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Hoje é segunda-feira, 20 de maio de 2024

Ex-Secretário de Obras: “Eu tenho uma memória muito limitada, bem fraquinha”

Em depoimento à CPI, Fábio Vieira usou o argumento de falta de memória para se esquivar das perguntas feitas a ele na tarde de quinta-feira (05)

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Fábio Fernandes Vieira, ex-Secretário de Obras, respondeu evasivamente à maioria das perguntas, alegando não se recordar dos fatos - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Fábio Fernandes Vieira, ex-Secretário de Obras e Gestão Urbana de Mariana, prestou longo depoimento à CPI das Obras nesta quinta-feira (05), na condição de intimado. Confrontado com as supostas irregularidades ocorridas na gestão de obras a cargo das empresas GMP e Israel, Fábio afirmou ter assinado as medições em cima da assinatura dos fiscais e do responsável pela fiscalização. Também confirmou ter conhecimento das subcontratações das obras e, para grande número de perguntas, alegou não se recordar. Na quarta-feira (04), a CPI ouviu a engenheira Camila Pessoa, reconvocada para novos esclarecimentos, e também representantes do consórcio CIMVALPI.

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Primeira parte do depoimento de Fábio Vieira

Acompanhado do advogado Leonardo Marinho Marques, o ex-Secretário de Obras e Gestão Urbana de Mariana, Fábio Fernandes Vieira, prestou depoimento à CPI das Obras nesta quinta-feira (05), na condição de intimado, devido às declarações anteriores de testemunhas que o apontavam como responsável pelas irregularidades investigadas pela CPI nos contratos de obras a cargo das empresas GMP e Israel. No início do depoimento, entretanto, Fábio Vieira afirmou só ter tido conhecimento dos fatos a partir do trabalho da comissão e negou ter autorizado o pagamento de obras não realizadas.

Pedrinho Salete (Cidadania), presidente da CPI, perguntou como o depoente explica o fato de ter sido pago o valor integral da reforma da escola no subdistrito de Magalhães, sendo que foi executada a troca das telhas. “Eu não fazia a fiscalização das obras, eu fazia a gestão do contrato. As medições chegavam pra mim para fazer o pagamento. Eu tenho conhecimento que foi feita uma obra lá, mas esse fato eu desconheço”, respondeu o ex-secretário.

Em relação à sua atuação como gestor de vários contratos, Fábio afirmou que isso é comum na administração pública, mas que contava com uma equipe de fiscalização que era encarregada do acompanhamento das obras.  “Isso é a praxe administrativa. Eu sou o gestor da Secretaria de Obras, que tem ‘n’ atividades. Especificamente, dentro da secretaria existe uma equipe de fiscalização de obras, com um chefe de fiscalização. Eles são responsáveis pelo acompanhamento das obras e das medições, e a gente processa os pagamentos em cima do que os profissionais fazem”, declarou.

O presidente da CPI, referindo-se aos profissionais contratados via CIMVALPI (Consórcio Intermunicipal Multissetorial do Vale do Piranga) perguntou ao depoente se essa equipe havia atuado tanto na Prefeitura quanto nas empresas investigadas. Pela terceira vez, Fábio pediu que a pergunta fosse repetida e respondeu que teve conhecimento do fato e que isso ocorreu por poucos dias, para permitir a conclusão das atividades em dezembro de 2020, por causa do encerramento do contrato com o consórcio. “O que eu tenho conhecimento é que a equipe que trabalhava na CIMVALPI…, que o contrato da CIMVALPI  se encerrou no meio de dezembro, E ela ficou como equipe de apoio pela GMP, até o dia 30 ou 31 de dezembro, durante 17 dias, dando apoio aos serviços que estavam em andamento, para que a gente pudesse terminar as atividades do ano”, esclareceu o depoente.

Por diversas vezes, Fábio Vieira afirmou ter dificuldades para responder aos questionamentos, alegando que os fatos aconteceram há muito tempo, utilizando. Foi, por exemplo, o caso da resposta à pergunta de Pedrinho Salete a respeito de obras de reforma executadas na rodoviária da cidade: “Deixa eu puxar pela memória aqui, porque isso já tem um tempo. Se não me engano, foi feita uma obra emergencial. Se não me engano, foi em fevereiro ou março de 2020. A gente teve uns problemas muito sérios aqui em Mariana e, se não me engano, a gente fez algumas atividades emergenciais lá na rodoviária, parte de telhado, forro, alguma coisa assim. Eu me lembro que foi feita uma intervenção lá”. Fábio disse que, “se não me engano, deve ter sido a [empresa] 3T” a responsável pelos serviços, mas utilizou novamente uma forma vaga de resposta, quando perguntado se havia autorizado o pagamento dos mesmos serviços à empresa Israel, em dezembro de 2020: “Eu acho que…, espera aí, deixa eu lembrar. Para a empresa Israel? Eu não sei te dizer, realmente eram muitas medições e eu não sei dizer”, afirmou Fábio.

Fábio disse que não tem conhecimento da possibilidade de devolução dos pagamentos indevidamente feitos à Israel. “Eu não tenho conhecimento desse fato, porque eu não fazia as medições. Que foram pagos serviços que não foram feitos, isso eu desconheço”, afirmou, e também negou ter havido “autorização expressa” para que fossem feitas alterações nas planilhas de medição. Entretanto, considerou normal o pagamento de serviços executados e não constantes na planilha original da ata de serviços, como serviços “similares”. “O que o pessoal tinha que fazer era adequar o serviço aos itens existentes na planilha. Então, se você não tinha um item específico, por exemplo, eu tenho azulejo de 15[cm], mas tinha que fazer um azulejo de 20, você pagaria. É um serviço similar, né? Então pagaria com o item de azulejo de 15. Ou você tem que fazer um meio-fio moldado in loco, mas você só tem o preço do meio-fio pré-moldado. Então você pode pagar como meio-fio pré-moldado. Coisas pequenas e que tenham a mesma conotação de serviço, o mesmo objetivo final, a gente às vezes fazia isso para cumprir os prazos. Então, quando você tem serviços similares, você pode pagar com um item similar”, informou o ex-secretário, reafirmando que “não teve nenhuma orientação, mas em obras de reforma, esses itens, essas coisas que são pequenas, costuma ser acertado na obra mesmo”.

Por diversas vezes o depoente repetiu que a responsabilidade pelas medições era dos fiscais, chefiados pelo engenheiro Sebastião, já que “eles eram RT’s [Responsáveis Técnicos] de fiscalização e medição”, cabendo ao Secretário de Obras assinar e encaminhar para pagamento, depois que as planilhas passassem pelo controle interno, a cargo de Rosilene.

Perguntado a respeito de uma declaração do engenheiro Eustáquio, em depoimento já realizado na CPI, sobre ter autorizado o pagamento total da reforma da escola em Magalhães, com posterior estorno dos valores referentes aos serviços não executados, Fábio Vieira disse que não se recordava e que não esteve no local da obra: “Eu não me lembro desse fato. Eu não lembro de ter autorizado nenhuma medição, porque a responsabilidade era dos fiscais, [de] fazer a medição. Eu, inclusive, nem conheço a obra de Magalhães, não estive lá. E existia uma equipe de fiscalização responsável por isso, né? Sinceramente não me lembro de ter autorizado isso não. Não me lembro”. Também negou ter conhecimento de um relatório referente às medições indevidas na obra da Capela Velório de Furquim, encaminhado pelo fiscal Marcos Cardoso, sem que o secretário tomasse qualquer providência. “Não, não me lembro desse relatório. Sinceramente não me lembro de ter visto esse relatório não”, afirmou Fábio.

A própria [empresa] Israel reconhece irregularidades no recebimento e se dispôs a estornar. Isso é normal?”, questionou José Sales (PDT), relator da CPI. “Não, não é normal não. Mas, se houve o erro, é passível de correção”, respondeu o depoente..

José Sales pediu a opinião de Fábio Vieira a respeito da legalidade dessa construção ter sido contratada em uma ata que previa apenas serviços de reforma e manutenção, Fábio disse que já havia a previsão dessa obra quando foi feita a adesão à ata de preços, ressaltando a diferença entre a ata e o contrato decorrente dela: “Eu creio que [era legal] sim. Inclusive, uma das obras que estavam previstas inicialmente pra ser executada dentro desse contrato… Não é uma ata, é um contrato, né? A adesão da ata gerou um contrato. E dentro desse contrato a Capela de Furquim estava prevista”. Entretanto, questionado pelo vereador Marcelo Macedo, a respeito do depoente ter sido o autor da declaração de vantajosidade da adesão à ata, sem mencionar a possibilidade de execução de obras novas, Fábio disse que desconhecia o motivo pelo qual a obra em Furquim não tinha sido incluída. “Essa adesão de ata, originalmente, se não me engano, quando foi pedida (a análise da) vantajosidade, ela estava prevendo aí fazer umas obras de pavimentação, a capela de Furquim e seria até, talvez, usada para terminar o Centro Administrativo. Então, nós usamos porque, quando foi feita a vantajosidade, estava-se prevendo a capela de Furquim. Então eu não sei dizer porque que o objeto não prevê isso aí. Mas, na realidade, isso aí não é uma ata. Eu entendo que é um contrato”.

José Sales e Marcelo Macedo insistiram na questão de somente constar a assinatura do secretário de obras e do chefe da fiscalização em algumas medições, Fábio repetiu a resposta relativa à responsabilidade dos demais integrantes da equipe. “Se o fiscal não assinasse, eu assinaria em cima da assinatura do Sebastião, que era o responsável pela fiscalização, né? Inclusive, quando tinha algum problema, alguma coisa que [o fiscal] tinha que resolver, era sempre com o Sebastião. Como ele era o chefe da fiscalização, eu assinava em cima da assinatura dele”, afirmou Fábio, mesmo diante da leitura, feita por Macedo, da portaria que nomeou o Secretário de Obras como gestor do contrato da Israel, atribuindo a ele competências como “exercer o acompanhamento e a fiscalização da execução contratual, devendo informar à administração sobre eventuais vícios, irregularidades ou baixa qualidade dos serviços prestados pela contratada; propor as soluções e as sanções que entender cabíveis para regularização das faltas e defeitos observados; ter total conhecimento do contrato e suas cláusulas. (…) Conferir os dados das faturas antes de atestá-las, promovendo as correções devidas, arquivando cópia junto aos demais documentos pertinentes”. 

Depois de respostas evasivas de Fábio Vieira a várias perguntas, alegando não se lembrar de detalhes de obras e de ser necessária a verificação das memórias de cálculo das planilhas, Marcelo Macedo solicitou ao presidente da comissão a interrupção do depoimento, fazendo um apelo para que o depoente tentasse obter, junto ao atual Secretário de Obras, o envio dessa documentação até o final do intervalo para o almoço.

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Intervenção do vereador Ronaldo Bento

Participando, pela primeira vez, de uma oitiva da CPI, o vereador Ronaldo Bento (PSB), Presidente da Câmara, pediu autorização para fazer uma intervenção e fez duras críticas à administração municipal anterior e à atuação do ex-secretário, bem como de suas declarações à CPI, relativas à possibilidade de correção de erros eventualmente cometidos. Lembrando que o representante da empresa Israel confessou, em depoimento, ter recebido por serviços não executados, o vereador usou termos fortes para demonstrar sua insatisfação. “Uma palavra que eu vejo, que caberia em cima dessa declaração sua, seria prevaricação, corrupção ativa e corrupção passiva. A empresa chegou aqui e falou que houve a outorga de Vossa Excelência para tudo que foi feito de ilegalidade no governo municipal. A princípio, quando foi proposta a CPI, eu acreditava muito no governo, que não teria esse descalabro que foi feito e está sendo hoje, aqui pontuado. E hoje eu falo, com muito respeito, o respeito que eu tenho ao ex-prefeito, eu não tive orgulho de fazer parte daquela gestão“, afirmou Ronaldo Bento.

Durante a oitiva de Fábio Vieira, o vereador Ronaldo Bento, Presidente da Câmara de Mariana, atribuiu ao depoente a responsabilidade pelas irregularidades nos contratos de obras - Foto: Reprodução - Facebook/CMM

Revelando seu sentimento de tristeza com tudo que está acontecendo, Ronaldo declarou ao depoente que todos os erros seriam suportados pelos ombros do ex-secretário, manifestando sua esperança que o indiciamento do intimado seja deferido ao final do depoimento. “Toda a responsabilidade será debruçada sobre seus ombros. Aqui em Mariana, o senhor deixou um legado de corrupção, ou deixou, pelo menos, que se alastrasse. Isso é muito triste para Mariana. Espero que o senhor saia daqui indiciado para responder ao Ministério Público da nossa cidade. Se eu fosse o senhor, com o devido respeito, não teria coragem de andar pelas ruas de Mariana, se isso aqui, que vieram falar do senhor, prevalecer como verdade”, finalizou o vereador.

Continuação do depoimento de Fábio Vieira

“Eu tenho uma memória muito limitada, bem fraquinha”. Este foi o argumento utilizado por Fábio Vieira para se esquivar das perguntas feitas a ele na tarde de quinta-feira (05), sobretudo quando solicitado que nomeasse outros responsáveis pelas irregularidades constatadas pela CPI. Apesar disso, o ex-secretário revelou que algumas obras da GMP começaram antes da vigência do contrato, ou seja, antes mesmo de saber se seria a vencedora do processo licitatório. “A empresa assumiu o risco”, disse Fábio, que também afirmou que “acha” que autorizou, verbalmente,o início das obras de talude, devido ao caráter emergencial da intervenção. Após reforço na pergunta, o ex-secretário disse que não se lembra quem autorizou, pois “isso tem muito tempo”

O ex-secretário de obras de Mariana admitiu que ele mesmo realizou a primeira medição da GMP e autorizou o pagamento, sem assinatura de nenhum fiscal. A medição foi paga em apenas 21 dias e constam mais de R$300 mil pagos em mão de obra de engenheiros no período. “Pediram para eu adiantar, aí pagamos”. “Quem pediu para adiantar a medição?”, perguntou Manoel Douglas. Fábio então disse não saber quem pediu para que a medição fosse paga em tempo incomum e nem de onde surgiu a informação de que os recursos estavam disponíveis. “Eu não lembro quem, nós estamos falando de coisas de sete meses atrás”. A medição da GMP não tem assinatura de nenhum engenheiro fiscal da prefeitura. Assim, Fábio figuraria tanto na posição de fiscal quanto de ordenador de despesas do contrato. “Sim, eu assinei sozinho. Neste caso, eu que tinha a memória de cálculo e eu mesmo fiz as medições”, revelou o ex-secretário, que também defendeu que “a medição foi normal”

 

Mais à frente, sobre outras irregularidades constatadas no contrato 447/2019, para o qual Fábio Vieira foi nomeado fiscal e também era gestor, o ex-secretário se eximiu da responsabilidade de fiscalização, afirmando que não ia às obras e que, portanto, isso era uma responsabilidade dos fiscais, subordinados a ele. “A gente precisa definir quem é o fiscal de contrato e quem é o fiscal de obra. Eu era o fiscal do contrato, não sou o fiscal de obra. É humanamente impossível que o Fábio seja o fiscal das obras, com todas as atribuições. O meu papel na Secretaria de Obras é o papel de gestor. Eu não consigo ser o operacional de nada, porque senão, não faço nem um, nem outro. Eu não fiz as medições.”

O ex-secretário também não assumiu a responsabilidade sobre as dificuldades de se fiscalizar as obras da construtora Israel apontadas nos depoimentos dos fiscais de obras da prefeitura. “As medições eram realizadas pelos fiscais junto com a empresa. Aí passavam para a Rosilene fazer os lançamentos necessários, processava a medição e ela ia ser paga. Eu não participava do processo de medição.” Fábio não soube responder quem modificava as medições e negou que tenha agido alguma vez em benefício da construtora.

Quem é Fábio Fernandes Vieira

Engenheiro Civil, Fábio Fernandes Vieira foi nomeado Secretário de Obras e Planejamento Urbano em 2017, pelo então Prefeito Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior (Du), conforme o Decreto nº 120, de 01/06/2017 – Edição nº 475 do Diário Oficial do Município de Mariana, publicado em 07/06/2017. No dia anterior, no site oficial da Prefeitura de Mariana, foi anunciada a nomeação, em substituição ao engenheiro Nilton Lucena. “O responsável pela pasta agora é Fábio Fernandes Vieira, de 57 anos. Graduado em engenharia civil, é de família marianense, envolvido em projetos em Mariana, e vem da iniciativa privada. Mesmo sem ter atuado na pasta anteriormente, Fábio possui experiência com gerenciamento de obras para a Prefeitura de Belo Horizonte. Ele substitui Nilton Cézar Lucena, que esteve à frente da pasta por cinco meses. O prefeito agradeceu a dedicação e comprometimento de Nilton com a atual administração municipal, colocando em prática ações que contribuíram para o bem da população”, informava a nota.

Em seu depoimento nesta quinta-feira (05), Fábio Vieira informou que o convite partiu do então vice-prefeito (2017/2020), Newton Godoy, com quem tinha trabalhado, por aproximadamente cinco anos, na empresa PREMO.

Ao final da administração anterior, Fábio Vieira foi exonerado pelo Decreto nº 769, de 21/12/2020 – Edição nº 1544 do Diário Oficial do Município de Mariana, publicado em 31/12/2020, com vigência no mesmo dia da publicação.

Posteriormente, após a posse do Prefeito Interino, Juliano Duarte, foi novamente nomeado para o mesmo cargo, conforme Decreto nº 017, de 04/01/2021 – Edição nº 1554 do Diário Oficial do Município de Mariana, publicado em 11/01/2020, tendo permanecido no cargo até a publicação, no dia 01/02/2021, do Decreto nº 041, de 25/01/2021 – Edição nº 1578 do Diário Oficial do Município de Mariana, sendo substituído pelo engenheiro André Lima Belico que, recentemente, solicitou exoneração do cargo, cujo atual ocupante é o engenheiro Newton Godoy.

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Representantes da CIMVALPI se isentam de responsabilidades em oitiva

Na última quarta-feira(4), foram ouvidos pela comissão CIMVALPI, Silvério Joaquim Aparecido da Luz e José Adalberto de Rezende, que declararam não ter responsabilidade sobre eventuais desvios das funções declaradas em processo seletivo que contratou os fiscais para atuar, entre 2019 e 2020, no acompanhamento e aprovação dos projetos relacionados aos reassentamentos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.

Os representantes afirmaram que no contrato entre a Prefeitura de Mariana e a CIMVALPI, os recursos vieram da Fundação Renova e foram geridos pela Prefeitura. Assim, o consórcio participou apenas como um intermediário entre as partes.

Entretanto, o vereador Marcelo Macedo lembrou do depoimento de Carlos, funcionário efetivo da prefeitura e fiscal do contrato da CIMVALPI. Carlos afirmou em seu depoimento que o seu nome foi colocado como fiscal sem sua anuência, de forma que ele desconhecia ser o fiscal do contrato. Tal fato levou o vereador a concluir que o contrato não foi de fato fiscalizado, em prejuízo da transparência.

Vereador pede indiciamento de testemunha

Ainda na quarta, por solicitação do vereador Marcelo Macedo, a servidora Camila de Lélis Pessoa foi convocada novamente para depor na CPI. Marcelo questionou seguidas vezes sobre uma possível irregularidade funcional de Camila. A engenheira teria trabalhado ao mesmo tempo na GMP e na Prefeitura de Mariana. Segundo o vereador, as funções seriam incompatíveis, já que a GMP presta serviços de reforma e construção para a Prefeitura de Mariana. Camila admitiu ter trabalhado na GMP entre janeiro e março deste ano, afirmando que, no período, prestou serviços pontuais para a Prefeitura de Mariana.

Procurador Jurídico da Câmara, Cor Jesu Quirino, orienta o Presidente da CPI a respeito do pedido de indiciamento da depoente Camila Pessoa - Foto: Reprodução - Facebook/CMM

Marcelo Macedo indagou sobre os motivos da testemunha ter prestado o serviço e questionou se teriam sido realizados de forma voluntária, mas Camila se limitou a dizer que, por ter vasto conhecimento em algumas áreas da administração municipal, achou por bem orientar e ajudar na capacitação de ex-colegas. Macedo, porém, não acreditou na resposta da testemunha, que para ele não tinha motivos para prestar um trabalho voluntário para a Secretaria de Obras e, após diversos questionamentos sem uma resposta considerada satisfatória, resolveu pedir o indiciamento de Camila por mentir diante da CPI. O presidente da comissão, Pedrinho Salete, solicitou um parecer oral sobre a situação da testemunha ao procurador da casa, Cor Jesu Quirino Filho. Em seu parecer, Cor Jesu afirmou que, caso fosse acatado o pedido de indiciamento, caberia ao Ministério Público prosseguir com a investigação, não cabendo mais à comissão inquirir a testemunha. O pedido de indiciamento, entretanto, não foi aceito pelo presidente da CPI. “Baseado na responsabilidade de [que] prestar falso depoimento pode configurar crime de falso testemunho, eu indefiro, por ora, o pedido do vereador Marcelo Macedo”, declarou Pedrinho Salete.