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Hoje é domingo, 19 de maio de 2024

Fórum da Secretaria de Educação de Mariana promove debates sobre inclusão e diversidade

Com palestras e oficinas no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFOP, o evento tratou temas de forma ampla, abrangendo desde a educação de alunos com deficiência até conflitos na adolescência

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Fórum da Secretaria de Educação de Mariana promove debates sobre inclusão e diversidade
Mesa de abertura do Fórum Municipal de Educação Inclusiva e Diversidade, com a advogada Daniele Avelar, os professores Luciano Campos (UFOP) e Marco Antônio Melo Franco (UFOP), e a mediadora Luciene Maria de Oliveira (SME). Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz
Realizado nos dias 26 (sexta-feira) e 27 (sábado), o Fórum Municipal de Educação Inclusiva e Diversidade promoveu uma série de discussões quanto às suas temáticas, voltando-se aos professores do ensino básico, recebendo também pais e alunos. O evento foi realizado pela Secretaria de Educação de Mariana e contou com a parceria da 25ª Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais, e do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (Ichs) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde as atividades foram realizadas.

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Elizabeth Araújo está na Secretaria de Educação de Mariana desde 1996, atuando na área de história. Além disso, trabalha na coordenação de apoio à educação inclusiva há sete anos. Ela explica que o evento foi pensado para discutir a inclusão não somente de pessoas com deficiência nas escolas regulares como também de todos os sujeitos que precisam de algum tipo de acolhimento. Elizabeth revela que neste ano, foram recebidos na rede municipal de ensino alunos venezuelanos e afegãos, situação que indica a necessidade de inclusão, assim como em casos de alunos em vulnerabilidade social, com transtornos de aprendizagem, e aquelas que passaram por violências. Ela cita a meta quatro do Plano Nacional de Educação voltada à inclusão, e destaca a necessidade de ações de formação continuada e parcerias com universidades locais no município e para além dele.

Ao longo dos dois dias, pesquisas acadêmicas, práticas educativas e vivências pessoais se uniram, proporcionando um ambiente rico em exposições e debates, contando com a participação voluntária de palestrantes e oficineiros, que interagiram e trocaram conhecimentos com os participantes do evento. Na abertura, realizada na noite de sexta, no auditório Francisco Iglesias, Carlene Almeida, secretária de Educação de Mariana, Juliano Duarte, presidente da Câmara Municipal, e Fabrício Nepucemo Bicalho Santos, superintendente da 25ª Superintendência Regional de Ensino de Ouro Preto, falaram ao público sobre as conquistas e desafios na promoção da inclusão e da qualidade de ensino em Mariana e região.

Afastado do cargo de prefeito em junho, Juliano destacou projetos implantados durante sua gestão, citando a distribuição de kits inclusivos, a capacitação de servidores da área de educação, as reformas das escolas municipais Monsenhor José Cota e Professora Santa Godoy, a equoterapia, e o reajuste de salários de professores e R$ 500 de auxílio alimentação para os servidores do município. “Eu falo que inclusão e diversidade não envolve somente a educação, envolve a saúde pública, envolve o desenvolvimento social, envolve cultura”, declarou, antes de citar um projeto de criação de um centro de referência para os autistas, afirmando que crianças e jovens se deslocam para Itabirito a fim de receber encaminhamento adequado.

Carlene Almeida, Juliano Duarte e Fabrício Nepucemo Bicalho Santos falaram ao público sobre as conquistas e desafios na promoção da inclusão e da qualidade de ensino em Mariana e região. Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz

Após uma apresentação musical de Caio Martins Marcossi, aluno do 9º ano do Centro de Educação Municipal Padre Avelar (CEMPA), a mesa-redonda “Direito ao acesso e ao aprendizado dos alunos da educação especial na escola regular”, foi composta pela advogada Daniele Avelar e pelos professores Marco Antônio Melo Franco, e Luciano Campos, da UFOP, sob mediação de Luciene Maria de Oliveira (SME).

Mãe de um autista, Daniele deu ênfase ao desafio representado pelas barreiras estruturais, que passam pela invisibilidade histórica quanto aos sujeitos com deficiência. “Costumo dizer que nós estamos construindo a inclusão escolar a partir do momento em que a gente também está construindo uma sociedade inclusiva. Se não tivermos sociedade inclusiva, não teremos uma escola inclusiva, porque a escola é um reflexo de nossa sociedade”, afirma, complementando em seguida que o preconceito é o principal desafio a ser superado para a promoção de ações de inclusão, sobretudo quanto a alunos autistas, com deficiência intelectual ou com transtornos mentais. “A inclusão é construída com a modificação da principal barreira que a gente tem, que se chama barreira atitudinal. Se a gente quebra ela, a gente corre atrás do restante com a parceria família-escola-sociedade, mas se a gente esbarra com o sujeito que deixa claro que ali não é o seu lugar ou o lugar do seu filho, não há nada que a gente possa fazer, porque ninguém abre o coração e a cabeça daquela pessoa para ter sensibilidade com relação àquela situação”, afirma.

Conversas, reflexões e aprendizados

No seu segundo dia, as oficinas, rodas de conversa e minicursos cobriram uma vasta quantidade de temas. Produção de textos para o Enem e concursos públicos; flexibilização curricular e adequação de atividades; alfabetização e letramento; matemática para todos, foram algumas das atividades propostas na manhã de sábado. Os professores Reginaldo Silva e Vanessa de Paula partiram de suas pesquisas, realizadas no Programa de Pós-graduação em Letras, na UFOP, para promover reflexões sobre o letramento visual no processo de ensino e aprendizagem de alunos surdos. Alguns dos professores presentes relataram estar trabalhando no momento com estudantes com deficiência auditiva pela primeira vez em suas carreiras, o que os motivou a procurar a atividade. Já no minicurso promovido pela psicóloga Walkiria Ramos Peliky Fontes, foi abordada a temática das especificidades de alunos com transtorno de aprendizagem, passando pelo campo do direito no âmbito educacional, segundo a lei 14254/2021, que determina o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), além de outros transtornos de aprendizagem.

 

A psicóloga Ronnara Oliveira e a coordenadora pedagógica Gorete Oliveira durante a roda de conversa “Conflitos da adolescência”, com estudantes da rede municipal de ensino. Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz

Distinta das demais atividades, a roda de conversa “Conflitos da adolescência” recebeu um público muito mais jovem, formado por estudantes das Escolas Municipais Mainart e Dom Oscar de Oliveira. A psicóloga Ronnara Oliveira, coordenadora da atividade, explica que seu trabalho envolve aproximar adolescente e escola, de modo a lidar com os conflitos característicos dessa fase de desenvolvimento, tendo em vista também as diferenças geracionais que, muitas vezes, representam uma barreira para a compreensão de ambas as partes. Ela defendeu a inclusão de gerações como forma de respeito à diversidade em ambiente escolar: “A escola precisa repensar o seu olhar para o adolescente. Adolescente não é “aborrecente”. A gente precisa respeitar esse momento que eles vivem e dar a eles espaço de voz, porque se eu dou lugar de fala para o adolescente, ele se sente respeitado, ele se sente parte do contexto, e se o contexto é parte dele, ele se transforma positivamente”, afirma.

Durante a atividade, os estudantes se dividiram em grupos para discutir e apresentar suas opiniões quanto aos diversos assuntos que os atravessam em sua vivência nas escolas que frequentam. Acompanhando a atividade, Gorete Oliveira, parte da equipe de coordenação pedagógica da Secretaria de Educação em Mariana, afirmou que pretende levar os apontamentos para as escolas, a fim de dialogar com os alunos sobre assuntos como uniformização e comportamento no ambiente escolar.

 

Público do fórum, formado por professores, pais e alunos, durante a palestra de encerramento. Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz

A conclusão do evento, realizada no auditório G-20, contou com a palestra “Manejo pedagógico das neurodiversidades em ambiente escolar”, em que o filósofo e neuroeducador Carlos José Pires apresentou ao público ligações entre a atividade docente e a neurociência, afirmando a importância do ensino como fundamental ao exercício da inteligência dos alunos, além de defender a informação e a adaptação como meios para garantir a excelência no trabalho com a inclusão.

Antecipando uma nova edição do evento para o próximo ano, Elizabeth afirma o interesse em continuar a expandir as temáticas discutidas dentro do fórum, e defende o lugar ocupado pelo ensino público na defesa de uma educação inclusiva e diversa. “Ano que vem a gente quer outras temáticas, para além do que é essa diversidade que constitui o Brasil, tanto religiosa, quanto em relação ao gênero, pessoas com deficiência, em vulnerabilidade social, e tantas outras questões. É entender mesmo que as escolas públicas (e todas as escolas) deveriam ser pensadas para a diversidade, que cada um tem o direito ao aprendizado, respeitando as suas especificidades”, conclui.

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