- Ouro Preto
Pesquisadoras da UFOP vencem maior competição de biologia sintética do mundo
Conheça o projeto e as estudantes da equipe medalha de ouro em Paris
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Duas alunas da Universidade Federal de Ouro Preto, integraram a equipe vencedora da maior competição internacional de biologia sintética do mundo. Concorrendo com renomadas instituições internacionais, a equipe brasileira foi medalha de ouro com o projeto ProChi, desenvolvido com apoio de Beatriz Helena Orlandi de Deus e Laene Abreu Schreiber, graduandas da UFOP.
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O iGEM Global (International Genetically Engineered Machine), é o maior concurso de biologia sintética do mundo. O objetivo do concurso é responder os principais dilemas da sociedade, através do uso da tecnologia e da inovação. Organizada pelo MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), desde 2003, o concurso, que já reuniu 70 mil participantes, é formado por pesquisadores juniores e seniores e industriais de múltiplas especialidades e de diferentes países. A competição é assistida por investidores, que já apoiaram a criação de cerca de 100 startups originadas do iGEM.
Liderado por mestrandos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a equipe UFMG UFV Brazil de biologia sintética possui 18 membros das universidades federais do ABC paulista e da cidade mineira de São João del Rei e Viçosa, além de estudantes da UFMG e da UFOP. Com o ProChi, projeto campeão, o time tem como propósito diminuir o número de doenças infecciosas causadas por parasitoses provenientes da ausência de saneamento básico.
Esse ano, o concurso aconteceu na cidade de Paris, na França, entre os dias 26 e 28 de outubro. Apesar do auxílio financeiro dado por empresas e universidades, além de uma vaquinha on-line organizada pela equipe, alguns membros, como Beatriz, não puderam participar da premiação presencialmente. Os gastos, entre inscrições dos membros, deslocamentos e concepção de parte do projeto, chegaram a mais de R$90 mil reais. “Porém viajar ainda sim dependeria de um gasto individual muito alto que no momento eu não conseguia arcar”, explica Beatriz à Agência Primaz.

Apesar de não estar presente na competição, Beatriz conta como foi saber que o projeto em que fez parte foi o grande vencedor. “Foi muito gratificante, é muito bom ver que algo que você contribuiu tomar proporções inigualáveis”, comemora. Laene, uma das líderes do time, celebra o título que alçou o Brasil a importantes patamares no meio científico internacional. “Esses resultados que a gente teve foram resultados muito bons para equipes brasileiras, que querendo ou não, não conseguem ter tanto sucesso na competição por falta de apoio, por falta de um sistema próprio para competição”, completa.
Mesmo com a conquista da medalha de ouro, Laene narra os percalços na trajetória do projeto, que precisou ser refeito por completo no último ano. A pesquisa inicial, segundo ela, era de tamanha complexidade que dificultava a seleção para o prêmio. Apesar de se tornar o grande campeão, o ProChi também enfrentou dificuldades em ser realizado. Dentre elas, Laene comenta que uma das principais matérias primas não pode ser utilizada. “Um dos insumos que a própria competição manda para nossa equipe ficaram presos na ANVISA e isso prejudicou um pouco o nosso projeto científico”.
Junto à premiação principal, a equipe também foi vencedora da categoria “Melhor Hardware”, com a apresentação de um biorreator de baixo custo. O time brasileiro também recebeu três indicações, sendo considerado um dos melhores projetos nas categorias de Inclusão, Terapêutica e Impacto de Desenvolvimento Sustentável.
Projeto vencedor é voltado a comunidades vulneráveis

O ProChi, projeto ganhador, é um probiótico formado por organismo geneticamente modificado (OGM), capaz de combater os principais problemas relacionados às verminoses, doenças que atingem, principalmente, moradores de localidades com ausência de saneamento básico.
As parasitoses são doenças infecciosas causadas por vermes presentes nas fezes humanas, muitas vezes em forma de ovos. Em áreas com falta de infraestrutura de tratamento de água e esgoto, o solo e as águas de rios, lagos e riachos são contaminadas com o despejo indevido dos dejetos. Em contato com a água contaminada, os humanos são infectados, alimentando o ciclo de contaminação pelo parasita.
A doença atinge, que atinge o trato gastrointestinal, diminui a capacidade de absorção de nutrientes, levando a casos de desnutrição. Atingindo em especial crianças e adolescentes, culminando em defasagens de desenvolvimento físicas e psicológicas. O projeto ganhador do prêmio internacional, tem como objetivo matar, tanto os vermes adultos quanto os ovos, melhorando a assimilação dos nutrientes pelo corpo. “Além disso, ele trataria os danos causados pelos vermos por ele ser um probiótico. Então seria uma abordagem bem mais ampla de saúde, não ia só acabar com a doença, mas restaurar a saúde intestinal da pessoa contaminada”, explica Laene à Primaz.
O ProChi, projeto ganhador, é um probiótico formado por organismo geneticamente modificado (OGM), capaz de combater os principais problemas relacionados às verminoses, doenças que atingem, principalmente, moradores de localidades com ausência de saneamento básico.
As parasitoses são doenças infecciosas causadas por vermes presentes nas fezes humanas, muitas vezes em forma de ovos. Em áreas com falta de infraestrutura de tratamento de água e esgoto, o solo e as águas de rios, lagos e riachos são contaminadas com o despejo indevido dos dejetos. Em contato com a água contaminada, os humanos são infectados, alimentando o ciclo de contaminação pelo parasita.
A doença atinge, que atinge o trato gastrointestinal, diminui a capacidade de absorção de nutrientes, levando a casos de desnutrição. Atingindo em especial crianças e adolescentes, culminando em defasagens de desenvolvimento físicas e psicológicas. O projeto ganhador do prêmio internacional, tem como objetivo matar, tanto os vermes adultos quanto os ovos, melhorando a assimilação dos nutrientes pelo corpo. “Além disso, ele trataria os danos causados pelos vermos por ele ser um probiótico. Então seria uma abordagem bem mais ampla de saúde, não ia só acabar com a doença, mas restaurar a saúde intestinal da pessoa contaminada”, explica Laene à Primaz.

O outro projeto, campeão na categoria “Melhor Hardware”, consiste em um biorreator para a produção dos OGMs. Com valor de fabricação abaixo do praticado no mercado tradicional, o equipamento irá diminuir os custos de comercialização dos probióticos, auxiliando na disseminação do ProChi para zonas carentes.
Devido à falta de saneamento, as comunidades indígenas são uma das mais afetadas pela infecção por parasitas. Como parte do projeto, a equipe realizou ações de conscientização na comunidade Xakriabá, localizada no norte de Minas, para entender a realidade e possibilidades de controle das verminoses. Com o apoio de uma vaquinha on-line, a equipe de biologia sintética pretende expandir sua aproximação com a sociedade, a partir da observação de problemas locais e campanhas educativas.
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Quem são as jovens pesquisadoras da UFOP

Laene Abreu Schreiber, de 19 anos, entrou para a equipe antes mesmo de se tornar graduanda de Medicina na UFOP. Ainda em 2018, a adolescente ingressou no curso técnico em Química no Coltec, Colégio Técnico da UFMG, quando conheceu a biologia sintética. Dois anos depois, em 2020, após assistir um congresso sobre o tema, Laene descobriu que a universidade mineira se preparava para criar um clube de pesquisas na área. Mesmo ainda cursando o ensino médio, Laene demonstrou interesse em participar da seleção, e passou a integrar a recém-criada equipe.
Membro do setor de Práticas Humanas, Laene atua mediando o contato da equipe com ONGs, Ministério da Saúde e pesquisadores, apresentando e recebendo feedbacks de especialistas na área sobre o ProChi. A estudante é responsável também por intermediar o diálogo do time junto às comunidades, propondo atividades científicas e educacionais.
Sobre a sensação de liderar uma equipe vencedora de um concurso internacional, Laene exalta a felicidade em experienciar o saber científico fora das salas de aula. “Foi muito legal ter essa experiência para adquirir know-how sobre outras áreas que não são só área acadêmica necessariamente […] teve muita coisa que a gente aprendeu que vai além de um conhecimento técnico”, explica a graduanda.
A universitária, que esteve em Paris para o concurso, narra que estar ali a motivou a pensar em projetos futuros. “Participar da competição e ir lá presencialmente, conhecer os outros projetos, conhecer toda a dinâmica faz você querer participar todos os anos. É incrível! É totalmente incrível. Os projetos são incríveis, é tipo fantástico! É tudo fantástico! Por isso, claro, que não consigo parar de pensar em novos projetos”.

Beatriz Helena Orlandi de Deus, de 19 anos, é graduanda em Ciência da Computação e é formada como técnica em Automação Industrial pelo IFMG, o que lhe conferiu habilidades em robótica e tecnologia. A estudante conta que ingressou no time após conhecer Laene, que já fazia parte da equipe e a convidou após descobrir suas habilidades no meio computacional. Apesar da experiência, a estudante ressaltou à reportagem da Primaz que nunca tinha se envolvido com a área de biologia sintética.
Beatriz explica que sua função na concepção do projeto se deu através de seus conhecimentos em desenvolvimento de web, auxiliando na construção e manutenção do site. “Contribuí com a Wiki, que é o site onde é preciso estar documentado todo o processo da pesquisa para a avaliação na competição, e pra mim foi muito interessante e agregador ver a tecnologia sendo aplicada também nessa área”.
As integrantes ufopianas da equipe almejam alçar caminhos em suas especialidades, mas confessam querer poder associá-las aos estudos realizados durante a criação do ProChi. Agora indo para o 3º período do curso, Beatriz relata que o futuro ainda é incerto sobre a área que pretende prosseguir, mas que tem interesse em estudar sobre inteligência artificial. “Mas se algum dia tiver oportunidade de trabalhar com tecnologia nessa área [biologia sintética] vou adorar”, pondera Beatriz.
Com uma longa trajetória na área, apesar da pouca idade, Laene diz que sua história na área não será findada com a conquista do prêmio. Ainda no início do curso de medicina, a universitária não definiu a especialidade na saúde, mas sabe que o braço social, como o que desenvolve na equipe, fará parte do seu futuro. Sobre os próximos passos na biologia sintética, ela planeja: “Eu ainda não sei como e não sei como isso se comunica com meus outros projetos de vida. Mas eu tenho sim muito interesse. É uma coisa que, não sei, me desperta uma paixão. E eu não acho que eu conseguia ficar sem”.
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