via Assessoria de Comunicação Institucional da UFOP (ACI), que, “para este ano, em razão dos cortes orçamentários, não temos previsão para reformas e aquisição de eletrodomésticos”. Sobre Josué, a PRACE informou que “no caso citado, ele não pôde participar dos editais desse semestre pois estava com a matrícula trancada”.
Já a Prefeitura do Campus, também por meio da ACI, informou que, desde 2016, a UFOP teve redução de seu orçamento, que, de R$61,6 milhões em 2016, foi para R$55,5 milhões este ano. A universidade reduziu a aquisição de insumos e contratação de serviços, o que impacta diversos setores, entre eles as moradias. Com a retomada dos trabalhos presenciais pós-período pandêmico, a situação ficou um pouco mais grave, considerando o crescimento da necessidade de manutenção em vários setores da UFOP, especialmente as salas de aula, que estavam fechadas, e sofreram readequações para a retomada.
Veja mais imagens na galeria abaixo (Fotos: Isabela Vilela/Agência Primaz).







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